Polícia

Baleada ao buscar bolo: jovem havia sonhado com tiro três meses antes

Reportagem da TV Vitória conversou, com exclusividade, com a família de Thaís Oliveira Rodrigues, de 22 anos, uma semana após o crime

Thaís morreu após ser baleada no momento que ia buscar o bolo de aniversário da mãe e da irmã, em Morada da Barra, Vila Velha

Uma semana depois da morte da universitária Thaís Oliveira Rodrigues, de 22 anos, baleada quando iria buscar um bolo no bairro Morada da Barra, em Vila Velha, os pais e a irmã da jovem conversaram com exclusividade com a equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV.

A mãe de Thaís, Elaine de Oliveira Rodrigues, contou que, cerca de três meses antes do crime, a filha chegou a sonhar que havia sido baleada na costela. No sonho, a jovem havia sido baleada no lado esquerdo, mesmo lado onde ela foi atingida no último sábado (18).

"Ela sonhou que ela tomava um tiro na costela, há uns três meses atrás. No momento ela falou: 'mãe, ele chegava para mim, me baleava e esse tiro pegava na minha costela, do lado esquerdo", contou Elaine, que disse não ter lembrado do sonho logo após a morte da filha.

"No momento eu não lembrava de nada. Depois foi passando aquele filme na minha cabeça de tudo que ela estava me falando e aí eu fui vendo que tudo encaixava naquilo. A resposta veio do Senhor", afirmou.

Thaís foi baleada enquanto ia buscar o bolo do aniversário da mãe e da irmã. Ela estava em um carro com a mãe, a tia, a avó e a irmã, quando bandidos começaram a atirar contra o veículo. A mãe de Thaís contou detalhes sobre o momento de horror vivido pela família.

"A gente estava terminando de atravessar em cima de um quebra-mola, os vidros do carro todos abaixados, assim como pedia, e bem devagar, com o carro pesado. Ela disse: 'mãe, o tiro pegou em mim'. Eu falei: 'mentira. Como pegou em você, minha filha?'. Olhei do lado, olhei para ela, olhei no rosto, olhei no pescoço e nada. Falei: 'deita aqui, deita aqui'. Minha irmã entrou em desespero, acelerou o carro e a gente não viu mais nada. Só vi aquele vulto e ele atirando, atirando", contou.

Em seguida, a família conseguiu pedir socorro a um casal que passava pelo local. "Chegamos na pista de asfalto e apareceu um carro. A minha irmã disse: 'socorro, pelo amor de Deus'. Ele parou pertinho, abriu a porta e perguntou: 'o que aconteceu?'. Ela disse: 'minha sobrinha foi baleada. Me dá socorro'. Ele colocou a cabeça dela e uma parte do ombro no meu colo, eu fui segurando e ele pegou as penas, colocou para dentro, fechou o carro e saiu correndo, fazendo sinal, buzinando, pedindo socorro. A esposa também pedindo socorro, que estavam levando uma menina baleada. E eu falando para ela: 'reage, minha filha. Reage, que nós estamos chegando'. Mas não tinha mais ação", lamenta.

Elaine disse que a filha ainda chegou viva no hospital, mas não conseguiu resistir por muito tempo. "Peguei pelas pernas, ele pegou pelos braços, colocamos na maca. Saí empurrando, só que, quando chegamos lá dentro, eu já vi que não tinha mais Thaís. Já tinha perdido a minha filha. Em menos de cinco segundos, um dos médicos veio para fora e falou: 'mãe, tem documento aí nessa bolsa dela?'. Eu falei: 'tem'. Abri a bolsa, estava entregando o documento a ele e ele falou: 'me dá, mãe, o documento dela'. Eu olhei para cima, fechei meus olhos e falei: 'senhor, minha filha morreu, foi isso?' Aí ele me deu a resposta: 'mãe, sua filha faleceu', lembrou.

Bolo

Já a irmã de Thaís, Micaelly de Oliveira Rodrigues, conta que a mãe chegou a sugerir que elas fossem buscar o bolo de aniversário no dia seguinte, mas que Thaís teria insistido para pegá-lo na noite de sábado.

