Operação policial no Rio de Janeiro tem repercussão internacional
Foto: Eusébio Gomes/TV Brasil

Nenhum dos 99 mortos na megaoperação contra o Comando Vermelho, identificados até a noite desta sexta-feira, 31, pela polícia do Rio de Janeiro, faz parte da lista dos 68 nomes denunciados pelo Ministério Público Estadual à Justiça. O Estadão teve acesso ao documento e comparou as identidades dos citados. A defesa deles não foi localizada.

Em nota, o Ministério Público do Rio disse que ainda analisa os dados e não tem o balanço de quantos dos denunciados foram presos ou mortos.

Embora a investigação do MP tenha sido usada pela polícia para deflagrar a operação, o procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, disse em coletiva na quarta, 29, que o órgão não participou da ação tampouco do planejamento dela – ele foi informado quando ela já estava em curso. A reportagem questionou a Polícia Civil e aguarda retorno.

Ao todo, 121 pessoas morreram durante a ofensiva policial, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, que mirou lideranças do Comando Vermelho e investigados por envolvimento com o tráfico de drogas.

Quatro delas eram policiais e, segundo a Secretaria de Segurança do Estado, as outras 117 pessoas tinham envolvimento com o narcotráfico. Entre os presos, são 113 ao todo.

A lista dos óbitos identificados foi anunciada pela cúpula das forças de segurança do Estado no início da tarde. Até o período da noite, outros 18 mortos ainda não tinham sido identificados.

Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta, a Polícia Civil do Rio informou que, deste grupo de 99 mortos, 42 possuíam mandados de prisão pendentes e ao menos 78 tinham “extenso histórico criminal”.

Todos os corpos já foram periciados e, até a última atualização, 89 haviam sido liberados para retirada pelos familiares. “As diligências seguem para identificar os restantes”, informou a Polícia Civil.

Doca, o alvo principal

Entre os denunciados pelo MP está Edgard Alves de Andrade, o Doca, considerado um dos principais líderes do CV nas ruas. Ele não foi preso nas incursões e segue foragido.

O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, disse que a polícia esteve muito perto de capturá-lo e que a prisão dele “é uma questão de tempo”. “Por um triz nós não prendemos o Doca. Mas demos aí um baque na facção. A hora dele vai chegar, é questão de tempo.”

O governador Cláudio Castro (PL), para quem a operação foi bem-sucedida, voltou a elogiar a ofensiva policial ao afirmar que o “trabalho de investigação e inteligência foi adequado”. “Em breve, vamos entregar os relatórios completos para as autoridades competentes”, disse.

Para a polícia, isso foi uma evidência da ampliação da atuação do Comando Vermelho, maior organização criminosa do Estado e uma das maiores do País, e da forma como o Rio serve de abrigo a lideranças criminosas de outras partes do Brasil.

Segundo o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, nove deles foram mortos na operação:

  • Russo, chefe do tráfico na Serra;
  • DG, chefe do tráfico na Bahia;
  • FB, chefe do tráfico na Bahia;
  • PP, chefe do tráfico do Pará;
  • Chico Rato, chefe do tráfico em Manaus;
  • Gringo, chefe do tráfico em Manaus;
  • Mazola, chefe do tráfico em Feira de Santana;
  • Fernando Henrique dos Santos, chefe do tráfico em Goiás;
  • Rodinha, chefe do tráfico em Itaberaí.

Embora a identidade dos presos não tenham sida informadas, um terço dos 113 detidos na operação também é proveniente de outras partes do Brasil. O Estadão pediu à polícia os nomes dos 113 detidos para checar se estão na lista dos denunciados pelo MP-RJ, mas a solicitação não foi atendida.

Investigações apontam que os complexos do Alemão e da Penha funcionavam como centros de comando da facção e serviam até para treinamento tático dos criminosos.

Segundo a polícia, ambos os locais serviam como polos de abastecimento e distribuição de drogas e armas para outras comunidades controladas pelo Comando Vermelho. Estima-se que chegavam a circular 10 toneladas de drogas na região por mês.

As apurações indicam que pelo menos 24 comunidades do Rio de Janeiro — entre elas o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, a Rocinha, o Complexo da Maré, o Jacarezinho e o Complexo do Lins — são diretamente abastecidas por esses fluxos ilícitos.