Virtudes em Crise: a verdadeira arma que calou Charlie Kirk

Vivemos em uma época em que a ordem moral parece ter sido substituída por dopamina barata, ideações de poder e paixões descontroladas. O amor, que deveria ser o vínculo mais elevado da sociedade, esfria cada vez mais, princípios e valores são relativizados, e as virtudes que moldaram o Ocidente, especialmente sob a influência do cristianismo, vão sendo dissolvidas no esquecimento. O que impede uma pessoa de causar dano a outra? Não é apenas a lei ou o medo da punição, mas a formação interna de princípios e a disciplina de caráter. É neste alicerce que se sustentam as virtudes, as quais não são meras abstrações, mas exigências concretas do indivíduo e da própria sociedade.

Uma esposa chora pela perda do marido, enquanto duas crianças pequenas enfrentam a ausência irreparável do pai. A tragédia ocorrida em setembro envolvendo Charlie Kirk, aliado político de Donald Trump, assassinado nos Estados Unidos, é sintoma pujante do esvaziamento moral da sociedade. Quando o indivíduo perde as virtudes, a vida humana se torna descartável e o ódio se converte em motivação para os mais altos níveis de crueldade.

A intolerância, que se manifesta no caso Kirk, revela uma falência espiritual mais profunda: a incapacidade de enxergar na vida e na liberdade do outro o mais sublime valor moral, primeiro por este ser imagem e semelhança de Deus,  segundo por ser um indivíduo, como você e todos os demais.

O culto à ideologia tem substituído a reverência à verdade. Líderes e partidos transformam-se em ídolos, e qualquer oposição passa a ser vista como inimiga absoluta. Daí brota a intolerância: quando o outro deixa de ser pessoa para se tornar apenas rótulo, inimigo ou obstáculo.

A falência moral e das virtudes potencializada pela intolerância política e cultural do presente não é novidade na história. O atentado contra Jair Bolsonaro, em 2018, o clima de perseguição e as ameaças contra o deputado Nikolas Ferreira, e agora o assassinato de Charlie Kirk, demonstram que a sociedade caminha para um estado de guerra moral, em que o inimigo político deixa de ser a corrupção, a desonestidade, a mentira deliberada, a falência financeira do sistema e o mau uso dos recursos coletivos e passa a tratar o indivíduo que luta contra isso como um mal a ser eliminado fisicamente.

A Ética e as Virtudes

Aristóteles já ensinava, em sua Ética a Nicômaco, que a vida boa se sustenta no cultivo das virtudes. A virtude é o hábito de escolher o bem, pela razão, evitando tanto os excessos quanto as faltas. A ausência de virtudes gera desequilíbrios sociais, pois as paixões não disciplinadas arrastam as pessoas para comportamentos destrutivos.

Essa lógica de extermínio nasce onde as virtudes deixam de ser cultivadas. Sem temperança, não há moderação nos desejos. Sem prudência, não há ponderação nas decisões. Sem justiça, não há equilíbrio nas relações sociais. Sem fortaleza, não há coragem para resistir à violência do ódio coletivo. Quando o amor cristão (ágape, em grego) não é mais a força motriz da convivência, o espaço é ocupado pelo ressentimento e pela vingança, cumulados com o desejo de silenciar o discurso alheio.

Tomás de Aquino, ao integrar a filosofia aristotélica com a visão cristã, mostrou que a virtude não se esgota em si mesma. O homem não é apenas um animal racional que precisa do equilíbrio ético; é, também, uma criatura feita para Deus, que só encontra sua plenitude ao ordenar seus atos segundo a lei divina. Não basta conhecer as virtudes e a moral, é necessário praticá-las e ser coerente com as próprias ações. O coração humano, por si só, é inclinado ao egoísmo e ao orgulho, portanto, apenas mediante combinação da moral, virtudes  e regeneração espiritual pode-se produzir frutos consistentes. Virtudes autênticas não são meras aparências sociais, mas evidências de transformação interior. Liderar pelo exemplo e dar a outra face.

O problema contemporâneo é que se abandonou essa tradição de síntese. Muitos exaltam a razão instrumental, outros a liberdade sem limites, mas poucos falam da necessidade de unir disciplina moral à transcendência espiritual. Quando isso é esquecido, a sociedade não apenas se torna menos virtuosa, mas também mais intolerante.

Resgatando as Virtudes

É tempo de um chamado. O declínio das virtudes não é apenas um problema teórico, é um colapso que ameaça famílias, empresas, comunidades e nações. É urgente resgatar a disciplina aristotélica, a síntese de Aquino e, sobretudo, o vigor espiritual (e cristão para os que assim se identifiquem) que reconhece que sem a graça de Deus não há virtude que permaneça.

A educação virtuosa não pode se restringir ao desenvolvimento intelectual, físico ou emocional. Frustrações, renúncias, perdas, fracassos e decepções devem ser trabalhados dentro de um espectro de visão do indivíduo que preza pela honestidade e responsabilidade independente do resultado e do outro, de forma que a base, seja no lar, nutrida na vida comunitária, consolidada no trabalho ou fortalecida na igreja, transcenda ao próprio interesse e à paixão momentânea. 

A restauração da sociedade exige mais do que reformas políticas ou econômicas; exige a renovação do caráter: exige a temperança que domina os impulsos; a prudência que guia decisões, a justiça que preserva a equidade; a fortaleza que resiste ao mal. Mas, acima de tudo, exige fé que confia em Deus, esperança que sustenta em meio às crises e amor que supera o ódio.

Efigenia Brasilino

Colunista

Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Associada do Instituto Líderes do Amanhã