Resenha da obra "Livre para Escolher", de Milton Friedman

Milton Friedman destaca-se como um dos maiores economistas norte-americanos do século XX, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia por suas contribuições nas áreas de análise do consumo, teoria monetária e história, além de elucidar a complexidade da política de estabilização. Autor de obras memoráveis, como “Capitalismo e Liberdade” (1976) e “Livre para Escolher” (1980), escrito em parceria com sua esposa, a economista e professora Rose Friedman da Universidade de Chicago.

No livro “Livre para Escolher”, o casal Friedman discute as desvantagens da interferência estatal na vida das pessoas. Para introduzir essa teoria de maneira clara, eles retomam os conceitos previamente definidos por Adam Smith acerca da formação dos preços. De acordo com a teoria do livre mercado, na qual não há intervenção governamental, o mercado se ajusta naturalmente e a informação é disseminada de acordo com a demanda de produtos ao longo da cadeia produtiva. Sob esse sistema, a ponta da cadeia frequentemente não compreende os motivos por trás das flutuações na demanda, mas sente os impactos de forma fluída. No entanto, essa fluidez é dificultada se o Estado tentar controlar os preços, seja essa ação impraticável ou, na melhor das hipóteses, ineficaz.

Segundo Friedman, o governo é a principal fonte de interferência no sistema de economia de mercado, age por meio de diferentes frentes, como restrições e tarifas no comércio internacional, afeta salários, preços, adota medidas internas, regula setores específicos e atua com política monetária e fiscal.

Merece destaque uma análise das tarifas aplicadas ao comércio internacional. Sob a pretensa intenção de “proteger” o mercado interno, opta-se por impedir possíveis investimentos estrangeiros, o que pode prejudicar a competitividade e produtividade da indústria nacional.

Ainda sobre o comércio internacional, ainda que o assunto seja uma outra ótica totalmente à parte, é valido estabelecer um paralelo com o cenário atual do Brasil, na qual grandes varejistas e políticos acordam a taxação de produtos importados, como as populares “comprinhas da China”. No entanto, não seria mais adequado reduzir taxas e impostos para todos os produtos? Parece que não. Mais uma vez, a busca por arrecadação fiscal do governo supera o interesse coletivo.

Diante das várias possibilidades de intervenção estatal, recorre-se aos conceitos de Smith para definir o papel do Estado em um sistema de liberdade natural: proteger a sociedade contra violência e invasões, salvaguardar os indivíduos contra injustiças e opressões de outros membros, bem como criar e manter instituições públicas que não seriam sustentadas ou criadas por indivíduos ou pequenos grupos. No entanto, essa última esfera de atuação estatal é frequentemente alvo de críticas devido à interpretação que pode justificar uma expansão ilimitada do poder estatal.

Nos Estados Unidos, o exemplo do Sistema de Reserva Federal (FED) demonstra como a interferência do governo pode prejudicar a economia. Embora concebido para evitar crises bancárias e facilitar o comércio, o FED ganhou poder e começou a influenciar a estrutura monetária global. Contrariando as expectativas, o FED permitiu a queda da quantidade de moeda disponível durante a crise de 1929, agravando a situação. Posteriormente, cometeu o erro oposto: fomentou o crescimento rápido com a injeção de moedas, provocando inflação.

No pós-guerra, a conjuntura política nos Estados Unidos favoreceu o aumento do poder e influência estatal. Duas noções equivocadas ganharam força: a crise de 1929 aparentemente comprovou as deficiências do capitalismo e a guerra parecia confirmar a eficiência do governo centralizado. Na segunda metade do século XX, programas sociais nas áreas de saúde, educação e bem-estar social ganharam espaço e tiveram aumento significativo de recursos alocados.

Grande parte das críticas à interferência estatal em programas sociais e na economia origina-se da compulsoriedade. Cerca de 40% da renda média é destinada ao Estado. A educação também foi estatizada, de forma que mesmo famílias que optam por escolas particulares, representando menos de 10% dos estudantes nos EUA, contribuem com impostos que financiam a educação pública. Isso implica um pagamento em duplicidade pelo mesmo serviço. Famílias de baixa renda frequentemente não têm essa escolha, sendo obrigadas a pagar impostos e matricular seus filhos em escolas públicas sob a gestão governamental.

A educação exemplifica como a intervenção estatal limita a liberdade individual. No entanto, outros exemplos na saúde, seguridade social e assistência social também revelam como a crescente burocracia e interferência estatal reduzem a eficiência sem gerar resultados proporcionais aos custos.De forma geral, a obra de Friedman é eficaz em descrever exemplos da economia na qual intervenção estatal aumentou. Contudo, esses exemplos frequentemente se restringem ao contexto norte-americano, deixando de explorar casos merecedores de estudo, como a separação da Alemanha pós-guerra, as comparações entre as Coreias, os sistemas em Cuba e outras nações, especialmente na América Latina.

Elimar Fardin Lorenzon

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã