Segundo pediatra, crianças veem os animais como irmãos

Em declarações à agência Lusa, Clara Alves Pereira contou que já várias vezes foi abordada por pais que tentam, com a sua ajuda, decidir se devem ou não adotar um cão ou gato, depois de muita insistência dos filhos. A resposta “não é fácil” e “depende de muitas variáveis, como a própria criança, a sua família e condições”, disse. “Quando existem condições – e isso mesmo está demonstrado em estudos – há benefícios físicos, psicológicos e de socialização no relacionamento com animais”, disse.
Mas esta relação deve ser “equilibrada” e “saudável”, defendeu, explicando que, logo à partida, têm de ser assegurados os cuidados mínimos, como de saúde e de alimentação. Existem, no entanto, outras questões que os adultos devem levar em conta nesta relação com os animais: “Os pais têm de saber que não estão a dar um brinquedo, nem um ser humano”, disse.
E devem também saber que as crianças veem no animal alguém da família, próximo como um irmão. Por esta razão, sublinhou, “os pais precisam de entender que o que fazem ao animal pode ser entendido pelas crianças como possíveis acontecimentos consigo próprias”. “Se abandonamos um animal, estamos mostrando que a desvinculação afetiva é lícita”, disse.
Segundo Clara Alves Pereira, as crianças veem retratada na relação do animal com os pais a sua própria relação com os progenitores e, por isso, podem pensar que o que acontece com o cão ou o gato lhes pode acontecer. Por outro lado, ao ver que o animal, mesmo quando faz uma asneira, continua em casa e é amado pela família, a criança apercebe-se de que será aceita, apesar dos seus próprios disparates, o que aumenta a auto estima.
Questões como esta estarão em debate no encontro “Uma Só Saúde Portugal: Animais Saudáveis = Pessoas Saudáveis”, acção pioneira em Portugal que tem como objectivos “a aproximação entre a medicina veterinária e humana, a melhoria dos padrões de qualidade dos serviços e a preservação da saúde pública”.
Para a bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários, Laurentina Pedroso, “a saúde humana e animal estão intimamente ligadas”. “O conceito ‘Uma Só Saúde’ pretende promover, melhorar e defender a saúde e o bem-estar de todas as espécies, bem como reforçar a cooperação e a colaboração entre médicos, veterinários e outros profissionais de saúde”, acrescentou.
Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, considerou que “os médicos veterinários e os médicos reconhecem que têm responsabilidade profissional e social no domínio da saúde pública”. As ordens pretendem “a implementação de medidas que ajudem a promover uma ligação estreita entre o exercício da medicina humana e veterinária”.