
O médico Adoris Loureiro Lopes, envolvido na morte do bebê Miguel Nunes Costa Reis, de 35 dias, em julho deste ano, durante uma consulta em uma clínica particular de Vila Velha, foi indiciado pela polícia por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) aceitou o pedido de indiciamento e apresentou à Justiça a denúncia contra o profissional.
Segundo os pais da criança, o bebê foi levado à clínica após apresentar sintomas de refluxo, já que havia sido diagnosticado anteriormente com a doença.
Miguel foi amamentado pouco antes da consulta, a pedido do próprio médico. O bebê teria sujado a fralda e o profissional foi até o banheiro e ligou a torneira, onde colocou a criança de cabeça para baixo para realizar a limpeza.
À época do caso, o pai da criança, o advogado Ronaldo dos Santos Costa, afirmou ter ficado surpreso com a atitude do médico.
“Eu achei estranho porque ele pegou meu filho, virou de cabeça para baixo e falou: ‘vou mostrar para vocês como se dá banho em menino’. Abriu a pia do consultório mesmo, água gelada, e jogou água no menino, com o menino de cabeça para baixo, sendo que meu filho tinha acabado de mamar”, relatou Ronaldo.

Atitude inadequada e negligente, diz delegado
O delegado adjunto da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Glalber Queiroz, responsável por conduzir a investigação, relatou que ao final das apurações a polícia concluiu que o médico agiu de forma imprudente e negligente em relação ao bebê.
Conforme explicou, o médico tinha uma extensa agenda de atendimentos no dia em que Miguel morreu.
Após lavar o bebê de cabeça para baixo, Adoris teria colocado o menino, já roxo e com dificuldades para respirar, em cima de uma maca e fez massagens cardíacas. Foi nesse momento que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado.
No entanto, de acordo com os profissionais do Samu, o médico simplesmente entregou a criança aos cuidados dos socorristas e se retirou para atender outros pacientes, sem sequer explicar a eles o que havia acontecido. O menino morreu no local.
Ao final das apurações, nós chegamos à conclusão de que o médico contribuiu diretamente para a morte do bebê, de forma imprudente ou negligente. Imprudente no momento em que ele manipulou de forma indevida um bebê com sintomas de refluxo e que tinha acabado de ser amamentado. Negligente porque ele se omitiu à sua obrigação legal de cuidar do bebê e acompanhar o atendimento do Samu”.
Delegado Glalber Queiroz
Câmeras do consultório
Uma outra coisa que chamou atenção da polícia foi o fato de que as câmeras do consultório não haviam registrado a ação do médico.
Segundo o delegado, as câmeras do local são modernas, mas o aparelho utilizado para armazenar as imagens era antigo. O aparelho passou por perícia, mas as filmagens não foram encontradas.
“Nós apreendemos as câmeras, e elas, segundo o laudo emitido pela perícia, são bem modernas. Porém o aparelho que faz a gravação dessas imagens é bem antigo. Nós submetemos à perícia o aparelho com essas imagens arquivadas, mas, infelizmente, não conseguimos ter acesso às imagens”, contou Glalber Queiroz.
Ainda de acordo com o delegado, a perícia não esclareceu se as imagens haviam sido apagadas ou não foram registradas, apenas que “não existiam”.
Um outro fato curioso é que, no mesmo dia da morte do bebê, um técnico responsável pela manutenção das câmeras esteve no consultório.
“Ao longo das investigações constou que, de fato, o técnico responsável pela manutenção das câmeras foi acionado. O médico até disse, durante a apuração, que o técnico poderia colaborar com as investigações”, disse o delegado.
Médico alegou que morte de bebê foi acidente
O médico participou ativamente de todo o período do inquérito, segundo o delegado. Por ter sido colaborativo, ele não teve prisão preventiva decretada.
O profissional investigado negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade e afirmou que, em toda a sua carreira, um episódio como este nunca havia ocorrido.
“É um médico muito experiente, referência, muitos pacientes foram ouvidos durante o inquérito. Ele disse que, ao longo de toda a carreira, isso nunca aconteceu. Pode ser que, por conta de sua vasta experiência, em algum momento, ele adotou alguma conduta que não deveria ter tomado. Ele disse que sempre atuou assim e nada aconteceu”, disse.
O médico alegou ainda que o bebê tinha fissuras perianais quando chegou ao consultório. O laudo cadavérico emitido pela Polícia Científica não fala sobre o que diretamente causou as fissuras, mas existe o relato.
O que diz a defesa do médico
Por nota, os advogados que defendem o médico afirmam que o atendimento prestado observou integralmente os preceitos médicos aplicáveis.
“A defesa mantém plena confiança no Judiciário para que os fatos sejam analisados e a situação seja esclarecida de forma definitiva”, afirmou a defesa.