Polícia

Casa onde morreram irmãos Kauã e Joaquim, em Linhares, é devolvida ao dono

A casa estava interditada desde o dia do crime pela Polícia Civil

Gustavo Fernando

Redação Folha Vitória
Foto: Andre Vinícius Carneiro

Nove meses após ter sido interditada pela Polícia Civil, a casa onde os irmãos Kauã e Joaquim foram mortos por George Alves, em Linhares, foi devolvida ao dono. O local, que passou por diversas perícias ao longo da investigação do crime, foi restituída nesta quinta-feira (17).

Segundo moradores da região, a limpeza do local já foi iniciada e os móveis e objetos queimados foram, inicialmente, empilhados em frente a residência. A casa estava interditada desde o dia 21 de abril de 2018. 

Atualmente, Georgeval Alves segue preso no Centro de Detenção de Viana por estuprar, espancar e atear fogo nos irmãos ainda vivos. A mãe das crianças, e esposa de Georgeval, Juliana Sales, está no Centro Prisional Feminino de Cariacica, onde permanece sob os cuidados da Justiça. Ela é acusada de ter conhecimento do risco  que as crianças sofriam por estarem sozinhas com o marido, o que caracteriza, para o Ministério Público do Espírito Santo, omissão. 

Entenda o caso

Em maio de 2018, a Polícia Civil informou que, após cerca de 30 dias de investigação, chegou-se a conclusão de que o pastor Georgeval Alves abusou sexualmente, agrediu e matou Joaquim Alves Sales, de 3 anos, e Kauan Sales Butkovsky, de 6 anos. 

De acordo com o chefe da Regional de Linhares, André Jaretta, as investigações apontaram que as crianças morreram carbonizadas e que o fogo foi ateado no quarto onde elas estavam ainda vivas.

Abuso sexual

"O conjunto nos demonstra que naquela madrugada, o investigado inicialmente molestou as duas crianças, tanto o filho biológico, quanto o enteado, mantendo ato libidinoso, consistente em coito anal. Isso é demonstrado tecnicamente pelo encontro de uma substância denominada 'PSA' que é contida no sêmen humano. Essa substância foi encontrada no orifício anal das duas vítimas. Não seria possível estar naquele local se não por um agente externo".

Violência física

"Feito isso e com o propósito de ocultar o ato perverso praticado, ele praticou violência física contra as crianças. Isso é comprovado pelo vestígio de sangue no box do banheiro e o exame de DNA comprovou ser do Joaquim, seu filho biológico".

Incêndio

"Com as duas vítimas ainda vivas, porém desacordadas, o investigado as levou até o quarto das crianças, as colocou na cama e, utilizando-se de um agente acelerador, um líquido inflamável derivado do petróleo, um combustível, ateou fogo nas crianças e no local, naquele quarto. Fazendo com que elas fossem mortas pela ação do fogo, o calor".

Causa da morte

"Elas morreram pela carbonização. O agente acelerador, o combustível, foi comprovado pelos exames periciais, assim como o fato de que elas morreram carbonizadas também foram comprovados pelo exame. Isso porque elas não tinham fuligem, ambas as crianças, na traqueia, bem como apresentavam uma substância no sangue que demonstravam que elas ainda respiravam quando começou o incêndio. Porém, esse incêndio foi rápido e intenso, de forma que todo o contexto vem que uma perícia corrobora a outra."

Omissão de socorro

"Feito isso, o incêndio e a carbonização das crianças estando avançado, o investigado foi para a parte externa da casa e, sem que abrisse o portão, ficou andando de um lado para o outro, até que transeuntes, vizinhos, vissem aquele cenário, parassem e por conta própria prestassem auxílio, arrombando o portão e acionando os Bombeiros para o combate ao incêndio. Porém, quando os populares chegaram, já não havia mais condições de oferecer qualquer ajuda às crianças."

Promoção pública

"Posteriormente a isso, todos nós presenciamos que o investigado tentou se promover publicamente, tentando passar uma personalidade inversa daquilo que ele demonstrou."

