Polícia

Vítimas relatam desespero durante abordagem de policiais de folga em Guarapari: "Ameaçados de morte"

A abordagem aconteceu na Rua João Bigossi, no bairro Itapebussu, em Guarapari na noite do último sábado (03)

Foto: Reprodução TV Vitória

Pela primeira vez depois do acontecido, familiares e vítimas falam sobre a abordagem feita por dois policiais civis de folga na noite de sábado (03), que deixou feridos e um carro baleado, em Guarapari. À equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV, eles contaram os momentos de terror que viveram.

A mãe do adolescente de 16 anos ficou sabendo do acontecido por uma amiga da vítima. O filho dela levou um tiro na perna, quebrou o fêmur e também foi espancado. Ela está preocupada com o que vai acontecer com o rapaz, que fez uma cirurgia e vai ser pai. 

"Ele já foi envolvido, mas agora, com a descoberta da gravidez da namorada dele, ele disse que não queria mais saber dessa vida, pois queria dar um futuro melhor para o filho", contou a mãe, que preferiu não ser identificada.

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Tudo aconteceu na Rua João Bigossi, no bairro Itapebussu, em Guarapari na noite do último sábado (03), por volta das 20 horas. Policiais civis de folga fizeram a abordagem ao adolescente e outro rapaz.

Com o jovem de 22 anos, os policiais encontraram uma mochila com drogas. O rapaz foi espancado pelos investigadores e não conseguiu nem se levantar.

Já com o filho da auxiliar de salgadeira, eles não acharam nada, mas mesmo assim o espancaram. Ele ficou no chão, sem conseguir se mover por conta da fratura. A mãe do rapaz disse que o filho vai ficar com algumas sequelas.

"Ficamos sabendo que ele vai perder um centímetro da perna, onde colocou o parafuso. Vamos ver a recuperação dele como vai ser", disse.

A mãe pede justiça pelo que aconteceu com o filho e afirma que a ficha ainda não caiu. "Eu ainda estou em estado de choque. Na hora que recebi a notícia, eu nem tive reação. Eu desliguei o telefone e esperava outro telefonema falando que ele já estava morto. A única notícia que eu esperava era de que ele estava morto".

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Empresário teve carro atingido por tiros

Em seguida, mais uma abordagem que, dessa vez, foi registrada por testemunhas. Um empresário de 26 anos, que preferiu não se identificar, não conseguiu segurar as emoções quando relembrou os momentos de terror e agonia que viveu no último sábado. 

O rapaz estava dirigindo um carro preto e voltava para casa com a noiva e o sobrinho dela, de 13 anos, quando foi surpreendido por dois homens armados, mandando ele parar o veículo. Antes de fazer qualquer coisa, o capô do carro em que eles estavam foi atingido por tiros. 

"Foi difícil. Pessoas completamente drogadas. Não tinham treinamento nenhum para serem polícia, completamente fora de si", lamenta.

O tempo todo, o sentimento era de medo. O empresário teve uma arma apontada em direção a ele diversas vezes. Depois do pesadelo que viveu, tem medo de sair de casa.

"A gente fica com medo, pois não sabemos o que eles podem fazer. Eles ameaçavam as pessoas. São pessoas completamente loucas", disse.

A noiva do empresário também preferiu não se identificar, mas contou que também pensou que iria morrer. Ela afirmou que teve uma arma apontada para o rosto, quando ainda estava dentro carro. 

"Não teve uma abordagem. Já fomos parados com tiros e eles gritaram que eram policiais, mas ali no momento de desespero, quando você vê duas pessoas armadas e duas ensanguentadas no chão, você não acha que é polícia. A gente achou que realmente era um assalto. Fomos parados com tiro, com gritaria e ameaças. Fomos ameaçados de morte, com uma arma apontada na minha cara antes de descer do carro", contou.

A vendedora ainda disse que durante a situação, o adolescente de 16 anos, que estava caído no chão, tentou pedir ajuda. 

"Olhava para a gente e não tínhamos o que fazer. porque eles mandavam calar a boca. Todos os carros que passavam, eles paravam, como se fosse uma blitz", disse.

Veja a nota da Polícia Civil na íntegra:

A Polícia Civil informa que, na noite desse sábado (03), dois policiais civis de folga receberam uma denúncia sobre elementos armados em uma região de intenso tráfico de drogas, conhecida como 'Buraco Quente', no bairro Itapebussu, em Guarapari.

Os policiais se dirigiram até o local, onde se depararam com os suspeitos. Houve troca de tiros e dois deles, de 16 e 22 anos, foram detidos. O adolescente foi atingido na perna direita, estando, até este momento, hospitalizado. Foi apreendida uma bolsa, encontrada entre os suspeitos, contendo 67 pinos de cocaína, 55 pedras de crack e R$ 515,25.

Durante a ação, os policiais abordaram um veiculo que passava pela via, e o capô do carro foi atingido por disparo de arma de fogo. Nenhum passageiro que estava no veículo ficou ferido. Foi realizada a perícia e posteriormente o veículo foi restituído ao dono.

Em depoimento, o suspeito de 22 anos confessou que estava atuando como olheiro do tráfico de drogas e afirmou que as drogas pertenciam ao adolescente, e que ele estaria no local para comprar a droga do adolescente. Ele foi autuado em flagrante por colaborar como informante do tráfico de drogas e foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarapari.

O adolescente de 16 anos responderá por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, e foi reintegrado à família após o familiar assumir o compromisso de comparecer ao Ministério Público, quando solicitado.
Em razão dos policiais civis apresentarem alteração psicomotoras, como odor etílico e falas desconexas, a Corregedoria da Polícia Civil foi acionada.
O policial civil que efetuou os disparos foi autuado em flagrante por disparo de arma de fogo majorado. Por se tratar de um agente de segurança pública, não cabe fiança na esfera policial. Ele foi encaminhado ao Alfa 10 (presídio de policiais).

O segundo policial civil foi ouvido e liberado após a autoridade policial entender que não havia elementos suficientes para lavrar auto de prisão em flagrante naquele momento.

As carteiras funcionais e as armas dos policiais civis foram apreendidas. O procedimento criminal foi encaminhado na integralidade à Corregedoria da Polícia Civil para as demais diligências que o requer. Foi instaurada uma Investigação Sumária na Corregedoria da corporação para analisar o caso no âmbito administrativo.

*Com informações da repórter Alice Mourão, da TV Vitória/Record TV

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