Polícia

Nutricionista e professor de educação física são presos acusados de vender anabolizantes no Espírito Santo

Além de Fábio Norte de Jesus e Andrea Bisi Alves de Jesus, foram presas outras seis pessoas. Grupo atuava com a participação de empresários, médicos, farmacêuticos e nutricionistas

Casal foi preso durante operação do Nuroc Foto: Reprodução Facebook

Oito pessoas foram presas durante uma operação do Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), cujo objetivo foi desmantelar uma organização criminosa suspeita de comercializar, de forma ilegal, substâncias anabolizantes e outras drogas na Grande Vitória e no interior do Estado. 

Entre os detidos está o professor de educação física Fábio Norte de Jesus, o Fabão, suspeito de fornecer os anabolizantes, e a esposa dele, a nutricionista Andrea Bisi Alves de Jesus. Fábio, inclusive, já havia sido vice-presidente da Federação Capixaba de Bodybuilding e Fitness. De acordo com a polícia, o casal já havia sido preso, pelo mesmo crime, em 2009.

"Eles têm um contato muito grande nessa questão de fisiculturismo, de atletas que cultuam o corpo. Com isso, ela receitava ou indicava a utilização desses medicamentos anabolizantes e ele, com os contatos que tinha, adquiria e revendia esses produtos ilegalmente", explicou o delegado adjunto do Nuroc, Alexandre Falcão.

Além do casal, foram presos Chester Ramalho Martins; Márcio Flávio Vago, o Toroba; Kamillo de Lellis Ribeiro; Paulo Henrick de Alvarenga Rodrigues, o PH; Sidney Rodrigues; e Márcio Mendes Mello, conhecido como Branco. Contra eles, havia mandados de prisão temporária.

Márcio Flávio Vago, de 46 anos, é farmacêutico e proprietário de uma farmácia localizada em Itapoã, em Vila Velha. No local, segundo a polícia, os responsáveis pela unidade manipulavam sem receita medicamentos controlados. Com Márcio, a polícia encontrou uma grande quantidade de substâncias anabolizantes.

De acordo com a polícia, há ainda um nono integrante do grupo, que ainda está foragido. Rafael Manoel Matos Silva, de 35 anos, é empresário e reside em Minas Gerais. Segundo a polícia, ele é suspeito de fornecer os produtos de Minas para os envolvidos no Espírito Santo.

Organização criminosa

Segundo a polícia, Paulo Henrick comercializava anabolizantes em sua loja Foto: Reprodução

A Operação "Efeito Colateral" foi realizada nesta quinta-feira (09), em Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Guarapari e Colatina e contou com o apoio do Departamento de Criminalística da Polícia Civil. O objetivo foi dar cumprimento a nove mandados de prisão temporária e 16 de busca e apreensão.

As investigações se iniciaram há aproximadamente seis meses, no intuito de apurar a existência de organização criminosa especializada no comércio ilegal de substâncias anabolizantes na Grande Vitória e no interior do Estado. Segundo a polícia, tais crimes são praticados por empresários que atuam no ramo de venda de suplementos alimentares, profissionais da área de saúde e pessoas ligadas à atividade de musculação.

"O empresário Paulo Henrick estaria comercializando anabolizantes em sua loja de suplementos alimentares e, com isso, nós demos início às investigações. Por meio dele, nós conseguimos descobrir quais seriam seus distribuidores. Seriam o Kamillo, de Colatina, e o farmacêutico de Vila Velha, que é o Márcio. Com isso, nós representamos pela prisão deles e ontem cumprimos oito mandados de prisão temporária e 16 de busca e apreensão", explicou Alexandre Falcão.

Durante as investigações, foi possível identificar a existência de dois grupos distintos com práticas ilícitas semelhantes, nos quais os crimes estariam relacionados com a comercialização ilegal de medicamentos utilizados como esteroides anabolizantes, comercialização de suplementos alimentares adulterados, falsificação e/ou adulteração de notas fiscais e prescrição indevida de medicamentos.

Ainda de acordo com a polícia, o grupo atuava com a participação de empresários do ramo de academias, médicos, farmacêuticos e nutricionistas, devidamente organizados na comercialização ilegal das substâncias anabólicas. 

Polícia cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão durante a quinta-feira na Grande Vitória e no interior Foto: TV Vitória

Parte das referidas substâncias comercializadas pelos investigados é, segundo as investigações, de origem contrabandeada, a maioria delas advindas do Paraguai. A outra parte é adquirida em farmácias regularizadas por meio de receituários médicos emitidos indevidamente, sem que o paciente se submeta a consulta médica que comprove a necessidade de utilização de tais drogas. 

"Muitos médicos receitam, indiscriminadamente, esses medicamentos, sem qualquer tipo de consulta. E, com isso, essas pessoa que estão sendo investigadas iriam até a farmácia e adquiriam esses medicamentos para venderem ilegalmente a seus clientes", ressaltou Falcão.

De acordo com as investigações, na segunda modalidade, o modus operandi subdivide-se da seguinte maneira:

I - Médicos fornecem as receitas indevidamente para que os investigados consigam adquirir grande quantidade dos produtos em farmácias regulares;
II - Farmacêuticos comercializam os produtos sem a exigência dos receituários médicos;
III - Nutricionistas receitam indevidamente os medicamentos anabolizantes a seus pacientes em conluio com os fornecedores.

Apreensões

Várias substâncias anabolizantes foram apreendidas durante a operação policial Foto: Divulgação

Durante a operação, foi apreendida uma farta quantidade de substâncias anabolizantes, outros medicamentos de uso controlado e uma arma de fogo. Segundo a polícia, há indícios de que alguns dos investigados atuam há mais de 15 anos no comércio ilegal de anabolizantes, sendo que alguns já foram presos pela prática do referido crime.

Ainda durante a operação, foram apreendidas diversas substâncias de uso veterinário (utilizadas como anabolizantes), além de material contrabandeado, com suspeita de adulteração, que podem oferecer grave risco à saúde. Os materiais foram encontrados em estabelecimentos comerciais regulares e nas residências dos investigados.

"É trafico de drogas, é um assunto sério. E o trabalho do Nuroc foi ascender essa problemática para a sociedade capixaba, porque as pessoas que consomem e que vendem esse tipo de produto transitam livremente no meio da comunidade", frisou o gerente do Nuroc, delegado Raphael Ramos.

Segundo a polícia, estima-se que o lucro mensal dos investigados com a comercialização das substâncias anabólicas gire em torno de R$ 200 mil, considerando-se o alto padrão de vida em que muitos deles vivem, como apartamentos e carros de luxo. A pena somada dos crimes apurados pode chegar a 30 anos.

De acordo com a polícia, as investigações prosseguem, constituindo tal ação como a primeira fase da "Operação Efeito Colateral", podendo, inclusive, haver cumprimento de novas ordens judiciais e prisões cautelares nos próximos dias.

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