Polícia

Mais de 6 mil pessoas foram vítimas de golpes na internet este ano no ES; saiba como se proteger

Em tempos de pandemia, em que as pessoas passaram a utilizar ainda mais os meios eletrônicos, a tendência é de aumento dos chamados crimes cibernéticos

Foto: Reprodução

Somente nos primeiros meses de 2021 foram registrados, no Espírito Santo, um total de 6.340 boletins de ocorrências, relatando crimes de estelionato e fraude. O número é quase o dobro do registrado em todo o ano passado, quando a Polícia Civil recebeu 3.659 denúncias desse tipo. Já em 2019, foram 2894.

A maior parte desses crimes é cometida pela internet, nas mais variadas plataformas. Em tempos de pandemia, em que as pessoas passaram a utilizar ainda mais os meios eletrônicos, a tendência é de aumento dos chamados crimes cibernéticos.

"Os crimes continuam acontecendo, principalmente neste momento de pandemia. É um assunto que a gente fala e as pessoas sempre devem se atentar em casa, sempre tomar os devidos cuidados. Às vezes a gente percebe que as pessoas não querem gastar um minuto, dois minutos, até na própria internet, verificando se aquela informação que ela está recebendo, na maioria das vezes pelo WhatsApp ou por e-mail, é ou não verdadeira. Você pode gastar um, dois, três minutos, mas vai evitar que o seu dinheiro seja perdido", orienta o titular da Delegacia Especializada de Crimes Cibernéticos, delegado Brenno Andrade.

Um dos golpes mais novos que têm sido praticados em diversos estados brasileiros, incluindo o Espírito Santo, é o do Vale-Gás Social. A mensagem recebida pela vítima, prometendo um vale-gás para o cidadão, parece oficial. 

A mensagem é enviada em nome do governo federal, oferecendo um "vale-gás social", no valor de de R$ 110 por mês, para cada família que se cadastrar em um site. O golpe estaria ocorrendo por causa do aumento excessivo de preço do gás de cozinha. 

Segundo o texto, o benefício estaria disponível para pessoas de baixa renda, aposentados, beneficiários do auxílio emergencial e também para todos os que recebem bolsa família. A pessoa então entra em um link, deixa alguns dados pessoais e é encaminhada a um site. 

Em seguida, ela é conduzida a compartilhar as mensagens com pelo menos cinco contatos, para que consiga obter o benefício. A principio nada acontece. No entanto, a vítima, em seguida, começa a receber ligações de fora, onde os criminosos deixam claro que tiveram acesso aos dados informados pela pessoa. A polícia lembra: jamais clique em links assim. 

"O principal fato para você desconfiar é você receber esse link pelo aplicativo de mensagens. Não é usual. Então verifique sempre os canais oficiais das instituições bancárias, do governo, para verificar se o número que te enviou a mensagem é verdadeiro ou não, se a informação que você, por acaso, recebeu, por meio de um aplicativo de mensagem, é verdadeiro ou não", frisou o delegado.

Um outro homem, que pediu para não se identificado, disse que não caiu no golpe do suposto benefício do governo federal porque estava atento. "Antes de clicar em qualquer link, eu verifico as orientações de segurança. Depois que eu passei a pesquisar sobre o assunto, ver as orientações de especialistas, pesquisar na internet sobre a procedência de links maliciosos, eu passei a ficar um pouco mais esperto. Quando a esmola é demais, a gente precisa desconfiar", afirmou.

Crimes cibernéticos

O golpe do vale-gás é apenas mais um que envolve mensagens, e-mails, links para clicar. Quase todo mundo já ouviu falar ou já foi vítima de algum golpe desse tipo. "Já aconteceu com meus pais, que já são de uma certa idade, de tentarem aplicar golpe neles. Ligação oferecendo produto que oferecem um monte de benefício, mas na verdade só querem arrancar dinheiro. Então eu procuro, cada vez, orientá-los da melhor forma, para eles não caírem nesse golpe", destacou o radialista Jessé Fraga.

