
Aos 53 anos de idade e com 31 deles de dedicação à Polícia Militar, a ex-professora Emília Alves vivenciou duas grandes realizações profissionais este ano, ambas históricas no Espírito Santo.
A primeira foi ganhar a maior patente de um PM, a de coronel, um feito para poucas mulheres até então. Em seguida, ser a primeira mulher à frente do 3º Comando de Policiamento Ostensivo Regional (CPOR), tornando-se a responsável por liderar cerca de 900 policiais em 22 municípios da Região Sul do Espírito Santo.
E tudo isso aliando destreza e bravura, que o trabalho de um policial requer, com a delicadeza, paciência e atenção que são normalmente vistos em um educador e também em uma mãe, já que Emília tem duas filhas.
A coronel entrou na corporação em 1994, ao fazer o Curso de Formação de Oficiais (CFO). Ela é uma das cinco mulheres que, pela primeira vez nos 190 anos de história da corporação no Estado, alcançaram o posto mais alto da hierarquia, o de coronel do Quadro de Oficiais Combatentes.
A promoção foi no dia 10 de maio deste ano. Dois dias depois, em 12 de maio, ela assumiu o 3º CPOR.

Coronel Emília, que nasceu em Cariacica, é formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ela contou que, apaixonada por educação, trabalhou por alguns anos como professora da rede pública, mas em 1994 decidiu mudar de carreira.
A virada foi quando o Curso de Formação de Oficiais abriu pela primeira vez vagas para mulheres, e Emília logo se inscreveu.
Vi no curso a oportunidade de uma ascensão social e de carreira. Decidi arriscar e fazer aquele vestibular para o CFO, mas confesso que não sabia exatamente o que era ser oficial de polícia.
Emília Alves, coronel da Polícia Militar
Diante da vontade de agarrar as oportunidades, a coronel ingressou como aluna-oficial e cursou os três anos na Academia de Polícia, em Cariacica.
Casada com o também coronel da PM, Carlos José Fernandes, que conheceu durante o curso, Emília é mãe de Carolina e Manuela. Ela relembrou que, ao longo desses anos, teve que enfrentar desafios de conciliar o curso com a maternidade.
Foi uma situação de exceção. Eu era a única do curso que tinha filho. Foram muito difíceis os três anos de curso, de regime de internato em uma parte, e semi-internato com dedicação exclusiva em outra. Foi bem difícil.
Coronel Emília Alves
Já como aspirante-oficial, ela trabalhou no serviço operacional no 6º Batalhão (Serra) e, como tinha proximidade com a educação, foi “pinçada” para trabalhar com a formação de policiais, onde permaneceu por duas décadas.
Fiz pós-graduação em Psicopedagogia e mestrado em Educação. Fui muito privilegiada porque pude conciliar algo que já era familiar para mim na Polícia Militar. Sou policial de carreira e consegui trabalhar com a formação de outros policiais.
Coronel Emília Alves
Ao falar sobre o trabalho com a formação de futuros colegas de profissão, Emília narra com muito carinho e amor como é ver comandantes regionais que já foram seus alunos, assim como oficiais em outras áreas em que trabalhou, como Batalhão da Polícia Ambiental, Diretoria de Direitos Humanos e Diretoria da Saúde.
“A gente acaba sendo muito vitrine”

Emília avalia que “para a mulher estar no posto de comando, o olhar é sempre mais rigoroso”.
Como a mulher no posto de comando é novidade historicamente, a gente acaba sendo muito vitrine e os nossos comportamentos são o tempo inteiro observados: o que vamos fazer, como vamos nos comportar, até o nosso tom de voz.
Coronel Emília Alves
Dentre os inúmeros desafios já vividos, ela relembra que foi a primeira mulher a presidir uma formatura de passagem de comando operacional.
“Fui extremamente observada. Havia políticos, comunidade, colegas, me senti muito observada diante da imponente missão”, destacou.
Questionada sobre as possíveis mudanças que serão implementadas nos próximos anos na Polícia Militar no Sul do Espírito Santo, coronel Emília afirma que pretende manter a unidade e integração entre a PM e outros órgãos, “sempre com o olhar mais feminino e sensibilidade”.
“Procurar olhar cada comandante, o que cada unidade está precisando, ser um elo entre eles e o comando da polícia, levar as necessidades deles para o comando, ter ouvido mais ajustado para as necessidades mais sensíveis deles, quer seja com a questão do recurso humano, quer seja com o recurso de logística”, narra Emília Alves.
“As mulheres podem sonhar, perseguir e alcançar seus objetivos”

Sobre o que representa para as mulheres ela estar no posto de comando, a coronel Emília fala sobre ser exemplo e motivo de orgulho, principalmente para aquelas que estão em situação de vulnerabilidade social.
Tenho essa preocupação por ser a primeira, de representar bem, para que elas sintam orgulho e entendam que também podem sonhar, perseguir e alcançar seus objetivos”
Coronel Emília Alves
Ao ser questionada se queria deixar uma mensagem para as mulheres, a oficial disparou uma frase de encorajamento: “Ser policial militar não é fácil. Exige muita disciplina e dedicação, mas nós, mulheres, temos isso”.