O acusado Bruno Valadares de Almeida adquiriu joias, carros, viagens e terreno com o dinheiro que desviou da empresa em que trabalhava como diretor financeiro, a Globalsys, de Wallace Lovato Lopes, de 42 anos. Ele foi denunciado como mandante do assassinato, que aconteceu em 9 de junho de 2025, na Praia da Costa, em Vila Velha.
Com medo de ser descoberto e responsabilizado, segundo a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Bruno decidiu matar o empresário.
Em entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira (11), na Chefatura da Polícia Civil, foi divulgado que Bruno confessou que desviou dinheiro da empresa por meio de uma conta que só ele tinha acesso.
Ele comprou uma caminhonete Hilux, com valor de entrada de R$ 80 mil e R$ 100 mil saíram direto da conta da empresa Globalsys para o vendedor do carro. Ele começou até mesmo a fazer uma confusão patrimonial, onde pagava coisas pessoais com a conta da empresa.“
Delegado Daniel Fortes
Durante os desvios, que teriam começado a partir de 2023, ele afirmou que desviou cerca de R$ 4 milhões, mas a empresa vê movimentações de até R$ 9 milhões.
Entre os gastos estão: R$ 430 mil em joias, R$ 370 mil em veículos, terrenos no interior do Estado de R$ 220 mil, um projeto de construção de casa de R$ 3 milhões em condomínio de luxo e mais de R$ 200 mil em terraplanagem para plantio de café.
A partir do final de 2023, ele fica sendo o único responsável da empresa por movimentar uma das contas. Ele passa a colocar dinheiro da empresa na conta, quantias vultuosas, e passa dinheiro dessa conta para empresas dele: em algumas épocas do ano chegando a mais de R$ 100 mil por semana.”
Delegado Daniel Fortes
Veja o que disse o delegado:
Durante as ações, ele começou a “fazer uma confusão patrimonial”, onde pagava despesas pessoais com a conta da empresa. Os desvios começaram a ser percebidos por Wallace em 2024, quando o empresário descobriu que Bruno Valadares era investigado em um processo.
Veja o vídeo do crime:
“O que chama a atenção do Wallace no desvio acontece quando ele recebe informações de que o Bruno estava respondendo a um processo de um dinheiro que havia perdido de um investimento anterior. Ele perdeu esse processo e quando chega a informação para o Wallace, chama a atenção dele, começa a fazer um pedido de auditoria com uma empresa de São Paulo e esse pedido é feito”, explicou o delegado Daniel Fortes.
Ponto a ponto: entenda morte de Wallace Lovato
- O crime aconteceu na tarde de 9 de junho de 2025, uma segunda-feira. A polícia logo foi acionada e, ao chegar no local, identificou um dos veículos possivelmente usado pelos criminosos por meio de imagens de câmeras de segurança da região.
- A Polícia Rodoviária Federal foi acionada para identificar o carro e localizá-lo. Na mesma noite, investigadores descobriram que a placa do veículo que aparecia nas imagens era falsa.
- O carro dos suspeitos foi localizado no dia seguinte, abandonado próximo à alça da Terceira Ponte. Por meio do chassi, a polícia descobriu que o veículo veio de Minas Gerais com outra placa.
- Os investigadores entraram em contato com a Polícia Civil mineira e descobriram que a placa identificada na chegada ao Espírito Santo também era falsa.
- Em vistoria, a Polícia Científica coletou digitais no veículo encontrado próximo à Terceira Ponte. Em paralelo, os investigadores analisaram as imagens de câmeras de segurança em que o carro aparecia.
- A polícia descobriu que o veículo chegou ao Espírito Santo sem insulfilme. Em 3 de junho, seis dias antes do crime, o carro passou na Rodovia Darly Santos com os vidros claros e, pouco depois, foi visto na Segunda Ponte, trafegando em direção à Vitória, com o vidro escurecido.
- A partir de então, os investigadores buscaram locais onde o insulfilme pudesse ter sido colocado no veículo.
- Com apoio de imagens cedidas pela Prefeitura de Vitória, os investigadores viram pela primeira vez um dos possíveis participantes no crime: um homem. Como ele estava com a cabeça baixa, não foi possível usar as ferramentas de reconhecimento facial para identificá-lo.