"A gente tinha combinado de se encontrar numa lanchonete todo mundo, todos os amigos. Então minha mãe falou: 'Thaís, vamos pegar o bolo amanhã'. E ela: 'não mãe. Minha menina quer o bolo, eu vou buscar o bolo da minha menina e a gente vai para a lanchonete todo mundo, com o bolo", contou.

Micaelly conta que não sabia o que fazer ao ver a irmã ferida dentro do carro. "Eu estava de cabeça baixa, mexendo no meu celular, em meio às pernas, avisando que eu havia entrado no bairro e que era para me esperar do lado de fora. Nisso que eu levantei a cabeça falei: 'tia, volta. Está tendo tiroteio no bairro'. No que eu olhei para o lado, minha irmã disse: 'o tiro pegou em mim, mãe'. E já caiu. Aí eu olhei para a frente e, nisso, comecei a ver uns vultos e minha prima gritando: 'socorro, socorro'. Falei: 'tia, corre. Acelera o carro'. Aí eles começaram os disparos e não paravam de jeito nenhum. Balearam nosso pneu. Comecei a perguntar: 'mãe, para onde eu ligo? O que eu faço? Me ajuda'. Foi um desespero que ninguém consegue explicar", lembra.

A irmã de Thaís conta que os criminosos não falaram nada e que já chegaram atirando. "Eles não pediram 'para'. Se eles tivessem pedido o carro, qualquer coisa que a gente tinha, a gente tinha entregado. Mas em momento nenhum eles falaram 'para'. Eles só chegaram atirando e o primeiro tiro pegou na minha irmã. Quando minha irmã saiu do carro, que eu vi ela daquele jeito, eu vi que ela não tinha só desmaiado. Eu não queria acreditar que aquilo tinha sido verdade, mesmo já sabendo que a minha menina não devia nada a ninguem. Era um amor de pessoa. Por onde passava, deixava um pouco da palavra de Deus, sempre falando de Deus. Então não tinha porque eles fazerem isso com ela", lamentou.

Micaelly conta que ela e a irmã eram muito unidas. "Nós sempre fomos muito amigas. Tudo que acontecia comigo ela sabia, tudo que acontecia com ela eu sabia. Sempre me acompanhava em tudo, me dava apoio em tudo, assim como eu fazia com ela. Era como se fosse uma mãe para mim. A maioria do tempo passava eu e ela sozinha. Meus pais trabalhando e sempre era eu e ela. Eu por ela e ela por mim e sempre foi assim".

Justiça

O pai de Thaís, Maurílio Rodrigues Pinheiro, conta que estava em Baixo Guandu, no noroeste do Estado, quando recebeu a notícia que a filha havia sido baleada. "Eu estava na minha casa e, lá pelas 10 e pouca, o telefone tocou. Eu atendi e um rapaz falou comigo: 'nesse telefone eu falo com o senhor Maurílio?' e eu disse: 'é ele'. 'Tem como o senhor vir aqui no hospital Santa Mônica cuidar da sua esposa, porque ela está muito nervosa, e acalmar ela?'. Eu falei: 'rapaz, eu estou em Baixo Guandu'. E nesse intervalo que o telefone desligou, passei a mão no telefone e liguei para a minha cunhada. Perguntei: 'Edneia, o que está acontecendo ai?' e ela falou comigo: 'a Thaís foi baleada'. Eu entrei em desespero, desci a escada correndo, fui lá chamar meu irmão e falei: 'rapaz, me leva em Vitória'. E ele: 'o que aconteceu?'. Falei: 'atiraram na Thaís'", contou.

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Maurílio diz que já esteve na região onde a filha foi baleada e que encontrou o mesmo aviso no muro deixado por bandidos. "Já fui uma vez buscar bolo lá e aquela faixa no muro estava lá, do mesmo jeito. Ela não mudou nada", afirmou.

O pai de Thaís diz que agora só espera por justiça. "O que toda família espera é justiça. Mas, infelizmente, justiça nesse país é uma palavra esquecida e sem valor. Se você for na minha cidade, vai descobrir que a minha família é família do povo de bem. E quem sofre são as familias do povo de bem. Se você buscar o histórico de quem atirou, já tem passagem por homicídio. Então se aconteceu de novo, foi porque a justiça foi falha", ressaltou.