O empresário Eduardo Saudino, de 37 anos, continuou praticando crimes após o acidente que causou a morte da cerimonialista Emília Oliosi Breda, de 26 anos. A informação é do delegado Maurício Gonçalves, responsável pelas investigações que terminaram na prisão do empresário na manhã desta quinta-feira (11).
Em agosto deste ano, Eduardo foi preso após fugir de uma abordagem da Guarda Municipal de Vitória. Ele estava com sintomas de embriaguez. Cerca de um mês depois, o empresário foi preso novamente, por posse ilegal de arma de fogo.
Antes do acidente, ele já tinha histórico criminal e respondia processos por receptação e uso de substância entorpecente. O delegado afirmou que a prisão desta quinta foi necessária, inclusive, para evitar que o réu cometa novos crimes.
“É uma pessoa reincidente em atitudes criminosas e, naquele momento em que eu pedi a prisão preventiva, eu já previa uma possibilidade de reincidência, inclusive, de novos crimes de trânsito”, disse o titular da Delegacia de Delitos de Trânsito.

Para o delegado, o empresário assumiu o risco de causar o resultado morte. Por isso, Eduardo foi indiciado por homicídio duplamente qualificado com dolo eventual.
O acidente foi causado por imprudência, velocidade excessiva; ele conduziu um veículo de alta potência, perdeu o controle do veículo e capotou esse veículo por diversas vezes em uma extensão territorial de 110 metros. Ele também estava com sintomas de uso de bebida alcoólica.
Maurício Gonçalves, delegado
Empresário teria mentido duas vezes após o acidente
Segundo as investigações, Eduardo mentiu duas vezes no dia do acidente. Ele teria dito aos socorristas que era Emília quem dirigia o veículo, que era dela.
Mas a cerimonialista ficou presa às ferragens e ao cinto de segurança, no lado do carona, o que acabou por comprovar que era o empresário quem dirigia o veículo. Ele estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa.
Além disso, Eduardo também teria dito que foi lançado para fora do veículo, mas essa versão foi desmentida pela polícia.
“Todos os indícios convergem para que ele tenha saído de forma voluntária. A vítima portava equipamentos de uma empresa de telefonia que faz acionamento automático para o 190 em caso de sinistros de trânsito. Com esse acionamento, foi aberto o áudio do aparelho telefônico dela, e operador do Ciodes conseguiu ouvir, ao fundo da ligação, uma voz masculina. Era inaudível, mas isso já dá indícios de que ele se encontrava dentro do veículo e deve ter saído de forma voluntária”, relatou o delegado.
Defesa diz que acidente afetou memória de empresário
Sobre as versões controversas dadas pelo empresário após o acidente, a defesa de Eduardo afirma que o empresário não se lembra perfeitamente do que aconteceu naquele dia. Em entrevista ao Folha Vitória, o advogado Fernando Ottoni confirmou que era seu cliente quem dirigia, mas alegou o impacto da batida teria afetado a memória de Eduardo.
“Ele não possui recordações claras do evento após a colisão. Isso porque, conforme registrado no inquérito policial, por ocasião do acidente, o Sr. Eduardo foi ejetado do veículo pelo para-brisa, vindo a sofrer ferimentos lacerantes por todo o seu crânio”, registrou o advogado, por nota.
A defesa também contesta as informações defendidas pela polícia e pelo MPES de que o empresário estaria dirigindo em alta velocidade e sob efeito de álcool.
“Sobre a narrativa criada pelo Ministério Público Estadual, na qual afirma que o Sr. Eduardo dirigia o carro em alta velocidade e sob o efeito de álcool, a defesa registra que não existe nenhuma prova produzida nos autos capaz de suportar essa versão acusatória”, registra a nota.
A defesa afirma que duas perícias foram realizadas pela Polícia Científica e que nenhuma delas indica a velocidade que se encontrava o veículo no momento da colisão. “Inclusive, sendo registrado pelo perito criminal, no laudo complementar nº 17.818/2024, ‘não ser possível a realização do cálculo de velocidade aproximada do veículo no momento anterior ao primeiro impacto identificado'”.

Prisão
Eduardo Saudino foi preso na manhã desta quinta-feira (11), na casa dos pais, em Alfredo Chaves, no Sul do Estado. Inicialmente, a polícia não o localizou em sua residência, na Praia da Costa, em Vila Velha. Ele não reagiu e cooperou com a abordagem policial.
O empresário já havia se tornado réu pela morte da cerimonialista após decisão judicial proferida pelo juiz da 10ª Vara Criminal de Vitória no dia 24 de novembro. Na ocasião, o magistrado aceitou a denúncia do Ministério Público do Estado (MPES), tornando Eduardo réu por homicídio duplamente qualificado com dolo eventual.
Mas, naquele momento, o juiz indeferiu o pedido de prisão de Eduardo e impôs medidas cautelares.
Momento de dor para a família
Em entrevista à TV Vitória, a advogada da família de Emília, Anna Paulina Cardoso, falou sobre o sentimento de luto dos familiares. “É um momento de dor, pois a morte da Emília é algo irreversível. Uma jovem de 26 anos que foi brutalmente assassinada ali naquele contexto em que aquele carro era conduzido por esse indivíduo”, registrou a advogada.
Mas a defensora acredita que a prisão possa trazer algum alívio. “Talvez um pequeno sentimento de que a justiça começa a ser feita na medida em que esse indivíduo não vai poder eventualmente fazer novas vítimas, não vai poder seguir completamente impune.”
O acidente
Emília morreu no dia de seu aniversário, após o carro em que ela estava com o empresário, seu então namorado, capotar às margens da ES-375, na zona rural de Anchieta, Sul do Espírito Santo, no dia 15 de fevereiro de 2024.
Emília ficou presa às ferragens e morreu ainda no local do acidente. Eduardo foi socorrido de helicóptero pelo Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Secretaria da Casa Militar (Notaer-ES) e levado para um hospital.
*Com informações do repórter André Falcão, da TV Vitória/Record.