O objetivo desse tipo de crime é ter acesso aos dados do cidadão. O bandido faz de tudo para conseguir nome completo, nomes dos pais, endereço, CPF, entre outras informações. De posse disso, ele parte para a segunda etapa do golpe: se passar pela vítima.

No início deste mês, um engenheiro de 45 anos foi preso suspeito de clonar cartões de crédito e fazer compras em sites da internet. Na casa dele foram encontrados cartões, um simulacro, máquinas e produtos que teriam sido comprados de forma fraudulenta.

"A Polícia Civil recebeu, em dezembro de 2020, uma denúncia de um grande site de vendas, de que uma pessoa estaria utilizando cartões clonados para aplicar golpe na plataforma, e que o prejuízo estaria em torno de R$ 50 mil. Esses golpes estariam sendo praticados no decorrer do ano de 2020. A polícia, então, começou a investigar, a partir do recebimento dessa denúncia. Obtivemos êxito em cumprir o mandado de busca e apreensão domiciliar na casa desse suspeito, dessa pessoa", disse o delegado Brenno Andrade, no dia da divulgação do crime.

Caso a pessoa caia em um golpe desse tipo, é preciso denunciar e pedir ajuda aos órgãos competentes. O Procon estadual tem recebido muitas denúncias de clientes que compram em sites de vendas e depois tem seus dados usados indevidamente. Do ano passado para cá, foram 705 registros.

"Por isso é importante: não passe os dados do seu cartão para empresas que você não confia, que você não conhece. Proteja o máximo possível as suas informações, troque as senhas constantemente. E quaisquer dúvidas, entre no site do Procon, que lá nós temos mais dicas para você evitar essa fraude", ressaltou o diretor-presidente do Procon-ES, Rogério Athayde.

O principal desejo das vítimas é recuperar o prejuízo. No entanto, Brenno Andrade lembra que essa tarefa não é simples e que, por isso, o melhor é se prevenir. "Quando a gente recebe as pessoas aqui na delegacia, elas querem o dinheiro de volta. O dinheiro, infelizmente, é a parte mais difícil de ser recuperada em relação à ocorrência. Nós temos a possibilidade de investigar, identificar o criminoso. Mas, a partir do momento em que você transfere o seu dinheiro para ele, ele já saca o dinheiro ou transfere para outras contas. Por isso que a gente sempre fala para as pessoas tomarem cuidado. O criminoso não vai invadir o celular de uma determinada vítima. Você é que vai passar a informação para ele. E se você não passar, você não vai ser vítima", destacou o delegado.

Leia também: Hacker invade conta de padre de Vila Velha no Instagram e pede resgate de quase R$ 4 mil

Cuidados

O especialista em tecnologia Mayk Brito ressalta que os crimes cibernéticos dependem, na maioria das vezes, de um vacilo do usuário. Um simples clique pode ser o suficiente para abrir caminho para o bandido aplicar o golpe.

"Você precisa evitar de deixar informações pessoais de maneira pública na internet, seja seus dados pessoais, onde você mora, onde você está, o que você está fazendo. Toda vez que nós fazemos isso, nós abrimos brechas para pessoas mal intencionadas irem atrás da gente ou pegarem informações da gente", orientou o especialista.

Mayk também reforça os cuidados que devemos ter com logins e senhas. "Com relação aos logins ou senhas que a gente deixa salvo no nosso navegador, na nossa internet, no nosso computador, às vezes a gente deixa ali CPF, cartão de crédito, senha, login, deixa tudo ali. De certa forma, isso está inseguro também, porque você está deixando uma possibilidade de alguém pegar aquilo ali do seu computador e usar essas informações de maneiras indevidas", alertou.

