
Um exame toxicológico realizado no cabelo do médico, de 90 anos, ajudou a polícia a constatar o nível de envenenamento de arsênio sofrido pela vítima que atuava em uma clínica localizada na Praia do Canto, em Vitória.
A ex-secretária da clínica, identificada como Bruna Garcia Barbosa Marinho e o marido dela, Alysson Marinho, foram presos na terça-feira (2), suspeitos de envenenar o médico entre 2023 e o início deste ano.
Durante esse período, a vítima apresentou sintomas semelhantes com intoxicação crônica por arsênio — diarreia, vômitos, anemia, inchaço nos membros e perda de peso.
Em entrevista a reportagem da TV Vitória, o advogado da vítima, Waldyr Loureiro, informou que um vidro do veneno foi localizado no consultório.
“Confirmada depois pelo exame efetivado no cabelo, onde de constatou o envenenamento por arsênio por mais ou menos um ano e dois meses”, explicou o advogado.
O advogado também informou que a tentativa de homicídio agravou o quadro de saúde do idoso, que já apresentava Parkinson. “Causou diversas sequelas, inclusive o avanço do Parkinson”.
Mulher trabalhava na clínica há cerca de 12 anos
Bruna trabalhou na clínica por cerca de 12 anos, exercendo funções de confiança, incluindo o controle das finanças e a alimentação do médico.
Em março de 2025, a esposa do médico descobriu que a então secretária havia desviado aproximadamente R$ 600 mil da conta. Parte do valor teria sido direcionado para a suspeita, o marido e a mãe dela. Após as acusações, a secretária pediu demissão do emprego.
Meses depois, a esposa do médico encontrou frascos de arsênio na sala onde a ex-secretária trabalhava. A polícia acredita que o produto era usado para envenenar a vítima.
Exames periciais realizados no Instituto Médico Legal (IML) de Vitória confirmaram a presença de óxido de arsênio, sendo detectada maior concentração de intoxicação no período em que ela trabalhava na clínica.
Utilização do arsênio
Em entrevista a TV Vitória, a professora em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Karla Nívea Sampaio, explica que o trióxido de arsênio é uma substância utilizada para fins industriais e medicinais. Ele é um pó branco, que não é vendido livremente.
Existem algumas aplicações industriais do arsênio, por exemplo, impermeabilização de madeira, produção de vidros, mas isso não é de consumo humano.
Karla Nívea Sampaio
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o arsênio um dos 10 químicos de grande preocupação para a saúde pública e recomenda que a exposição ao metal seja prevenida.
Os sintomas da contaminação por arsênio incluem vômito, dores abdominais e diarreia. A exposição a longo prazo causa mudanças na pigmentação da pele, lesões e pode levar ao câncer de pele.
O arsênio vai inibir a produção de energia no corpo e em pequenas doses pode afetar o nervo sensitivo, áreas do cérebro que estão relacionados a memória.
Karla Nívea Sampaio
O que diz a defesa do casal
O advogado do casal, James Gouveia Freias, afirmou que os fatos estão distorcidos e que continua fazendo conhecimento do caso.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.
*Com informações dos repórteres Lucas Henrique Pisa e André Falcão, da TV Vitória/Record