Loja de roupas infantis na Serra era usada para lavar dinheiro do tráfico de drogas
Segundo a polícia, a empresa era comandada por uma advogada, esposa de um dos chefes do tráfico de drogas do Complexo da Penha, que está preso
A polícia investiga a utilização de uma loja de roupas infantis, na Serra, como forma de lavar dinheiro proveniente do tráfico de drogas. De acordo com a Polícia Civil, que divulgou nesta quarta-feira (23) informações sobre a Operação Capital, realizada na Grande Vitória na terça-feira (22), a empresa era comandada pela esposa de um dos chefes do tráfico de drogas do Complexo da Penha, em Vitória, e está no nome da mãe e da irmã da mulher.
Ainda segundo as investigações, a organização criminosa, composta por 13 pessoas, era chefiada pelo marido da dona da loja, que, mesmo preso, continuava comandando o crime organizado. A quadrilha era investigada desde março do ano passado pela Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco).
De acordo com a polícia, a organização também usava "laranjas" para lavar dinheiro e ocultar o patrimônio do grupo. Nesta primeira fase da operação, foram bloqueados sete imóveis e três carros, totalizando R$ 2 milhões adquiridos, segundo as investigações, com dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
Entre os bens estão cinco apartamentos na Serra, um em Vitória, uma casa de alto padrão avaliada em R$ 500 mil, em Guarapari, além de três carros avaliados em R$ 200 mil, sendo um deles no valor de R$ 75 mil que estava no nome de uma auxiliar de serviços gerais de 42 anos, usada como laranja.
“Conseguimos obter provas robustas para comprovar o envolvimento dessas pessoas nesses crimes e a aquisição desses bens com dinheiro ilícito. Nessa primeira fase, identificamos esse patrimônio: sete imóveis, três veículos, algumas contas bancárias. Porém, as investigações vão continuar. Nós daremos sequência a essa investigação e possivelmente serão localizados outros bens", destacou o titular da Draco, delegado Marcus Vinícius Souza.
A parte operacional da ação foi realizada na terça-feira, quando cerca de 150 policiais civis e da Força Nacional cumpriram 20 mandados de busca e apreensão nos municípios de Vitória, Serra, Guarapari, Marataízes e na cidade do Rio de Janeiro (RJ), tendo como foco essa organização criminosa. Na ocasião, foram apreendidos diversos documentos contábeis, celulares, computadores, oito munições calibre 9mm, 11 munições calibre .32, uma munição de fuzil calibre 762, um revólver calibre .32, uma pedra de 165 gramas de crack e 54 gramas da mesma droga em pequenas pedras e uma balança de precisão.
O delegado-geral da Polícia Civil do Espírito Santo, José Darcy Arruda, avaliou como de extrema importância essa ação da Draco, que tem dois anos de existência e tem como finalidade investigar lavagem de capitais e sonegação de bens patrimoniais oriundos dos proventos de crimes de corrupção e tráfico de drogas e outros delitos.
“Com essa ação foram mais de R$ 2 milhões de bens bloqueados, sendo seis apartamentos, uma casa de alto padrão, três veículos de luxo e contas bancárias. Viramos a chave, pois a Draco não vai atuar nas retiradas de drogas do mercado e, sim, trabalhar firme na sonegação de bens e lavagem de capitais para descapitalizar o tráfico de drogas e as organizações criminosas. Na nossa estrutura temos uma Divisão para trabalhar essa modalidade de crime, pois entendemos o quanto é importante a descapitalização da organização criminosa. Só assim é possível extirpar esse tipo de crime no mercado”, destacou.
O esquema
Durante as investigações, os policiais descobriram que um dos grandes líderes do tráfico de drogas do Estado e que está preso, criou uma empresa para ser usada como fachada para lavagem do dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
Liderando essa empresa estava a esposa dele, uma advogada de 37 anos que era a responsável por coordenar a lavagem de dinheiro obtida com a venda da droga e também pelo núcleo jurídico da organização criminosa, juntamente com sua irmã, uma advogada de 31 anos. “Percebe-se que ela vem crescendo no mundo do crime, pois em 2007 foi presa por tráfico de drogas na Bahia e em 2012 por associação ao tráfico de drogas aqui no Estado”, disse Marcus Vinícius Souza. O delegado contou que foi solicitada a prisão dela e a Justiça expediu o mandado de prisão domiciliar, porém ela segue foragida.
Quanto a participação das advogadas na organização criminosa, Marcus Vinícius Souza esclarece a atuação da Polícia Civil em relação a elas. “Que fique claro que não estamos perseguindo a advocacia criminal. Existe a advocacia criminal na qual o advogado defende os direitos do seu cliente de acordo com os princípios legais e éticos e existe a advocacia criminosa na qual as pessoas se utilizam da função da advocacia para cometer crimes. São essas pessoas que são foco da nossa investigação. Nós estamos investigando criminosos travestidos de advogados. Essas pessoas devem ser presas e retiradas do convívio social para que a sociedade possa viver em paz e para que não maculem a advocacia criminal do Estado”
Além delas, havia mais 11 pessoas na organização criminosa, sendo que quatro delas integravam o núcleo familiar. “Isso porque faziam parte desse núcleo as duas irmãs e a mãe de advogada foragida”, explicou o delegado.
Ele conta que a mãe da advogada foragida, uma senhora de 63 anos, era usada como “laranja” na loja de roupas infantis, já que o estabelecimento estava no nome dela. “Ela adquiriu imóveis e um carro em seu nome, mesmo não tendo condições para isso”, afirmou. Já a irmã da advogada foragida, uma mulher de 41 anos, também era usada como “laranja” da empresa investigada. “Ela registrou imóveis em seu nome que foram adquiridos com dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Além disso, realizou movimentações bancárias milionárias por meio da empresa e possui grande admiração por parte de um dos líderes da organização criminosa e, por isso, tem liberdade para acessar o morro onde a organização criminosa atua a qualquer hora”, contou.
O marido da advogada de 31 anos e outra irmã dela, de 43 anos, também estão no esquema.
Ainda de acordo com o delegado, durante as investigações foi possível descobrir que integrantes do núcleo familiar planejavam fugir do País. “Eles conseguiram obter a cidadania italiana. Alugaram um imóvel no Rio de Janeiro para tentarem transferir o líder da organização criminosa para um presídio carioca e de lá ele conseguisse se evadir para em seguida a família fugir do Brasil”, pontuou.
Além desses, existem mais três mulheres e dois homens usados como “laranjas” no esquema. “Entre as mulheres há uma de 50 anos que já foi chefe da advogada foragida em uma empresa”, esclareceu o delegado.
O esquema conta ainda com uma mulher de 39 anos contadora e responsável pelo núcleo contábil da organização criminosa e uma mulher de 27 anos, casada com um dos integrantes de alto escalão da organização criminosa e que está preso. “ É ela quem recolhe os valores obtidos com a venda das drogas e repassa para advogada foragida que é a responsável pelo esquema. Ela simulou uma compra de R$ 32 mil em roupas na loja para lavar o dinheiro. Cabe ressaltar que ela não possui emprego e efetuou essa compra”, comentou o titular da Draco.
De acordo com o delegado os bens adquiridos pelos “laranjas” eram, posteriormente, transferidos para os integrantes do núcleo familiar da organização criminosa.