Polícia

Surto em creche: Polícia Civil vai investigar possível negligência após morte de criança

Segundo a polícia, como houve a morte do pequeno Theo, de dois anos, a apuração deve existir para ser esclarecido se, de fato, houve ou não negligência da parte dos proprietários da creche com os alunos

Foto: tania_rego-arquivo_agencia_brasil

A Polícia Civil abriu um inquérito policial nesta segunda-feira (1) para apurar o caso das crianças que apresentaram problemas de saúde após o surto de diarreia na creche Praia Baby, na Praia da Costa, em Vila Velha.

Segundo a PCES, como houve a morte de uma criança, o pequeno Theo, de dois anos, a apuração deve existir para ser esclarecido se, de fato, houve ou não negligência da parte dos proprietários da creche com os alunos.

O pedido de instauração do inquérito foi feito pelo delegado-geral da Corporação, José Darcy Arruda. Segundo a polícia, até o final desta segunda-feira, uma comunicação interna será enviada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e a apuração deve acontecer por parte da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vila Velha. Ainda não há data para início das oitivas com as partes.

Casos aumentam

Subiu para 17 o número de pessoas doentes após o surto de diarreia na creche. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, entre os doentes estão 11 alunos da creche, dois funcionários, três professores e o filho de dois anos de uma das educadoras, que teria contraído infecção através da mãe, registrando a primeira ocorrência da doença fora do ambiente escolar.

Cinco crianças continuam internadas. Uma delas está em estado grave em um hospital particular no município da Serra. Um dos primeiros pacientes, cujos sintomas se manifestaram no dia 15 de março e que chegou a receber alta médica após 13 dias de internação, precisou ser novamente hospitalizado neste fim de semana, em Vila Velha, após agravamento do quadro de saúde.

'Análise equivocada'

Diante das informações que têm sido veiculadas, os proprietários do centro educacional divulgaram um posicionamento na tarde desta segunda-feira. No comunicado, a creche Praia Baby informa que o chafariz, chamado Acqua Play, é utilizado há quatro anos.

Segundo a Praia Baby, as amostras coletadas no Acqua Play foram feitas durante o período em que a creche estava temporariamente fechada - por decisão própria - e o brinquedo estava desativado. "O Acqua Play havia sido utilizado, inclusive, como depósito de brinquedos naquele momento para que os proprietários fizessem uma ampla higienização da creche, ocorrida após os relatos de casos de diarreia. A coleta de materiais naquele período (em que estava desativado e sendo utilizado como depósito de brinquedos para que uma ampla higienização fosse realizada) pode levar, portanto, a análises laboratoriais equivocadas", afirma

"O espaço anexo ao fundo da creche era devidamente isolado e servia como depósito de material particular dos proprietários. Os alunos nunca tiveram acesso a esse espaço, que sempre passou também por rigoroso processo de limpeza. Câmeras de monitoramento sempre foram conectadas aos celulares dos pais dos alunos, que podiam fazer a supervisão em tempo real de todos os procedimentos que aconteciam na creche. A transparência dos nossos atos sempre foi uma prioridade", finaliza a instituição.

Desmonte de cervejaria

Na última sexta-feira (28), o desmonte da produção de cerveja artesanal, que funcionava nos fundos da creche e era mantida pelo proprietário do local, foi decretado pela Prefeitura de Vila Velha. Os equipamentos já teriam sido retirados do terreno. Técnicos a serviço da administração do município vão agora verificar o projeto hidrológico das instalações a fim de checar se existem ligações comuns no encanamento entre a creche e a cervejaria.

De acordo com o secretário de Saúde de Vila Velha, a prefeitura não tinha conhecimento da fábrica de cerveja. Isso porque o espaço teria sido criado após a liberação do alvará de funcionamento da creche, no ano passado, emitido pela administração municipal. A produção da bebida no mesmo ambiente onde há atividade de educação infantil, é irregular.

Escherichia Eccoli

Novos resultados de exames, divulgados neste domingo (31), pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo, identificaram a presença de um subtipo da bactéria Escherichia Eccoli, denominada Enterohemorrágica, que desencadeia a reação de diarreia sanguinolenta aguda, em coletas realizadas em duas crianças.

A bactéria em si, segundo a infectologista Rúbia Miossi, habita normalmente no trato gastrointestinal de pessoas saudáveis e animais, como os mamíferos, auxiliando no processo de digestão dos alimentos e defesa do organismo contra agentes infecciosos, mas pode sofrer mutação.

A especialista explica que por conta da baixa imunidade, crianças com até dois anos de idade e adultos acima dos 60 anos, são os mais vulneráveis às doenças causadas pelo micro-organismo. A infecção pode ocorrer por meio da ingestão de alimentos contaminados que foram mal higienizados ou pouco cozidos, assim como pela água que tenha tido contato com fezes de uma pessoa doente, que portava a bactéria.

Conselho de Química

Diante da repercussão a respeito do surto de diarreia na creche, o Conselho de Química do Espírito Santo realizou, na manhã desta segunda-feira, uma inspeção no local. Os profissionais investigam o uso indevido de cloro na água, já que, sem escoamento, a substância poderia acarretar prejuízo à saúde dos usuários de um chafariz de brinquedo da creche.

Atualização dos casos

Os pacientes sintomáticos da creche até agora somam 16 pessoas, entre alunos e funcionários da creche:

1) Menino, 2 anos: início dos sintomas em 15/03. Recebeu alta hospitalar em 28/03, reinternando em 01/04/2019.

2) Menino, 2 anos: iniciou sintomas em 18/03, evoluindo a óbito em 27/03.

3) Menino, 3 anos: início dos sintomas em 18/03, segue hospitalizado apresentando melhora.

4) Menino, 2 anos: iniciou sintomas dia 18/03, com melhora completa. Não precisou ser hospitalizado.

5) Menina, 2 anos: iniciou sintomas dia 22/03, seguindo em tratamento domiciliar. Foi hospitalizada dia 27/03 e segue em UTI.

6) Menina, 2 anos: apresentou sintomas dia 12/03, atribuída ao uso de antibiótico. Apresentou melhora.

7) Menina, 5 anos: iniciou sintomas dia 21/03, auto-limitada, com melhora espontânea em 21/03.

8) Menina, 5 anos: iniciou sintomas dia 25/03, com melhora progressiva.

9) Menino, 1 ano: iniciou sintomas dia 16/03 com melhora em 18/03. Reiniciou sintomas em 21/03 atribuído ao uso de antibiótico por causa de sintomas respiratórios. Segue hospitalizado por causas respiratórias.

10) Professora, 37 anos: sintomas em 23/03, com melhora.

11) Assistente de classe, 27 anos: iniciou sintoma em 18/03, com melhora.

12) Menino, 2 anos: iniciou sintoma dia 27/03. Segue hospitalizado por precaução.

13) Professora: afastamento por suspeita de diarreia.

14) Funcionária, 41 anos: iniciou sintomas dia 26/03.

15) Menino, 7 meses: iniciou sintomas dia 23/03. Procurou atendimento médico e segue em tratamento domiciliar.

16) Professora, 35 anos: com sintoma em 29/03.

Sem vínculo direto com a creche:

01) Menino, 02 anos: filho de uma professora que trabalha na creche e que apresentou diarreia, portanto, apresenta vínculo epidemiológico com a creche. O menor iniciou sintomas em 27/03, ficando hospitalizado. Recebeu alta dia 30/03 e foi reinternado dia 31/03, por precaução.

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