Médico Adoris Loureiro Lopes, indiciado por morte de bebê
Médico Adoris Loureiro Lopes, indiciado por morte de bebê. Foto: Divulgação

Os pais do  bebê Miguel Nunes Costa Reis, de 35 dias, que morreu durante uma consulta médica em um consultório particular em Vila Velha, querem que o médico responsável pelo atendimento, Adoris Loureiro Lopes, responda por homicídio doloso (com intenção de matar) e omissão de socorro.

O médico foi indiciado por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, mas os familiares acreditam que a omissão de socorro deva ser adicionada ao inquérito. O Ministério Público Estadual (MPES) já denunciou o suspeito e encaminhou o caso à Justiça.

De acordo com os pais de Miguel, a omissão de socorro foi caracterizada quando Adoris simplesmente entregou o bebê aos cuidados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e foi atender outros pacientes.

Advogado pede indiciamento com dolo

O advogado de defesa da família, Fábio Marçal, acredita que o indiciamento do médico deva ser mudado de homicídio culposo para homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar.

Isso porque, segundo ele, o médico teria sido irresponsável ao virar o bebê de cabeça para baixo e fazê-lo aspirar leite materno, o que causou o sufocamento. De acordo com a defesa, um pedido de alteração será feito ao MPES.

“Analisando os fatos depois que essa criança veio a óbito, é claro que houve um menosprezo por parte deste profissional pela família, por aquele menor. Ele simplesmente continuou atendendo, e isso nós vamos levar ao Judiciário e vamos tentar junto ao Ministério Público para que este profissional responda por homicídio no dolo eventual”, disse Marçal.

Ainda de acordo com ele, o médico agiu com extrema frieza em relação à morte do bebê e com desdém pelos sentimentos dos pais.

“Não é possível que alguém que tem as técnicas necessárias, alguém que está nessa profissão há tantos anos, aja de maneira tão fria após ocorrer o que ocorreu por uma manobra que ele realizou, uma manobra irresponsável, com um bebê que estava sendo amamentado na frente dele”, afirmou o advogado.

Bebê foi virado de cabeça para baixo

Segundo os pais da criança, o bebê foi levado à clínica após apresentar sintomas de refluxo, já que havia sido diagnosticado anteriormente com a doença.

Miguel foi amamentado pouco antes da consulta, a pedido do próprio médico. O bebê teria sujado a fralda e o profissional foi até o banheiro e ligou a torneira, onde colocou a criança de cabeça para baixo para realizar a limpeza.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória e Acervo pessoal

À época do caso, o pai da criança, o advogado Ronaldo dos Santos Costa, afirmou ter ficado surpreso com a atitude do médico.

“Eu achei estranho porque ele pegou meu filho, virou de cabeça para baixo e falou: ‘vou mostrar para vocês como se dá banho em menino’. Abriu a pia do consultório mesmo, água gelada, e jogou água no menino, com o menino de cabeça para baixo, sendo que meu filho tinha acabado de mamar”, relatou Ronaldo.

Atitude inadequada e negligente, diz delegado

O delegado adjunto da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Glalber Queiroz, responsável por conduzir a investigação, relatou que ao final das apurações a polícia concluiu que o médico agiu de forma imprudente e negligente em relação ao bebê.

Conforme explicou, o médico tinha uma extensa agenda de atendimentos no dia em que Miguel morreu.

Após lavar o bebê de cabeça para baixo, Adoris teria colocado o menino, já roxo e com dificuldades para respirar, em cima de uma maca e fez massagens cardíacas. Foi nesse momento que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado.

No entanto, de acordo com os profissionais do Samu, o médico simplesmente entregou a criança aos cuidados dos socorristas e se retirou para atender outros pacientes, sem sequer explicar a eles o que havia acontecido. O menino morreu no local.

“Ao final das apurações, nós chegamos à conclusão de que o médico contribuiu diretamente para a morte do bebê, de forma imprudente ou negligente. Imprudente no momento em que ele manipulou de forma indevida um bebê com sintomas de refluxo e que tinha acabado de ser amamentado. Negligente porque ele se omitiu à sua obrigação legal de cuidar do bebê e acompanhar o atendimento do Samu”.

Delegado Glalber Queiroz

Câmeras do consultório

Uma outra coisa que chamou atenção da polícia foi o fato de que as câmeras do consultório não haviam registrado a ação do médico.

Segundo o delegado, as câmeras do local são modernas, mas o aparelho utilizado para armazenar as imagens era antigo. O aparelho passou por perícia, mas as filmagens não foram encontradas.

Ainda de acordo com o delegado, a perícia não esclareceu se as imagens haviam sido apagadas ou não foram registradas, apenas que “não existiam”.

Um outro fato curioso é que, no mesmo dia da morte do bebê, um técnico responsável pela manutenção das câmeras esteve no consultório.

“Ao longo das investigações constou que, de fato, o técnico responsável pela manutenção das câmeras foi acionado. O médico até disse, durante a apuração, que o técnico poderia colaborar com as investigações”, disse o delegado.

Médico alegou que morte de bebê foi acidente

O médico participou ativamente de todo o período do inquérito, segundo o delegado. Por ter sido colaborativo, ele não teve prisão preventiva decretada.

O profissional investigado negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade e afirmou que, em toda a sua carreira, um episódio como este nunca havia ocorrido.

O que diz a defesa do médico

Por nota, os advogados que defendem o médico afirmam que o atendimento prestado observou integralmente os preceitos médicos aplicáveis.

“A defesa mantém plena confiança no Judiciário para que os fatos sejam analisados e a situação seja esclarecida de forma definitiva”, afirmou a defesa.

Guilherme Lage, repórter do Folha Vitória
Guilherme Lage

Repórter

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.