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Caso Wallace: mandante desviou mais de R$ 9 milhões da empresa no ES

Empresário Wallace Lovato foi assassinado a tiros na Praia da Costa, em Vila Velha. Crime teria motivação financeira

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Bruno Valadares de Almeida (ao centro), apontado como mandante da morte de Wallace Lovato
Bruno Valadares de Almeida (ao centro), apontado como mandante da morte de Wallace Lovato. Foto: Montagem TV Vitória

O mandante do caso Wallace Lovato, identificado como o diretor financeiro da Globalsys, Bruno Valadares de Almeida, desviou mais de R$ 9 milhões da empresa no Espírito Santo. Com o valor, ele teria realizado gastos com restaurantes, carros, joias e imóveis.

As informações sobre o caso foram repassadas durante uma entrevista coletiva realizada na manhã desta segunda-feira (11), pela Polícia Civil. Wallace teria sido executado após suspeitar de irregularidades na gestão financeira na empresa.

O chefe da DHPP de Vila Velha, delegado Daniel Fortes, informou que a estimativa inicial era de que o ex-diretor tivesse desviado cerca de R$ 4 milhões. Entretanto, uma auditoria privada, ainda em andamento, já identificou um desvio de R$ 9 milhões.

Ele acredita ter desviado cerca de 4 milhões, queria ter acesso a uma vida melhor e aproveitou da confiança do Wallace para fazer esses desvios em julho do ano passado. Wallace começou a desconfiar do desvio do dinheiro e com isso criou uma consultoria externa para ver esses desvios.

Delegado Daniel Fortes

Durante o depoimento, Bruno Valadares afirmou que, no final de 2023, começou a desviar os recursos da conta da empresa Globalsys – movimentada exclusivamente por ele – para contas pessoais. Com os desvios, comprou carros, propriedades, terreno e joias.

Ele comprou uma caminhonete Hilux, com valor de entrada de R$ 80 mil e R$ 100 mil saíram direto da conta da empresa Globalsys para o vendedor do carro. Ele começou até mesmo a fazer uma confusão patrimonial, onde pagava coisas pessoais com a conta da empresa.

Delegado Daniel Fortes

“Queria ter uma vida melhor”

O delegado Daniel Fortes também disse que foi identificado que Bruno Valadares de Almeida afirmou que começou a realizar os desvios com a “intenção de ter uma vida melhor”, sendo que ele recebia mensalmente R$ 21 mil da empresa onde trabalhava.

“Ele queria comer em restaurantes melhores, queria passear. Então, ele começa a fazer esses desvios e a gente percebe, quando a empresa encaminha para a gente os valores que ele recebeu desde que entrou na empresa até hoje, ele recebeu em salários uns R$ 700 mil. E ele teve um gasto só nos primeiros levantamentos que fizemos, um gasto que ultrapassa os R$ 700 mil em ouro e veículos, fora as outras coisas supérfluas que ele andou gastando e a aquisição de outros bens”.

Bruno não entrou na empresa com o cargo de diretor financeiro e assume o cargo após uma mudança de chefia. Ele também havia trabalhado em outras grandes empresas no Espírito Santo.

Os investigadores também descobriram, por meio do celular de Wallace, que desde junho de 2024 o empresário desconfiava dos desvios e cobrava o diretor financeiro.

O empresário teria contratado uma auditoria externa. Com receio de ser descoberto, Bruno teria, então, planejado e contratado a execução de Wallace.

“Desde julho do ano de 2024, Wallace estaria desconfiado. E ele fazia o desvio desde dezembro de 2023”.

