Polícia

Hilário Frasson presta depoimento no MPES sobre venda de sentença

O caso do envolvimento dos juízes com a suposta venda de sentença tem como base as provas obtidas na perícia realizada no telefone celular do ex-policial civil

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Foto: TV Vitória
Hilário Frasson chegou ao MPES algemado, com uniforme da penitenciária e escoltado 

O ex-policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da médica Milena Gottardi em 2017, esteve na sede do Gaeco na segunda-feira (19), para prestar depoimento no caso que envolve o afastamento dos juízes Alexandre Farina Lopes, diretor do Fórum da Serra, e Carlos Alexandre Gutmann. 

O envolvimento dos juízes com a suposta venda de sentença tem como base as provas obtidas na perícia realizada no telefone celular de Hilário Frasson, já que houve o encontro de informações contidas em mensagens de um aplicativo utilizado pelo ex-policial civil. 

Hilário vai a julgamento pela acusação de ser um dos mandantes do assassinato da esposa dele, a médica Milena Gottardi, em 14 de setembro de 2017, no Hospital das Clínicas, em Vitória. 

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Na ação penal do assassinato da médica Milena, “foi autorizada a apreensão e a extração de dados do aparelho celular do referido réu (Hilário Frasson), sendo verificados diálogos entre aquele réu e outras pessoas, sem qualquer relação com os fatos apurados na ação penal por homicídio, mas que revelariam robustos indícios de prática de crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e exploração de prestígio, envolvendo dois magistrados, empresário, servidor da Amages, advogados e outras pessoas”.

Veja abaixo trechos na íntegra identificados pelo MPES

No dia 15 de fevereiro de 2017, às 9h30, Hilário Frasson e Alexandre Farina teriam se encontrado no prédio onde o magistrado mora. Na ocasião, eles teriam ligado para um dos advogado da empresa Cecato, Luiz Alberto Lima Martins.

Na tarde do mesmo dia, Hilário encaminhou mensagem para Farina informando que o advogado esteve no Fórum “despachando” e que “deixou o documento com o de Felipe”.

No diálogo, “Alemão” seria o juiz Carlos Alexandre Gutman.

Hilário Frasson:

“O amigo esteve lá despachando avira”

“Deixou o documento com o de Felipe”

Farina repreende Hilário, respondendo que o documento foi entregue para a pessoa errada, que não deveria ter sido entregue para “de” Felipe, mas sim para o magistrado Carlos Alexandre Gutmann — referido na conversa pelo apelido “Alemão” — e que Hilário deveria ter lhe avisado a hora que o advogado chegou ao Fórum.

Alexandre Farina

Eu disse para vc me avisar”

“Tem que ir no Alemão”

“Poxa vida”

“Disse para vc me avisar irmão”

“Chama o adv”

“Vou mandar o zap p o alemão “

Outro trecho indicaria, segundo MPES, o receio de Farina em não receber o dinheiro combinado.

Alexandre Farina

“Cara o Davi foi lá no aeroporto encontrar com o cara, porra e ele disse que não vai dar.”

“Não tem volta Hilário, como vou fazer, coloquei mais gente para dentro que nem o Davi sabe, nem pode saber. aqui entre colunas. Amigo, o cara foi para Salvador, chamou Davi antes de embarcar e disse: não vou dar e se der errado lá eu recorro não prometi nada para ng (ninguém), no máximo era um agrado. Porra, fala sério, uma ginástica monstra em todos os sentidos, insinuações eu passei e coloquei para fuder agora isso??? E aí???”

“irmão eu já fiz compromisso financeiro por conta disso e a terceira pessoa idem. E ai???

“Cara vc não tem ideia de como tou. Já chorei to tremendo, sabe pq, fiz compromissos com terceiros que em hipótese alguma posso falhar e, também, financeiro”

Hilário Frasson:

“Fica tranquilo”

“Ele vai me dar e eu vou repassar”

“Já disse”

“Nunca falhou” 

Entenda a investigação sobre a venda de sentença no ES

O pedido de abertura de inquérito contra os juízes e outras sete pessoas foi protocolado no dia 31 de maio deste ano pela procuradora-geral de Justiça, Luciana de Andrade.

O objetivo era apurar a suposta prática de corrupção passiva, corrupção ativa e exploração de prestígio. Por meio de fontes, o Folha Vitória teve acesso a todo conteúdo investigado pelo MPES, com cerca de 150 páginas, que traz os indícios de corrupção envolvendo magistrados, empresário e advogados.

Segundo as apurações do MPES, o juiz Alexandre Farina, da Comarca da Serra, teria recebido propina para intermediar a venda de sentença em favor de uma imobiliária localizada no município de Fundão.

A sentença foi proferida em março de 2017 pelo juiz Carlos Alexandre Gutmann, que também teria recebido pagamento indevido para favorecer a empresa.

Além dos magistrados, o MPES ainda apontou a participação de outros envolvidos, como o dono da imobiliária que teria pago propina para ser beneficiado no registro de um terreno. Advogados da empresa também são investigados por envolvimento no caso, além do ex-policial civil Hilário Frasson.

O outro lado: o que dize as defesas dos investigados no esquema

O advogado do juiz Alexandre Farina, Rafael Lima, disse que ainda não teve acesso ao processo na íntegra.

“O julgamento foi uma surpresa para todos nós porque o processo está em segredo de Justiça. Se falou tanto em apuração de vazamento do processo e, no entanto, o julgamento foi público. Nós respeitamos, vamos acatar a decisão do Tribunal e nos inteirarmos do processo para nos posicionarmos melhor”.

Já o advogado que representa o juiz Carlos Gutmann não retornou aos contatos feitos pela reportagem.

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