Resenha da obra "Governo e Mercado" de Murray Rothbard

Murray Newton Rothbard (1926–1995) foi um economista estadunidense da Escola Austríaca, historiador econômico, teórico político e ativista. Rothbard foi uma figura central no movimento libertário americano do século XX, particularmente em suas vertentes de direita, e foi um dos fundadores e principais teóricos do anarcocapitalismo (como denominado por Rothbard, mas que mais tarde se opôs ao rótulo de “anarquismo” por motivos etimológicos e históricos). Ele escreveu mais de vinte livros sobre teoria política, história, economia e outros assuntos. Rothbard argumentou que todos os serviços fornecidos pelo “sistema de monopólio do Estado corporativo” poderiam ser fornecidos de forma mais eficiente pelo setor privado e escreveu que o Estado é “a organização do roubo sistematizada e em grande escala”. Ele chamou o sistema bancário de reservas fracionárias de uma forma de fraude e se opôs ao banco central. Também se opôs categoricamente a todo intervencionismo militar, político e econômico nos assuntos de outras nações.

Man, Economy, and State: A Treatise on Economic Principles é um livro publicado em 1962 por Murray Rothbard. Originalmente, foi concebido como uma forma de livro-texto de Ação Humana (1949), de Ludwig von Mises, mas tornou-se seu próprio tratado depois que ele percebeu que era necessário um trabalho original para dar corpo às ideias de Mises.

O livro Power and Market: Government and the Economy foi originalmente escrito como o terceiro volume de Man, Economy, and State, mas foi publicado separadamente oito anos depois. Ele foi reunido com a quarta edição de Man, Economy, and State em 2004 no volume subtitulado The Scholar ‘s Edition, do Ludwig von Mises Instituto. Em 2012, o Instituto Mises traduziu Power and Market e o publicou sob o título “Governo e Mercado: a economia da intervenção estatal”.

A Obra de Murray Rothbard e a Crítica ao Estado

O livro de Murray Newton Rothbard é uma obra fundamental dentro da tradição da Escola Austríaca de Economia, abordando de maneira crítica o papel do Estado na economia e os efeitos da intervenção governamental sobre os mercados, argumentando que o Estado é desnecessário e, até mesmo, inútil. Rothbard, um dos mais influentes economistas libertários do século XX, desenvolve uma análise detalhada sobre como a ação estatal distorce os mecanismos naturais de mercado, gerando ineficiências e comprometendo o desenvolvimento econômico sustentável.

A obra parte do princípio de que o mercado, quando deixado livre para operar sem interferências externas, tende a alcançar um equilíbrio eficiente, onde os agentes econômicos tomam decisões racionais baseadas em incentivos e informações disponíveis. No entanto, Rothbard argumenta que a intervenção estatal, seja por meio de regulamentações, subsídios ou políticas monetárias, inevitavelmente leva a distorções que prejudicam esse equilíbrio. Ele critica especialmente a ideia de que o governo pode corrigir falhas de mercado, sustentando que muitas dessas falhas são, na verdade, criadas ou exacerbadas pela própria ação estatal.

Análise da Tributação e do Gasto Público

Um dos pontos centrais do livro é a análise da tributação e do gasto público. Rothbard sustenta que os impostos representam uma forma de coerção, retirando recursos dos indivíduos e das empresas para financiar atividades governamentais que, muitas vezes, não correspondem às reais necessidades da sociedade. Ele argumenta que o governo, ao se apropriar de parte da riqueza gerada pelo setor privado, reduz os incentivos à produção e à inovação, criando um ambiente menos dinâmico e competitivo. Além disso, critica o conceito de bens públicos, afirmando que muitos serviços tradicionalmente fornecidos pelo Estado poderiam ser mais eficientes se fossem ofertados por empresas privadas em um ambiente de livre concorrência.

Outro aspecto relevante da obra é a crítica às políticas monetárias conduzidas pelos bancos centrais. Rothbard defende que a manipulação da oferta de moeda e das taxas de juros pelo governo gera ciclos econômicos artificiais, caracterizados por períodos de expansão seguidos de crises e recessões. Ele argumenta que a inflação, frequentemente utilizada como ferramenta para estimular a economia, na verdade representa uma forma de expropriação do poder de compra dos cidadãos, beneficiando grupos específicos em detrimento da maioria da população. Sua defesa do padrão-ouro como alternativa ao sistema monetário baseado em moeda fiduciária reflete sua crença na necessidade de um sistema financeiro mais estável e menos suscetível a manipulações políticas.

Críticas e Controvérsias da Visão de Rothbard

Apesar da profundidade da análise apresentada por Rothbard, sua visão sobre o papel do Estado na economia não está isenta de críticas. Alguns economistas argumentam que sua abordagem é excessivamente dogmática, ignorando situações em que a intervenção governamental pode ser necessária para corrigir falhas de mercado genuínas, como externalidades negativas e monopólios naturais. Além disso, sua defesa de um mercado completamente livre desconsidera desafios práticos relacionados à desigualdade econômica e à proteção de grupos vulneráveis. A ausência de mecanismos institucionais para garantir a equidade e a justiça social é um dos pontos mais controversos de sua teoria, levando críticos a questionarem a viabilidade de um sistema econômico totalmente desregulado.Em suma, Governo e Mercado é uma obra essencial para aqueles que desejam compreender a perspectiva libertária sobre economia e política pública. Rothbard apresenta uma argumentação sólida e bem fundamentada contra a intervenção estatal, destacando os benefícios de um mercado livre e competitivo. No entanto, sua visão radical sobre o papel do governo na economia levanta questões importantes sobre a necessidade de um equilíbrio entre liberdade econômica e proteção social. A leitura crítica do livro permite uma reflexão aprofundada sobre os limites e desafios do liberalismo econômico, contribuindo para o debate sobre o papel do Estado na sociedade contemporânea.

Gustavo Neris

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã