Editorial Rede Vitória

Tarifaço: o peso da conta chegou

O tarifaço dos EUA sobre exportações brasileiras expõe fragilidade diplomática e o café produzido no ES é um dos produtos afetados

Montagem Folha Vitória
Montagem Folha Vitória

Em dois dias, a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos dará um passo para trás. Na próxima quarta-feira, dia 6, o tarifaço imposto por Washington vai entrar em vigor, atingindo importantes setores da economia brasileira.

Embora diversas isenções tenham sido anunciadas na última semana, principalmente por conta de negociações conduzidas por setores empresariais, o fato é que pilares importantes de nossas exportações continuam na lista de taxados.

É o caso do café, por exemplo, de enorme impacto na economia capixaba, e que será sentido em cada elo da cadeia produtiva, do produtor rural ao exportador.

É preciso reconhecer que a diplomacia e o diálogo são construções de longo prazo, que exigem paciência e tato.

Olhando para o passado recente, percebe-se que o governo brasileiro cometeu erros sim e que, agora, cobram seu preço.

O apoio público do presidente Lula à então adversária de Donald Trump, Kamala Harris, durante as eleições americanas, pode ter sido um ponto de inflexão.

Da mesma forma, após a eleição de Trump, o governo não fez um esforço para estabelecer um canal de diálogo direto com a nova administração americana, o que poderia ter ajudado a mitigar as tensões atuais.

Vale lembrar, que as exportações brasileiras já tinham sido taxadas em 10%, a menor tarifa dentro da política comercial de Donald Trump, focada em acordos bilaterais e na imposição de tarifas elevadas.

Lula e o PT vislumbraram, no meio desse imbróglio, uma chance de resgatar a popularidade, intensificando o discurso de “nós contra eles”.

Se o distanciamento por questões ideológicas mostrou não ser o melhor caminho, a subserviência do clã Bolsonaro também está longe disso, e beira a irresponsabilidade a ponto de colocar os próprios interesses acima dos interesses do Brasil. Dois polos da política brasileira anacrônicos e maléficos.

Do lado americano, a demora em nomear um embaixador para o Brasil é um sintoma da mesma indiferença com o diálogo.

Intensificar os esforços diplomáticos é, portanto, urgente.

A pauta de exportações não pode ser comprometida por entraves políticos ou ideológicos, de lado a lado.

Principalmente, porque no campo geopolítico há questões muito sensíveis. O fortalecimento do Brics, por exemplo, embora seja uma agenda legítima para o Brasil, inclusive sob a perspectiva de diversificação de mercados, é visto pelos EUA como uma ameaça a própria influência norte-americana no mundo.

Fato é que os Estados Unidos têm dado demonstrações claras que pressões comerciais serão utilizadas contra as nações que não estiverem alinhadas com os objetivos norte-americanos.

Prova disso são as ameaças de punir os países que mantenham relações comerciais com a Rússia.

O Brasil, novamente, está numa posição delicada, na medida que a Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o agronegócio. Sem eles, a produção de alimentos fica comprometida.

O desafio diplomático é grande e o Brasil não pode ficar a mercê de lideranças que estão mais preocupadas com o próprio destino em 2026.