O advogado criminalista Cássio Rebouças explicou que esse tipo de golpe se enquadra como estelionato. "O estelionato é um crime patrimonial, que está previsto no Código Penal, no artigo 171, e se caracteriza pela ação do agente que, por meio de alguma fraude ou mantendo a vítima em erro quanto à situação que se apresenta, obtém dela uma vantagem ilícita. Ou seja, a obtenção de vantagem ilícita mediante fraude. Ele tem uma pena de 1 a 5 anos de reclusão, e essa pena pode ser aplicada em dobro quando a vítima se trata de um idoso", informou.

O advogado reforça ainda que a internet não é uma terra sem lei. Os crimes cibernéticos já estão previstos no Código Penal e devem ser denunciados. "Temos alguns tipos novos penais na nossa legislação. O que acontece é que crimes antigos, já muito conhecidos das autoridades policiais e dos operadores do direito penal, têm agora novas possibilidades de serem praticados por meio de dispositivos informáticos, de aplicativos da internet, de meios eletrônicos. Então o estelionato é só um desses vários crimes que podem ser praticados de forma virtual. O furto, a extorsão, a ameaça, os crimes contra a honra, todos eles podem ser praticados de inúmeras formas, entre elas, por meio de dispositivos informáticos", salientou.

O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos reforça a importância da denúncia, já que essas quadrilhas estão espalhadas pelo país inteiro. 

"Se você perceber que seus dados foram vazados, se o seu cartão foi utilizado para compras indevidas, faça o seu boletim de ocorrência. Não deixe de fazer esse registro, que é muito importante".

Além da polícia e da Justiça, quando o golpe envolve empresas, lojas ou bancos, a vítima pode acionar o Procon estadual. "Procure os órgãos de proteção de defesa do consumidor, abra uma reclamação e também procure a delegacia de defesa do consumidor, para apurar, e nós verificarmos quem está, efetivamente, por trás desses golpes", frisou Rogério Athayde.

Para combater esse tipo de crime é preciso reunir provas e formalizar a denúncia. E para evitar ser vítima, é preciso redobrar a atenção, principalmente não clicando em links desconhecidos.

"Se a gente clica nesse link de SMS, às vezes a gente acha que realmente estamos participando de alguma promoção ou tem alguma coisa muito boa acontecendo. Ao clicar ali, suas informações podem ser vazadas. Tem gente que, às vezes, perde o WhatsApp, perde muitas informações por clicar nesses links. Então não clique, não passe o seu número ou senha", reforça Mayk Brito.

"Às vezes vem no SMS assim: 'esse é o seu identificador para alguma coisa, alguém vai te ligar e pedir esse identificador'. Ou alguém te pede isso pelo WhatsApp. Cuidado! Não fique passando essas informações, desconfie de tudo. Quando você começa a ter mais desconfiança, mais alerta, mais seguro você vai estar com relação a esses assuntos", completou.

Veja algumas dicas para se proteger de crimes cibernéticos:

- Verifique sempre a autenticidade da mensagem recebida e de quem encaminhou a mensagem. E nunca clique em um link desconhecido.

- Jamais informe número de cartão de crédito ou qualquer outro dado importante para empresas desconhecidas.

- Desconfie de mensagens recebidas por aplicativos de mensagens. Verifique os canais oficiais da empresa ou órgão público que, supostamente, encaminhou a mensagem, para verificar se o número é realmente verdadeiro.

- Evite expor informações pessoais na internet, como seus dados pessoais, onde você mora, onde você está, o que você está fazendo. 

- Muito cuidado ao deixar salvos, nos navegadores de internet, logins, senhas e outras informações importantes, que possam ser utilizadas por um criminoso. Também é importante a troca constante de senhas.

- Caso seja vítima de algum golpe, sempre registre um boletim de ocorrência. Também é recomendável procurar os órgãos de defesa do consumidor, caso o crime envolva alguma empresa.

Com informações do repórter Michel Bermudes, da TV Vitória/Record TV 

Pontos moeda