Resenha da obra "O que se vê e o que não se vê" de Frédéric Bastiat

Frédéric Bastiat (1801-1850) foi um economista, político e escritor francês. Defensor do liberalismo econômico, Bastiat enfrentou debates intensos em um período marcado por protecionismo e intervenções estatais na economia. Seu trabalho, ancorado no princípios como liberdade individual, livre mercado e responsabilidade, o consagrou como um dos grandes pensadores do século XIX.

Publicado em 1850, pouco antes de sua morte, a obra “O que se vê e o que não se vê” é um ensaio que busca demonstrar como análises econômicas superficiais levam a conclusões equivocadas sobre os benefícios de determinadas ações ou políticas implementadas pelos governantes.

O autor introduz a ideia de que, para compreender plenamente as consequências de qualquer evento ou política, é essencial considerar tanto os efeitos imediatos e visíveis quanto os efeitos indiretos e ocultos, que muitas vezes passam despercebidos. Essa distinção, aparentemente simples, tem implicações profundas para a formulação de políticas públicas e para o entendimento do funcionamento da economia.

A obra é iniciada com o célebre exemplo da vidraça quebrada, que se tornou um marco no pensamento econômico. Bastiat descreve uma situação em que um jovem quebra a vidraça de uma loja, e o proprietário é obrigado a pagar para consertá-la. À primeira vista, a destruição poderia ser julgada como “positiva” por alguns, afinal, gera trabalho para o vidraceiro. Contudo, Bastiat argumenta que esse raciocínio ignora o que não se vê: o dinheiro gasto no reparo da vidraça poderia ter sido utilizado para outros fins produtivos, como adquirir um par de sapatos ou investir em melhorias no negócio.

Portanto, ao redirecionar recursos para consertar o dano, o evento não gera riqueza adicional, mas apenas uma substituição de valores, anulando qualquer benefício real.

Análise das Políticas Econômicas

A partir desse exemplo inicial, Bastiat aplica sua análise a uma ampla gama de políticas econômicas. O autor critica os subsídios estatais, afirmando que eles beneficiam diretamente certos grupos, mas à custa de toda a sociedade, que arca com os custos por meio de impostos.

Neste ponto, Bastiat também questiona a redistribuição de recursos por meio da tributação. O autor aponta que, embora o gasto público seja visível em obras e serviços, o dinheiro retirado do contribuinte, e que poderia ter sido usado de outras formas, permanece oculto. Nesse sentido, enfatiza que a análise econômica deve levar em conta tanto os ganhos aparentes quanto as perdas invisíveis, evitando conclusões simplistas.

Outro ponto central da obra é a crítica às tarifas alfandegárias e ao protecionismo. Bastiat mostra como as barreiras comerciais podem proteger determinadas indústrias nacionais, mas prejudicam consumidores e outros setores produtivos. Ao elevar o preço de bens importados, o protecionismo reduz o poder de compra da população e distorce a alocação de recursos na economia. 

Um exemplo recorrente na obra é o das “indústrias protegidas”. Bastiat argumenta que proteger uma indústria por meio de tarifas alfandegárias pode beneficiar certos empresários, mas prejudica consumidores e outros setores da economia, ao elevar custos e distorcer o mercado. Assim, defende que o livre-comércio é a forma mais eficiente de alocar recursos, promovendo a prosperidade geral ao invés de beneficiar grupos específicos.

A obra também examina questões como emprego e redistribuição de renda. Bastiat argumenta que programas públicos destinados a criar empregos muitas vezes deslocam recursos de atividades mais produtivas, gerando ganhos aparentes em um setor à custa de perdas ocultas em outros. O autor critica o uso de impostos para financiar políticas redistributivas, pois o que se vê é o benefício para aqueles que recebem os recursos, mas o que não se vê são as oportunidades perdidas pelos indivíduos de quem o dinheiro foi extraído.

Relevância e Legado da Obra de Bastiat

Uma das características que contribuiu para tornar a obra popular é a forma como o autor combina lógica rigorosa com exemplos acessíveis e linguagem simples. Suas ideias são expostas de maneira clara e convincente, o que torna o texto relevante tanto para economistas quanto para leigos interessados em compreender os princípios básicos da economia.

Em suma, Bastiat nos provoca a olhar além do óbvio, a considerar os efeitos indiretos e a refletir sobre os custos de oportunidade. Sua mensagem é clara: para alcançar o verdadeiro progresso, é preciso compreender tanto o que se vê quanto o que não se vê.

A relevância da obra transcende seu contexto histórico. Bastiat oferece lições atemporais sobre a importância de considerar os custos de oportunidade e os efeitos de longo prazo das políticas públicas. Em um mundo no qual os governos frequentemente justificam suas ações com base em benefícios aparentes e imediatos, as advertências de Bastiat continuam a ressoar.

A obra reforça a visão de que mercados livres, baseados em interações voluntárias, são mais eficientes e justos do que sistemas que dependem da coerção e redistribuição. As ideias expostas influenciaram economistas posteriores, como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, e continuam a inspirar defensores do liberalismo em todo o mundo. O legado de Bastiat permanece vivo, iluminando os debates econômicos e sociais de nossa época e reafirmando a importância de escolhas conscientes e informadas.

Marina Zon Balbino

Colunista

Sócia e Advogada da SVMP Advogados, associada do Instituto Líderes do Amanhã

Sócia e Advogada da SVMP Advogados, associada do Instituto Líderes do Amanhã