Julgamento
Foto: Canva

O golpe do falso advogado, ou da falsa sentença, já é conhecido pelos capixabas. Nele, criminosos se aproveitam de pessoas que esperam por justiça para se passarem por profissionais da advocacia e aplicarem golpes.

No Brasil, qualquer pessoa consegue ter acesso a dados de processos, desde que eles não tramitem sob sigilo. No entanto, o acesso a dados particulares de vítimas, como telefone e informações bancárias, levam os advogados a desconfiarem que pessoas que trabalham no Judiciário possam estar envolvidos no esquema.

O advogado Amarildo Santos explica o modus operandi dos criminosos: “Eles têm acesso ao banco de dados do Banco Central, então muitas vezes eles sabem onde a pessoa tem conta, qual instituição financeira, e, da mesma forma, têm acesso também a banco de dados de operadoras de telefone.”

Segundo a presidente da Ordem dos Advogados no Espírito Santo (OAB-ES), Érica Neves, que atua na esfera criminal, com a Polícia Civil, para identificar quem está por trás do crime e como as pessoas conseguem acesso privilegiado aos dados particulares das vítimas, ainda não é possível saber se pessoas que trabalham no Judiciário participam do crime.

Em muitos dos casos, os golpistas dão informações muito fidedignas. Então, ao mesmo tempo em que pode haver a participação de pessoas internas do sistema judicial, pode não ter nenhuma participação.

Érica Neves, presidente da OAB-ES

Além disso, a presidente da Ordem capixaba disse que já existe uma plataforma de denúncias para que tanto advogados quanto cidadãos vitimados reúnam documentos que comprovem o crime.

“Estas informações estão sendo reunidas para que formem um inquérito policial, uma grande investigação sobre esses fatos”, afirmou.

Golpistas se passam por advogados

O objetivo dos criminosos é entrar em contato com uma vítima com processo ativo e convencê-la de que uma suposta sentença judicial já está próxima de ser paga. Para finalizar o processo, bastaria arcar com as custas dele.

Uma vítima que ainda está lidando com os prejuízos contou como caiu no golpe:

“Eu estava aguardando o resultado de um processo trabalhista, onde eu deveria receber um valor relacionado ao FGTS. Eu sabia que esse processo já estava próximo de uma conclusão para eu poder receber esse valor e a pessoa que entrou em contato comigo via Whatsapp tinha a logo do escritório que me atendia, o nome do advogado e, inclusive, o número do registro da OAB dele.”

A vítima acabou não verificando se o número que entrou em contato já estava salvo nos contatos dela. Após comunicar a suposta boa notícia, o falso advogado pediu que ela realizasse uma transferência para uma segunda conta, ainda em seu nome.

“Depois, quando o dinheiro chegou na segunda conta, ele (falso advogado) pediu para eu transferir o dinheiro para um sistema relacionado ao Judiciário e me passou o contato de um suposto profissional que seria da área da Justiça.”

Depois que o valor é depositado, entretanto, o falso advogado desapareceu.

Amarildo Santos explica como se prevenir do golpe:

“Assim que você receber uma informação suspeita, entre em contato diretamente com o seu advogado. Também desconfie da urgência com que os pedidos de transferências são feitos e de valores extremamente altos, que são muito diferentes dos valores que serão ganhos no processo.”

Segundo especialistas da OAB, a tendência é que o golpe do falso advogado, com o tempo e o desenvolvimento da investigação, caia em desuso, assim como o golpe do falso sequestro.

*Com informações da repórter Nathalia Munhão, da TV Vitória/Record

Julia Camim

Editora de Política

Atuou como repórter de política em jornais do Espírito Santo e fora do Estado. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.

Atuou como repórter de política em jornais do Espírito Santo e fora do Estado. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.