Perícias

"Os peritos que foram ao local fizeram coletas de materiais suspeitos, foi onde se determinou a presença de sangue no box da casa. Sangue esse que foi levado ao laboratório de DNA criminal, sido posteriormente identificado como sendo do Joaquim. As amostras foram encaminhadas para os laboratórios da Polícia Civil. Estes departamentos realizaram mais de 20 perícias."

Crianças não foram dopadas

"A Toxicologia iniciou um trabalho para verificar se estas vítimas poderiam ter sido dopadas ou sedadas, visto que elas não tiveram nenhuma reação ao incêndio que se formou. Não foi encontrado nenhum produto de dopping, nenhum medicamento que mostrasse sedação e as investigações continuaram."

Fumaça não foi a responsável pela morte das crianças

"Pesquisamos substâncias que aparecem em vítimas de incêndio, que inalam fumaça. As substâncias foram encontradas no sangue das duas crianças, porém em níveis insuficientes para causar a morte das mesmas. Não foram níveis nem suficientes para causar a inconsciência das mesmas. Elas não reagiram a este incêndio, tendo sido encontrados os corpos das mesmas no mesmo local onde estavam as camas. Um indício que já contribuiu muito para a investigação da força tarefa.

Crianças foram estupradas

Finalmente foi pesquisado a hipótese de abuso sexual, através da utilização de uma técnica que procura substância, uma proteína que faz parte do sêmen humano, exclusivamente. Ela se chama PSA, produzida pela próstata, e foi encontrada na cavidade anal de ambas as crianças."

Corpos estavam irreconhecíveis

"O laboratório de DNA criminal, além da identificação do sangue do box como sendo do Joaquim, trabalhou também na identificação dos corpos das crianças, que estavam irreconhecíveis. Não era possível identificar qual dos corpos pertencia a qual criança."

Substâncias acelerantes usadas no incêndio

"O Laboratório de Química realizou a análise da pesquisa dos acelerantes, combustíveis, em amostras coletada pela perícia dos bombeiros e outras amostras nos corpos. Essa análise identificou positividade para substâncias inflamáveis, classificadas como derivadas do petróleo em duas dessas amostras, indicando que sim, foi feito o uso de algum tipo de combustível no local que também vai ao encontro dos achados no local, com a tamanha destruição encontrada. Como relatou, os fatos e as perícias foram se encaixando por si só."

Passo-a-passo

"O que a gente viu pelos dados que a gente coletou com as testemunhas que nós ouvimos, que a Polícia Civil ouviu, com as imagens de câmeras de segurança que a PC recuperou e que nos passou foi o seguinte: Por volta de 2h20, esse é um tempo estimado, a porta do quarto foi aberta. Isso é estimado com base no tempo rígido de que 2h22 as imagens mostram fumaça saindo da casa; A gente estima 2h20 que é o tempo pra fumaça sair do quarto, inundar o corredor, os cômodos e sair. Então teve ventilação no incêndio, que provocaria ele se desenvolver com mais intensidade; Às 2h23 chegou o primeiro carro, que depois foi ao quartel acionar a corporação; Às 2h24, dois minutos depois da fumaça, chegou o carro com os rapazes que entraram na casa para tentar ajudar. Esses rapazes não conseguiram entrar no cômodo, então era o calor. Depois de três tentativas de entrar no cômodo sinistrado e não conseguirem, um deles ouviu a janela se quebrar".

"Depois que a janela se quebra, melhora ainda mais a ventilação do cômodo, que dá espaço para a fumaça sair e o ar entrar, e o cômodo se queima mais intensamente. Às 2h28 aparece nas imagens da câmera, o incêndio se generalizando no quarto e 2h30, dois minutos depois apenas, a guarnição dos bombeiros chega. Dois minutos depois do flash over, que é quando começa a acontecer a destruição intensa do cômodo, os bombeiros chegaram. Só que quando a guarnição chegou, já não havia mais cama, já não havia mais escrivaninha. O fogo estava apenas nos armários e isso já um dado muito importante, porque tem que ter acontecido um desenvolvimento do incêndio para que tenha provocado a destruição do combustível antes da ventilação, pois após a ventilação estes dois minutos não seriam suficientes."


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