Polícia

Mulher grávida acusa médico de abuso sexual durante exame em São Mateus

Ela afirmou que, durante um ultrassom, o ginecologista Gedison Luis Gonçalves tocou em suas partes íntimas e perguntou sobre sua vida sexual e sua libido

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução redes sociais
Médico ginecologista Gedison Luis Gonçalves está preso no Centro de Detenção Provisória de São Mateus após ser acusado de assédio sexual por suas pacientes 

Uma empresária de 22 anos afirma ter sido uma das vítimas do médico ginecologista Gedison Luis Gonçalves, de 46 anos, preso na última sexta-feira (06), suspeito de abusar sexualmente de pacientes durante consultas em São Mateus, no Norte do Espírito Santo.

A jovem disse ter sido abusada pelo médico durante uma consulta de pré-natal, realizada no município, em 2019. Ela prestou depoimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de São Mateus, na tarde desta segunda-feira (09), e conversou com a reportagem do jornal online Folha Vitória.

"Foi em agosto daquele ano. Eu estava no oitavo mês de gestação. Naquele dia, fui à consulta sozinha. Ia sempre com meu ex-marido. Durante o exame, ao final, o médico começou a perguntar sobre se eu sabia onde ficava meu ponto G, como estava a minha libido, se eu sentia prazer", relembrou a empresária, que pediu para não ser identificada. 

A gestante contou que estava fazendo um exame de ultrassom, deitada nua em uma maca. Segundo ela, ninguém acompanhava a consulta.

"Ele foi falando isso com mão na minha vagina. Ele começou a fazer movimentos com a mão querendo me masturbar, perguntando se estava gostando. Foi um momento horroroso, nojento. Saí completamente constrangida e desconfortável. Não comentei com ninguém porque fiquei totalmente desnorteada, fragilizada", relembra. 

A sensação de revolta explodiu esta semana ao saber da prisão de Gonçalves. "Fui às redes sociais e falei para que quem tivesse sido vítima desses abusos, que fosse à delegacia para denunciar. O que ele fez foi um estupro. Precisamos denunciar porque não há provas físicas. Quanto mais mulheres denunciarem, mais esses crimes estarão legitimados para serem investigados e ele, punido", declarou.

Advogada que representa vítimas pede que mulheres denunciem médico de São Mateus

Foto: Divulgação
Advogada Penélope Hemerly representa duas mulheres que afirmam que foram assediadas durante consulta pelo ginecologista Gedison Luis Gonçalves

A advogada Penélope Hemerly, especialista em Direitos da Mulher e que representa a jovem empresária e uma outra vítima, alega que o que aconteceu, a partir dos relatos, são casos de assédio sexual, que podem ser configurados como estupro. 

"Houve uma agressão da parte dele num momento em que essas mulheres estavam totalmente vulneráveis em sua intimidade", descreve.

De acordo com a descrição dos acontecimentos pelas pacientes, a advogada apontou um comportamento padrão do médico. 

"Ele sempre começa com elogios para o corpo e vai desenvolvendo assunto sobre libido, prazer sexual. Ele tocou e manipulou suas partes íntimas, de uma forma que não teve nada a ver com procedimento médico. A vítima sabe quando houve algo errado e quando foi configurado abuso", ressaltou. 

Segundo a advogada, havia, na tarde desta segunda-feira, mais de 20 mulheres aguardando para prestar depoimento na Deam de São Mateus. 

"Eu represento também a primeira mulher que o denunciou, há uns 18 dias. A partir daí, fiz um movimento nas minhas redes sociais, convocando quem se sentia abusada por ele ou que houvesse passado por uma situação constrangedora, que procurasse a delegacia para prestar depoimento", contou.

"Ficar em silêncio só favorece para que abusadores desse tipo se sintam impunes e não param com seus crimes. Havia mulheres lá na delegacia com relatos de três, quatro anos atrás", completou a advogada.

Assédio no início de julho

Outra vítima representada pela advogada — e que também pediu que não fosse identificada — registrou um boletim de ocorrência também reclamando sobre conduta estranha do médico, durante uma consulta ginecológica realizada no dia 1º de julho.

No relato, ela diz que o ginecologista, além de perguntar sobre sua vida sexual e se sentia prazer, lambeu suas partes íntimas e também seus seios. 

A paciente conta que pediu para que ele parasse, mas que ele teria insistido. Ao final da consulta, ela chamou o namorado, contou tudo o que tinha acontecido e eles foram para a delegacia. O boletim foi registrado no começo de julho. 

Entenda o caso

Gedison Luis Gonçalves foi preso suspeito de abusar sexualmente de pacientes durante consultas. O mandado de prisão preventiva foi cumprido na manhã da última sexta-feira, por equipes da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), com apoio de policiais da cidade de Jaguaré.

Segundo a Polícia Civil, o médico foi abordado por volta das 06h50, quando saía de casa para trabalhar. Ele foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória de São Mateus e continuava preso por lá até a tarde desta segunda.

Advogado de defesa deixa o caso

O advogado Glauber dos Santos Silva, contratado inicialmente para defender o médico, deixou o caso na tarde desta segunda-feira. Segundo ele, a família de Gonçalves optou pelos serviços de outro advogado.

A reportagem não conseguiu contato com os familiares do ginecologista ou com o novo serviço de advocacia que irá representar o médico. O espaço está aberto para posicionamento da atual defesa.

Polícia de São Mateus não comenta sobre as investigações

A reportagem também entrou em contato com a Deam de São Mateus. Os telefonemas não são atendidos e caem na caixa postal. 

A assessoria da Polícia Civil informou, por meio de nota, que não irá passar nenhuma informação para que a apuração do caso seja preservada.

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