- No dia 14, a polícia descobriu o local onde o insulfilme foi instalado e identificou o rapaz: Arthur Laudevino Candeias Luppi. Ele teve o pedido de prisão expedido. Os investigadores descobriram que ele fugiu para Minas Gerais. Uma megaoperação foi montada e Arthur acabou preso.
- Em depoimento, ele confessou que dirigia o crime e indicou Bruno Nunes da Silva como intermediário do assassinato, Arthur Neves de Barros como o atirador e Eferson Ferreira Alves como um dos participantes. Eferson, no entanto, desistiu do crime.
- Os mandados de prisão foram expedidos. Arthur Neves foi preso na Paraíba. Eferson Ferreira Alves e Bruno Nunes da Silva não foram localizados durante as buscas.
- Cinco dias depois, em 19 de junho, Eferson se entregou à polícia. Bruno segue foragido até o momento da publicação desta reportagem.
- Em depoimento, Eferson confessou o envolvimento e confirmou as informações já passadas por Arthur Laudevino. Segundo o depoimento do rapaz, Bruno Nunes seria o único com contato direto com o mandante do crime, que fazia pagamentos mensais de R$ 10 mil em espécie.
- Em 27 de junho, informações falsas circularam sobre a prisão de Bruno Nunes. Na segunda-feira seguinte, 30 de junho, um advogado procurou a polícia e disse que um cliente fazia pagamentos mensais ao suspeito a mando da vítima. Contudo, a polícia não encontrou indícios no celular de Wallace que confirmavam a informação.
- Diante disso, a polícia pediu a prisão temporária do diretor da empresa de Wallace, Bruno Valadares de Almeida. Ele foi preso em casa. No local, a polícia encontrou ouro e carros de luxo. Em depoimento, ele negou o envolvimento e afirmou que quem mandava ele enviar o dinheiro a Bruno Nunes era a vítima.
Diretor suspeito de mandar matar empresário desviou milhões
- Em um segundo interrogatório, segundo a polícia, Bruno Valadares confessou que desviou dinheiro da empresa por meio de uma conta a que só ele tinha acesso. Ele teria afirmado que desviou cerca de R$ 4 milhões, mas a empresa vê movimentações de até R$ 9 milhões. O dinheiro seria usado para ter uma vida melhor, sendo que ele recebia mensalmente R$ 21 mil. Para a polícia, ele se apropriou da confiança da vítima para cometer o crime.
- Os investigadores também descobriram, por meio do celular de Wallace, que desde junho de 2024, o empresário desconfiava dos desvios e cobrava o diretor financeiro.
- O empresário teria contratado uma auditoria externa. Com receio de ser descoberto, Bruno teria, então, planejado e contratado a execução de Wallace.
Plano inicial para matar empresário deu errado
- Segundo a polícia, Bruno Nunes pagou Arthur Laudevino para ir a Minas Gerias buscar o veículo com placa clonada. O carro chagou ao Espírito Santo em 30 de maio.
- Bruno Nunes e Eferson foram, então, até a Paraíba buscar Arthur Neves de Barros. Eles chegaram ao Estado em um carro alugado em 29 de maio.
- O plano inicial era que o mandante, apontado como o diretor financeiro da empresa, não estivesse no Espírito Santo na data do crime. Investigadores descobriram que ele teria comprado uma passagem cinco dias antes para ele, a esposa e o filho irem a Orlando, nos Estados Unidos. Ele ficou fora do Brasil até 8 de junho, véspera do assassinato.
- A vítima também viajou, o que impediu que o crime ocorresse no período planejado. Wallace voltaria no domingo, mas o voo não pôde decolar devido ao mau tempo.
- Wallace não foi trabalhar na segunda de manhã. Os suspeitos não sabiam do problema no voo e, por isso, estiveram na porta da empresa na segunda logo cedo.
- Como saíram cedo, eles não haviam tomado café. Os suspeitos, então, saíram para lanchar. Pouco depois, receberam a informação de que Wallace havia chegado a empresa.
- Os criminosos retornaram ao local e estacionaram próximo ao carro do empresário. Arthur Neves, o atirador, estava sentado no banco traseiro.
- O grupo acreditava que Wallace sairia da empresa pela portaria da Avenida Champagnat, para que o ataque ocorresse na calçada. Mas ele saiu pela rua lateral.
- Os criminosos não viram ele sair. Eles só perceberam que Wallace estava do lado de fora, já quando o empresário colocava os pessoais no carro. Por isso, o assassinato ocorreu como o registrado nas câmeras de segurança.