Turismo, riscos e ausência do Estado: o caso Juliana Marins e a negligência estatal

A morte da brasileira Juliana Marins durante uma trilha no Monte Marapi, na Indonésia, escancara mais uma vez o que ocorre quando o Estado abdica de suas responsabilidades mais básicas em territórios cuja economia depende diretamente do turismo.

Segundo relatos da família, Juliana caiu em uma área de difícil acesso, sofreu múltiplos ferimentos e permaneceu mais de 30 horas agonizando sem socorro adequado. Quando as equipes de resgate finalmente chegaram ao local, já era tarde. O episódio evidencia não apenas uma falha pontual, mas uma estrutura institucional despreparada para lidar com emergências.

Além disso, os números confirmam a importância econômica do setor. De acordo com dados do World Travel & Tourism Council, o turismo representou cerca de 10% do PIB indonésio em 2024. Esse percentual, por si só, deveria justificar investimentos sólidos em prevenção de riscos, infraestrutura de emergência e capacitação de profissionais. Entretanto, o que se observa é um modelo de exploração intensiva do turismo, em que o custo humano é invisibilizado e negligenciado.

Vale lembrar que a Indonésia é um destino turístico global. Vulcões, florestas e trilhas exóticas compõem a paisagem que movimenta bilhões de dólares anualmente. No entanto, o que deveria ser um ambiente minimamente seguro e regulado continua sendo palco de mortes evitáveis, marcadas pela precariedade dos serviços públicos, pela falta de informação aos visitantes e, sobretudo, pela inoperância dos sistemas de resgate e atendimento emergencial.

No caso de Juliana, não foi a natureza que falhou, foi o aparato institucional. O tempo de resposta das equipes de resgate foi incompatível com a gravidade da situação, não houve suporte médico adequado.

A própria família precisou acionar a diplomacia brasileira e contar com iniciativas privadas para tentar acelerar os trâmites. Mesmo após o falecimento, houve atraso na liberação do corpo e um processo burocrático moroso.

A Falha do Estado e a Tragédia de Juliana Marins

Diante desse cenário, é importante reforçar que o Estado não deve intervir em todas as esferas da sociedade, mas precisa garantir o mínimo: segurança, justiça e suporte em situações de risco. Em regiões onde se cobram impostos e taxas sobre atividades turísticas, onde há exploração comercial de áreas naturais e venda formal de pacotes de aventura, não é aceitável que o mesmo Estado se declare ausente quando ocorrem acidentes graves.

Nesse sentido, o caso de Juliana Marins traz um alerta mais amplo: países que estruturam suas economias em torno do turismo de natureza, especialmente em regiões de alto risco, têm obrigação moral e institucional de estabelecer sistemas preventivos eficazes, com protocolos claros de emergência. O lucro gerado pela atividade não pode, em hipótese alguma, se sobrepor ao valor da vida humana.

O falecimento de Juliana Marins, uma jovem brasileira em busca de experiências em um país estrangeiro, não deve ser encarado como um mero “acidente”. Trata-se do resultado de uma cadeia de omissões evitáveis. E enquanto essa lógica de negligência estrutural persistir, tragédias como essa continuarão a se repetir — em qualquer parte do mundo onde o Estado não cumpre suas funções essenciais.

Em suma, não basta atrair turistas. É preciso proteger vidas.

Mateus Vitória Oliveira

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã