Polícia

Fraude em terra indígena: entenda esquema de agiotagem e extorsão

Os juros eram de cerca de 10 a 30% ao mês, o que caracteriza a prática abusiva. Para cometer as fraudes, os golpistas tinham ajuda de representantes das associações

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Foto: MPF-ES/Reprodução
Foto: MPF-ES/Reprodução

Cinco pessoas, três delas indígenas, foram presas nesta quinta-feira (25) por participação em um esquema de agiotagem e extorsão nas aldeias indígenas de Caieiras Velha e Irajá, em Aracruz, região Norte do Espírito Santo.

Segundo o procurador-chefe do Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF-ES), Carlos Vinícius Cabeleira, o esquema funcionava da seguinte maneira: duas associações criminosas, de forma independente, ofereciam empréstimos a juros abusivos para moradores das comunidades.

Os juros variam de 10% a 30% ao mês, o que caracteriza a prática abusiva. Para cometer as fraudes, os golpistas tinham ajuda de representantes das associações indígenas. O esquema durou cerca de quatro anos, de 2018 a 2022.

Os criminosos esperavam receber os pagamentos após as vítimas receberem indenizações milionárias da Fundação Renova, por conta do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015.

Houve uma penetração dessa organização criminosa no território indígena, oferecendo empréstimos a juros abusivos, na perspectiva de receber de volta quando as pessoas fossem indenizadas pela Fundação Renova.”

Carlos Vinícius Cabeleira, procurador-chefe do MPF-ES

A investigação também apontou a administração de associações indígenas como responsável por mediar os empréstimos, além de cobrar o dinheiro das vítimas assim que recebessem suas parcelas de indenização.

Carlos Vinícius Cabeleira procurador chefe do MPF ES
Carlos Vinícius Cabeleira é procurador-chefe do MPF-ES. Foto: TV Vitória/Reprodução

Para disfarçar a prática ilícita, eram usados contratos simulados de compra e venda e de prestação de serviços.

“Só que esses juros eram extorsivos e com a colaboração da então administração da associação, essa atividade foi desenvolvida e quando começou a chegar o dinheiro, a própria associação já colaborava no repasse do dinheiro para esses grupos”, explicou.

Bens bloqueados

A Justiça Federal, a pedido do MPF-ES, determinou o bloqueio de R$ 9,9 milhões em nome dos suspeitos e de uma empresa, além de aproximadamente R$ 850 mil vinculados a ex-integrantes da Associação Indígena Tupiniquim e Guarani.

Foto: MPF-ES/Reprodução

Segundo o MPF-ES, as investigações continuam para identificar possíveis outros membros das organizações criminosas. Além disso, os diretores das associações indígenas também serão interrogados no decorrer do processo.

Segundo Cabeleira, as prisões ocorridas nesta quinta-feira permitirão às vítimas depor sem medo de represálias.

“O importante neste momento é que as pessoas foram presas para garantir o direito das vítimas de prestar depoimento com tranquilidade”, afirmou o procurador-chefe do MPF-ES.

Ainda segundo Cabeleira, o dinheiro apreendido com as quadrilhas será usado para ressarcir as vítimas.

Na ação desta quinta-feira, foram apreendidos: duas armas, cheques, cartões e R$ 400 mil em dinheiro.

*Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record

Guilherme Lage, repórter do Folha Vitória
Guilherme Lage

Repórter

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.

Formado em Jornalismo, é repórter do Folha Vitória desde 2023. Amante de música e cinema.