
Bruno Garschagen, advogado, cientista político e mestre em Ciência Política pela Universidade de Lisboa, tornou-se uma das vozes relevantes no cenário brasileiro contemporâneo ao criticar, de forma contundente, os privilégios que marcam as instituições e a sociedade do país. Com uma trajetória que mescla vivência acadêmica e engajamento público, Garschagen publicou “Direitos Máximos, Deveres Mínimos” em 2016, uma obra que se insere no debate político e filosófico sobre as raízes do atraso institucional brasileiro.
Publicado no Brasil, o livro é uma análise crítica que aponta como a cultura do privilégio permeia as instituições e as relações sociais do país, favorecendo uma lógica de direitos excessivos concedidos a uma elite – política, econômica e burocrática – enquanto a maioria da população é relegada ao papel de sustentá-los. Em sua essência, a obra reflete a formação histórica do Brasil, marcada por um modelo extrativista e paternalista, herdado desde os tempos coloniais.
O livro divide-se em capítulos organizados de forma didática. Em cada um, Garschagen aborda diferentes aspectos do fenômeno que ele chama de “festival de privilégios”, desenhando um panorama abrangente que conecta história, política, economia e cultura.
Logo no início, o autor apresenta sua tese central: a de que o Brasil está aprisionado em uma dinâmica perversa, na qual grupos de interesse estruturam as instituições para garantir vantagens pessoais, sempre sob a retórica de “serviço ao público”. Ele destaca o papel do Estado como o grande garantidor desses privilégios, enquanto os deveres que deveriam contrabalançar esses direitos são minimizados, especialmente entre as classes dominantes.
No capítulo inicial, Garschagen faz uma análise histórica que remonta ao período colonial, destacando como a economia de plantation e a centralização do poder moldaram a cultura política brasileira. Nesse contexto, o autor explora a herança ibérica, marcada por autoritarismo, e a influência do patrimonialismo como base do comportamento político.
Análise das Instituições Contemporâneas
Nos capítulos intermediários, o livro avança para uma crítica mais profunda das instituições contemporâneas. Garschagen examina o Poder Judiciário, o Legislativo e o Executivo, revelando como privilégios inaceitáveis são institucionalizados em salários exorbitantes, benefícios exclusivos e na perpetuação de uma burocracia cara e ineficiente.
Um dos pontos mais instigantes levantados pelo autor é o contraste entre o cidadão comum e os detentores de poder. Enquanto a elite política e burocrática usufrui de direitos que beiram o absurdo – como aposentadorias especiais e imunidade a diversas regras que atingem a população em geral –, o trabalhador médio enfrenta um sistema altamente tributário e regulador, o que limita sua liberdade e capacidade de prosperar.
O autor é particularmente enfático ao criticar a legislação trabalhista brasileira. Ele argumenta que, ao invés de proteger o trabalhador, o arcabouço legal serve como ferramenta de controle estatal, enquanto protege corporações que não necessariamente geram eficiência ou valor econômico.
A Cultura do Privilégio na Sociedade
Nos capítulos finais, Garschagen desvia o olhar do Estado para a sociedade, destacando como a cultura do privilégio não se restringe às elites, mas permeia a mentalidade de grande parte da população. Ele critica a “cultura de direitos“, por meio da qual se exige cada vez mais do Estado sem que haja uma contrapartida em deveres e responsabilidades. Esse comportamento, na visão do autor, é reflexo de uma educação que falha em promover o pensamento crítico e incentiva a dependência.
Garschagen aponta que essa mentalidade dificulta a construção de uma sociedade verdadeiramente liberal, na qual o indivíduo é responsável por seu destino. Ele argumenta que, ao invés de incentivar a liberdade econômica e pessoal, o Estado brasileiro mantém a população em um ciclo de dependência, reforçando a ideia de que o sucesso depende da intervenção estatal.
A leitura da presente obra é especialmente relevante para quem deseja compreender as bases dos problemas que afetam o Brasil e está disposto a questionar as soluções tradicionais, muitas vezes enraizadas na ampliação do poder estatal. Garschagen não apenas descreve o problema, mas também instiga o leitor a refletir sobre seu papel em uma sociedade que parece mais disposta a exigir do que a contribuir.
Ao fim, a obra reafirma a importância de uma mudança cultural que promova menos direitos concedidos pelo Estado e mais deveres assumidos pelos indivíduos – um caminho que, embora desafiador, parece ser a única saída sustentável para um país tão marcado por desigualdades e privilégios históricos.