Polícia

Caso Itiberê: crime brutal que chocou o ES completa 25 anos

No dia 6 de maio de 2000, o comerciante Marcos Itiberê matou os filhos de 9 e 7 anos a tiros e concretou os corpos dentro de um guarda-roupas em Vila Velha

Marcos Itiberê foi condenado por matar os filhos no ano 2000. Foto: Reprodução/TV Vitória
Marcos Itiberê foi condenado por matar os filhos no ano 2000. Foto: Reprodução/TV Vitória

A manhã de 3 de maio de 2000 tinha tudo para ser apenas mais um dia comum na vida de Jânia Carla Colnago e dos filhos, Marcos Itiberê Rodrigues de Castro Caiado Filho, de 9 anos, e Gabriela Colnago de Castro Caiado, de 7.

Em uma quarta-feira de outono, mãe e filhos se despediram enquanto as crianças embarcavam em um transporte escolar para ir até o colégio.

Aquela foi a última vez que Jânia viu as crianças com vida. Elas foram assassinadas no dia 6 de maio, em Vila Velha pelo próprio pai, Marcos Itiberê Rodrigues de Castro Caiado, num dos crimes mais chocantes da história do Espírito Santo, que completa 25 anos.

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Comerciante matou os filhos a tiros

O comerciante buscou as crianças na escola e as levou para a casa onde vivia. A partir dali, cortou qualquer tipo de contato com a ex-esposa, Jânia, e não repassava a ela nenhuma informação sobre os filhos.

Dali em diante, manteve os filhos em uma espécie de “cárcere”. Três dias após o sequestro, o pai matou as crianças a sangue frio, no apartamento que, antes da separação, havia dividido com a ex-mulher.

As crianças brincavam na cama, debaixo de um cobertor, quando Itiberê utilizou um travesseiro para cobrir a cabeça dos filhos e assassinou os dois com um revólver.

Iriberê confessou o crime. Em seu depoimento, ele disse que atirou duas vezes em Gabriela e uma em Marcos. O comerciante chegou a dormir mais quatro dias na casa, com os filhos já mortos no imóvel.

Após matar os filhos, o assassino levou os corpos para um guarda-roupas que existia no apartamento e lá os deixou, enrolados em um colchão. Logo depois, utilizou uma massa corrida para concretar o móvel.

Itiberê e a ex-esposa haviam se separado havia uma semana, e o assassino teria matado os filhos como vingança contra Jânia.

“Me matou também”, diz mãe das crianças

O crime foi descoberto no dia 14 de maio de 2000, um Dia das Mães. Os corpos das crianças foram encontrados pelo pai do assassino e retirados do apartamento, localizado no Centro de Vila Velha.

Em 2016, a ex-esposa do criminoso concedeu entrevista à TV Vitória, onde afirmou que a descoberta do crime naquela data era algo já premeditado pelo assassino.

Eu estava na casa da minha tia, no Dia das Mães, quando fiquei sabendo. Ele deixou isso como presente. Ele fugiu para deixar que a notícia chegasse só no Dia das Mães. Ele é um psicopata e gosta das coisas marcantes. Ele já fez tudo programado. Várias vezes ele também tentou me matar e disse que iria me matar de qualquer jeito. Como ele não conseguiu, ele matou as crianças para me matar. E acabou matando, disse.

Relacionamento marcado por violência e ameaças

À época do crime, Itiberê chegou a dar entrevistas para veículos de comunicação e à própria polícia, onde dizia não ter premeditado os assassinatos. Foi durante este período que disse sofrer de transtorno bipolar.

A doença foi confirmada pela ex-esposa, que contou à TV Vitória que o criminoso sofria de transtorno bipolar e oscilações de humor.

Além da condição mental, o relacionamento dos dois era marcado por violência e ameaças, segundo o que ela contou em 2016.

“Nosso relacionamento de segunda a sexta-feira era normal, mas chegava no final de semana e ele saía. Eu não sabia se ele usava drogas ou não, mas sabia que ele bebia. Quando ele chegava em casa, ele chegava doido. Muitos anos eu não sabia o que era dormir de camisola. Eu dormia de roupa, preparada para o que ele pudesse fazer. Ele colocava o revólver na minha cara e dizia que ia me matar. Às vezes eu também acordava com uma faca no pescoço. Ele também dizia que ia se matar, contou.

Fuga da prisão

Em agosto de 2011, Marcos Itiberê fugiu do Instituto de Readaptação Social (IRS), na Glória, em Vila Velha, onde estava preso desde setembro de 2009. Ele cumpria pena em regime fechado na Penitenciária de Segurança Máxima I, em Viana, e foi transferido para o IRS devido a uma decisão judicial. 

Itiberê conseguiu fugir após serrar uma grade da cela onde estava e pular a muralha da unidade prisional com o auxílio de uma “teresa” (corda artesanal feita com lençóis).

Assassinato anterior

A entrevista concedida pela ex-mulher do assassino ocorreu em 2016, naquele ano, a defesa de Itiberê tentava a progressão de pena do criminoso, que atualmente segue em regime fechado no Presídio de Segurança Média, em Viana.

A progressão foi negada no ano seguinte, 2017, pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), que alegou que o comerciante ainda apresentava perigo para sociedade, caso tivesse liberdade provisória.

Dentre um dos motivos, o TJES elencou o assassinato do ex-marido de Jânia, Marco Antônio Pedrini, que ocorreu em 1999, um ano antes do crime contra os filhos. Naquela época, Itiberê já passava pelo processo de divórcio com a ex-mulher, e não aceitava a separação.

À época, a juíza determinou que o exame criminológico concluiu que o sentenciado não apresentava condições pessoais suficientes para o avanço prisional.

O apenado possui personalidade imatura, em que se evidenciam poucas habilidades, sentimento de instabilidade, revelado certo nível de impulsividade, frieza e indiferença pela vida alheia, insegurança, descontrole emocional, exerce influência e liderança negativa perante a população carcerária, agindo de forma articuladora para atender seus interesses pessoais, de modo sorrateiro, sempre de forma anonimato, além de apresentar sintomas de transtorno bipolar, determinou a decisão.

Na mesma decisão, o TJES justificou a decisão ao afirmar que “resta demonstrada a necessidade de permanecer maior período no cárcere, visando absorver a terapia penal e revelar seu merecimento à progressão para regime mais brando”

Rotina na prisão

Por nota, a Secretaria da Justiça (Sejus) informou que Itiberê ainda cumpre pena na Penitenciária de Segurança Média 2 (PSME).

Segundo a Sejus, atividades assistenciais, de educação formal, saúde, capacitação profissional e trabalho são ofertadas à população prisional como parte do Programa de Ressocialização da pasta.

“O incentivo à leitura também está inserido nesse contexto, uma vez que todas as unidades prisionais do Estado possuem bibliotecas com diversos títulos disponíveis para os custodiados”, informou a Sejus.

O TJES também informou que não há, em hipótese alguma, a possibilidade dele ser solto em 2025.

Itiberê cumpre pena de 51 anos de prisão pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáveres.

O Folha Vitória procurou a defesa de Marcos Itiberê, que informou que, a pedido do próprio comerciante e da família, não irá se manifestar.

Guilherme Lage, repórter do Folha Vitória
Guilherme Lage

Repórter

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.