Resenha da obra "Os Ungidos: A fantasia das políticas sociais dos progressistas" de Thomas Sowell

Thomas Sowell é um dos economistas e pensadores mais influentes do século XX e início do XXI. Autor de uma vasta obra que abrange desde economia até cultura e filosofia política, Sowell destaca-se por sua abordagem rigorosa e independente. Com uma trajetória que inclui formação em Harvard, Columbia e Universidade de Chicago, além de uma longa carreira no Instituto Hoover, Sowell é conhecido por desafiar narrativas convencionais e por explorar os impactos das políticas públicas na sociedade. Em Os Ungidos, ele analisa o papel da elite intelectual na formação de políticas e opiniões públicas, examinando como a visão “ungida” influencia o debate político e cultural.

Na obra, Sowell confronta a ideia de que os “ungidos”, que são aqueles que se consideram moral e intelectualmente superiores, detêm as respostas definitivas para problemas sociais complexos. O autor argumenta que essa visão frequentemente ignora dados empíricos e resultados práticos em favor de narrativas idealizadas. A obra é estruturada para demonstrar como a visão ungida se perpetua, mesmo diante de falhas evidentes em suas propostas, ao deslocar o foco dos resultados para as intenções declaradas.

O autor contrasta duas visões fundamentais sobre a sociedade e seus problemas: a visão trágica e a visão ungida. A visão trágica reconhece as limitações inerentes à condição humana, priorizando soluções práticas e baseadas em dados que se adaptem a essas restrições. Em oposição, a visão ungida aposta na capacidade de uma elite intelectual iluminada para identificar e implementar soluções ideais, fundamentadas em boas intenções e princípios morais, mesmo que os resultados práticos frequentemente se mostrem aquém do esperado.

Sowell critica a postura dos ungidos de avaliar políticas públicas com base nas intenções declaradas, em vez de nos resultados concretos. O autor aponta que, frequentemente, dados que contradizem suas propostas são ignorados, enquanto a narrativa de superioridade moral é mantida a qualquer custo. Como destaca o autor: “A evidência empírica é tratada como irrelevante se contradizer os objetivos declarados, pois o que importa é estar do lado certo da história.”

Politicas públicas analisadas por Sowell fracassaram por serem fundamentadas em narrativas idealistas, desconectadas da realidade. Ele cita programas de combate à pobreza, como a “Guerra contra a Pobreza” nos Estados Unidos, que, em vez de reduzir a pobreza, acabaram criando dependência de benefícios sociais. No campo educacional, o autor critica reformas que priorizaram abordagens teóricas, negligenciando métodos comprovados e resultando na queda da qualidade do ensino. Já no controle de armas, Sowell destaca que medidas desarmamentistas ignoraram evidências que demonstram sua ineficácia em reduzir a criminalidade, exemplificando como essas políticas frequentemente falham ao desconsiderar os dados em favor de intenções idealizadas.

O autor argumenta que a visão ungida rejeita com frequência a noção de responsabilidade individual, atribuindo falhas e problemas sociais a fatores estruturais, como desigualdade ou opressão sistêmica. Essa abordagem não apenas ignora a capacidade das pessoas de superar adversidades, mas também desestimula o empoderamento pessoal, perpetuando ciclos de dependência e reforçando a ideia de que soluções devem vir exclusivamente de intervenções externas.

Críticas à Visão dos Ungidos

Sowell critica duramente o monopólio da virtude reivindicado pelos ungidos, que se veem como os únicos detentores da moralidade e da verdade. Essa postura marginaliza e desqualifica qualquer um que questione suas premissas, criando um ambiente hostil ao debate. Adversários são frequentemente rotulados como moralmente inferiores ou retrógrados, o que impede discussões produtivas e favorece a imposição de narrativas ideológicas sem contestação.

Na obra, Sowell aponta que a visão ungida perpetua um ciclo de fracasso autossustentável, no qual políticas mal-sucedidas não levam à revisão de suas premissas, mas sim ao reforço ou criação de novos programas baseados nas mesmas ideias. Quando confrontados com os resultados negativos, os ungidos atribuem o fracasso à execução inadequada, nunca à falha intrínseca das propostas, garantindo assim a continuidade de abordagens ineficazes.

O autor destaca que a visão ungida vai além do campo intelectual, sendo amplificada por meios de comunicação, celebridades e figuras públicas que desempenham um papel central na formação da opinião pública. Esses agentes ajudam a sustentar narrativas ideológicas, promovendo a aceitação dessas ideias e silenciando vozes dissidentes, o que reforça a influência das elites sobre o discurso público e as decisões políticas.

Conclusões da Obra “Os Ungidos”

Os Ungidos é uma análise provocativa e abrangente sobre o papel das elites intelectuais e políticas na criação e perpetuação de políticas públicas. Sowell desafia os leitores a adotarem uma abordagem mais crítica, avaliando políticas não pelas intenções que as fundamentam, mas pelos resultados que produzem. Sua obra expõe as falhas da visão ungida ao mostrar como ela frequentemente ignora evidências e perpetua narrativas idealizadas, mesmo diante de fracassos evidentes, priorizando a manutenção de uma imagem moral superior em vez de resolver problemas reais.Com exemplos históricos e contemporâneos, Sowell demonstra como políticas em áreas cruciais, como combate à pobreza, educação e controle de armas, produziram consequências negativas não intencionais, alimentadas por uma recusa sistemática em revisar pressupostos ideológicos. Sua escrita clara e acessível faz de Os Ungidos uma leitura relevante para quem busca compreender os debates políticos e sociais de forma objetiva e baseada em evidências. O livro é um convite contundente à reflexão sobre os custos de decisões guiadas mais por ideologias e intenções do que por dados e resultados concretos.

Gabriela Moraes Oliveira

Colunista

Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Associada do Instituto Líderes do Amanhã