Ponto a ponto: entenda morte de empresário Wallace Lovato

  • crime aconteceu na tarde de 9 de junho de 2025, uma segunda-feira. A polícia logo foi acionada e, ao chegar no local, identificou um dos veículos possivelmente usado pelos criminosos por meio de imagens de câmeras de segurança da região.
  • A Polícia Rodoviária Federal foi acionada para identificar o carro e localizá-lo. Na mesma noite, investigadores descobriram que a placa do veículo que aparecia nas imagens era falsa.
  • O carro dos suspeitos foi localizado no dia seguinte, abandonado próximo à alça da Terceira Ponte. Por meio do chassi, a polícia descobriu que o veículo veio de Minas Gerais com outra placa.
Carro usado por atirador para matar o empresário Wallace Lovato em Vila Velha
Carro usado no assassinato de Wallace veio de outro estado. Foto: Montagem/ Folha Vitória
  • Os investigadores entraram em contato com a Polícia Civil mineira e descobriram que a placa identificada na chegada ao Espírito Santo também era falsa.
  • Em vistoria, a Polícia Científica coletou digitais no veículo encontrado próximo à Terceira Ponte. Em paralelo, os investigadores analisaram as imagens de câmeras de segurança em que o carro aparecia.
  • A polícia descobriu que o veículo chegou ao Espírito Santo sem insulfilme. Em 3 de junho, seis dias antes do crime, o carro passou na Rodovia Darly Santos com os vidros claros e, pouco depois, foi visto na Segunda Ponte, trafegando em direção a Vitória, com o vidro escurecido. 
  • A partir de então, os investigadores buscaram locais onde o insulfilme pudesse ter sido colocado no veículo.
  • Com apoio de imagens cedidas pela Prefeitura de Vitória, os investigadores viram pela primeira vez um dos possíveis participantes no crime: um homem. Como ele estava com a cabeça baixa, não foi possível usar as ferramentas de reconhecimento facial para identificá-lo.
  • No dia 14, a polícia descobriu o local onde o insulfilme foi instalado e identificou o rapaz: Arthur Laudevino Candeias Luppi. Ele teve o pedido de prisão expedido. Os investigadores descobriram que ele fugiu para Minas Gerais. Uma megaoperação foi montada e Arthur acabou preso.
  • Em depoimento, ele confessou que dirigia o crime e indicou Bruno Nunes da Silva como intermediário do assassinato, Arthur Neves de Barros como o atirador e Eferson Ferreira Alves como um dos participantes. Eferson, no entanto, desistiu do crime.
  • Os mandados de prisão foram expedidos. Arthur Neves foi preso na Paraíba. Eferson Ferreira Alves e Bruno Nunes da Silva não foram localizados durante as buscas.
  • Cinco dias depois, em 19 de junho, Eferson se entregou à polícia. Bruno segue foragido até o momento da publicação desta reportagem.
  • Em depoimento, Eferson confessou o envolvimento e confirmou as informações já passadas por Arthur Laudevino. Segundo o depoimento do rapaz, Bruno Nunes seria o único com contato direto com o mandante do crime, que fazia pagamentos mensais de R$ 10 mil em espécie.
  • Em 27 de junho, informações falsas circularam sobre a prisão de Bruno Nunes. Na segunda-feira seguinte, 30 de junho, um advogado procurou a polícia e disse que um cliente fazia pagamentos mensais ao suspeito a mando da vítima. Contudo, a polícia não encontrou indícios no celular de Wallace que confirmavam a informação.
  • Diante disso, a polícia pediu a prisão temporária do diretor da empresa de Wallace, Bruno Valadares de Almeida. Ele foi preso em casa. No local, a polícia encontrou ouro e carros de luxo. Em depoimento, ele negou o envolvimento e afirmou que quem mandava ele enviar o dinheiro a Bruno Nunes era a vítima.

Veja o vídeo do crime:

Diretor suspeito de mandar matar empresário desviou milhões

  • Em um segundo interrogatório, segundo a polícia, ele confessou que desviou dinheiro da empresa por meio de uma conta a que só ele tinha acesso. Ele teria afirmado que desviou cerca de R$ 4 milhões, mas a empresa vê movimentações de até R$ 9 milhões. O dinheiro seria usado para ter uma vida melhor, sendo que ele recebia mensalmente R$ 21 mil. Para a polícia, ele se apropriou da confiança da vítima para cometer o crime.
  • Os investigadores também descobriram, por meio do celular de Wallace, que desde junho de 2024 o empresário desconfiava dos desvios e cobrava o diretor financeiro.
Wallace Borges Lovato
Wallace Lovato foi morto na Praia da Costa. Foto: Acervo pessoal
  • O empresário teria contratado uma auditória externa. Com receio de ser descoberto, Bruno teria, então, planejado e contratado a execução de Wallace.
  • Plano inicial para matar empresário deu errado.
  • Segundo a polícia, Bruno Nunes pagou Arthur Laudevino para ir a Minas Gerais buscar o veículo com placa clonada. O carro chegou ao Espírito Santo em 30 de maio.
  • Bruno Nunes e Eferson foram, então, até a Paraíba buscar Arthur Neves de Barros. Eles chegaram ao Estado em um carro alugado em 29 de maio.
  • O plano inicial era que o mandante, apontado como diretor financeiro da empresa, não estivesse no Espírito Santo na data do crime. Investigadores descobriram que ele teria comprado uma passagem cinco dias antes para ele, a esposa e o filho irem a Orlando, nos Estados Unidos. Ele ficou fora do Brasil até 8 de junho, véspera do assassinato.
  • A vítima também viajou, o que impediu que o crime ocorresse no período planejado. Wallace voltaria no domingo, mas o voo não pôde decolar devido ao mau tempo.
  • Wallace não foi trabalhar na segunda de manhã. Os suspeitos não sabiam do problema no voo e, por isso, estiveram na porta da empresa na segunda logo cedo.
  • Como saíram cedo, eles não haviam tomado café. Os suspeitos, então, saíram para lanchar. Pouco depois, receberam a informação de que o Wallace havia chegado à empresa.
  • Os criminosos retornaram ao local e estacionaram próximo ao carro do empresário. Arthur Neves, o atirador, estava sentado no banco traseiro.
  • O grupo acreditava que Wallace sairia da empresa pela portaria da Avenida Champagnat, para que o ataque ocorresse na calçada. Mas ele saiu pela rua lateral.
  • Os criminosos não viram ele sair. Eles só perceberam que Wallace estava do lado de fora, já quando o empresário colocava os pessoais no carro. Por isso, o assassinato ocorreu como o registrado nas câmeras de segurança. 
  • Na fuga, os suspeitos encontraram uma viatura da Polícia Civil que atendia a outra ocorrência. Eles ficaram desesperados, o que, segundo a polícia, pode ter atrapalhado o plano de fuga.
  • Os suspeitos foram embora por Cariacica e seguiram até Ibiraçu, onde encontraram Bruno Nunes.

Repórter do Folha Vitória, Maria Clara de Mello Leitão
Maria Clara Leitão

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário Faesa e, desde 2022, atua no jornal online Folha Vitória

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