Resenha da obra "Cântico", de Ayn Rand

“O Cântico” é uma obra da escritora e filósofa russo-americana Ayn Rand, publicada pela primeira vez em 1938, nos Estados Unidos. Este livro pode ser considerado uma representação inicial das ideias que Rand desenvolveria mais tarde no seu sistema filosófico, o Objetivismo.

Ayn Rand, cujo nome de nascença é Alisa Zinov’yevna Rosenbaum, nasceu em São Petersburgo, Rússia, em 1905. Ela fugiu da Revolução Russa e se estabeleceu nos Estados Unidos, onde estudou na Universidade Estatal de São Petersburgo antes de se tornar uma roteirista e escritora. Rand é mais conhecida por suas obras “A Nascente” e “A Revolta de Atlas”, que também exploram temas de individualismo e objetivismo.

“O Cântico” se passa em um futuro distópico em que a individualidade foi exterminada em nome de um coletivismo extremo. A sociedade retratada por Rand é uma em que palavras como “eu” e “individual” foram eliminadas da linguagem, e todas as pessoas se referem a si mesmas como “nós”. Este aspecto guarda algumas conexões com a forma de proceder do “Ministério da Verdade” e das diretrizes da “Novilíngua” inseridas por Orwell em sua obra distópica “1984”.

A história acompanha o protagonista, Prometeu, que começa a questionar e eventualmente rejeitar os fundamentos dessa sociedade. Rand usa essa narrativa para explorar temas de liberdade individual e a importância do ego. O livro é uma poderosa crítica aos regimes totalitários e coletivistas, refletindo a experiência pessoal da autora com o regime soviético e sua defesa apaixonada do capitalismo de livre mercado e dos direitos individuais.

A obra começa retratando uma sociedade opressiva na qual a coletividade é levada ao extremo, eliminando qualquer vestígio de individualidade. As pessoas são numeradas e vivem sob um regime que regula cada aspecto de suas vidas. Esta sociedade é uma alegoria clara aos regimes totalitários do século XX, especialmente o comunismo soviético, que Rand testemunhou em sua juventude.

O livro mostra como a supressão do “eu” leva à estagnação e à opressão. Em contraste, Prometeu, o protagonista, simboliza a chama da individualidade e da liberdade, que é fundamental para o progresso humano.

A Descoberta da Individualidade e da Liberdade

Prometeu encontra um túnel antigo e redescobre a eletricidade, uma metáfora poderosa para o conhecimento e a iluminação que o individualismo pode trazer. Esta descoberta é um ponto crucial na narrativa, representando a capacidade humana de criar quando não é sufocada pelo coletivismo. Esta parte da história exemplifica como a liberdade individual é essencial para o desenvolvimento científico e tecnológico. A centralização do poder e o controle total do Estado sobre o indivíduo são apresentados como obstáculos ao progresso.

Prometeu, eventualmente, foge para a floresta, onde começa a se referir a si mesmo como “eu”. Este é um momento catártico na narrativa, simbolizando a emancipação do indivíduo das correntes do coletivismo. Ele renomeia a si mesmo e a sua amada, Gaéa, um ato de reivindicação de sua própria identidade e do direito de nomear e definir sua própria existência.

Aqui, Rand sublinha a importância da liberdade pessoal e da autonomia. A descoberta do “eu” é uma metáfora para a realização da individualidade plena, um conceito central nas filosofias liberais e libertárias. A história argumenta que apenas através da valorização do indivíduo e de seus direitos pode-se alcançar uma sociedade verdadeiramente próspera e livre.

No final do livro, Prometeu vislumbra a criação de uma nova sociedade baseada nos princípios de liberdade individual e propriedade privada. Ele vê a si mesmo como um novo Adão, construindo um mundo onde a palavra “eu” é sagrada e onde a individualidade é respeitada e protegida.

Este final ressoa fortemente com os ideais libertários de uma sociedade em que o governo é limitado e o livre mercado predomina. Rand sugere que o caminho para a verdadeira liberdade e prosperidade está na rejeição do coletivismo e na adoção de uma filosofia que valoriza o indivíduo acima de tudo.

A Reflexão Filosófica sobre a Individualidade

“O Cântico”, de Ayn Rand, é uma obra que convida o leitor a realizar uma reflexão filosófica sobre a importância da individualidade e da liberdade. O livro é uma crítica poderosa aos perigos do coletivismo e uma defesa vigorosa dos direitos individuais e do capitalismo de livre mercado. A história de Prometeu é uma inspiração para aqueles que acreditam no poder do “eu” e na capacidade humana de criar quando liberados das restrições opressivas de um Estado coletivista.

André Paris

Palestrante, Consultor em Governança e Inteligência Artificial, Privacidade de Dados e Compliance. Entusiasta da busca por um ambiente de negócios mais ético e transparente.

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