Polícia

Ocupação Social: faltam atividades culturais e esportivas em bairros pobres do Estado

As duas áreas foram identificadas, durante o diagnóstico da região realizado pela equipe do projeto Ocupação Social, como as mais necessitadas de ações específicas

O secretário afirmou que outros bairros vão receber o programa da ocupação social Foto: Divulgação/Assembleia

Primeiro bairro contemplado com o projeto Ocupação Social, desenvolvido pelo Governo do Estado em conjunto com órgãos públicos e privados, São Torquato, em Vila Velha, tem como principal carência a ausência de atividades culturais e esportivas. De acordo com o secretário de estado de Ações Estratégicas, Evaldo Martinelli, essas ações ajudariam jovens que se encontram fora da escola - principal público a ser atingido pelo programa - a se envolverem com a comunidade, diminuindo as chances deles entrarem para o mundo do crime.

Em entrevista ao jornal online Folha Vitória, Martinelli explicou que as primeiras duas etapas do processo de mapeamento da região - que servirá para o planejamento das ações - já foram concluídas, faltando apenas uma: justamente a abordagens a esses jovens, que se encontram em situação de vulnerabilidade, para tentar identificar suas principais áreas de interesse. As duas primeiras partes foram feitas em cerca de três meses e meio e consistiu em identificar as características físicas e estruturais do bairro e ouvir suas principais lideranças e figuras de destaque.

Segundo o secretário, outros bairros da Grande Vitória serão contemplados em breve com o mesmo trabalho. Ele explica que as regiões estão sendo definidas com base no índice de violência apresentado pelos mesmos e nas indicações feitas pelas prefeituras a respeito das áreas que necessitam prioritariamente de maior atenção. A previsão, de acordo com Martinelli, é que o diagnóstico em todos os bairros contemplados pelo projeto seja concluído até junho do ano que vem. O objetivo do projeto Ocupação Social é reduzir os índices de criminalidade em regiões consideradas estratégicas, por meio de ações de prevenção voltadas principalmente para a educação e cultura dos jovens, apontados pelas estatísticas como principais vítimas da violência.

Confira a entrevista:

Folha Vitória - Como está sendo desenvolvido esse mapeamento nas regiões contempladas pelo projeto?
Evaldo Martinelli -
O diagnóstico do projeto Ocupação Social tem três partes. A primeira é a territorial, em que percorremos todas as ruas, becos e vielas da região, para diagnosticarmos a situação de sua estrutura. Fazemos o mapeamento e georreferenciamento de todos os equipamentos públicos, como escolas, hospitais e unidades de saúde, verificamos como está a pavimentação das ruas, pontos de ônibus, iluminação, recolhimento de lixo, se existe esgoto a céu aberto, pontos de vulnerabilidade, entre outras ações. Em seguida, fazemos o cruzamento desses dados com outras informações, como as ligadas à violência na região e a vulnerabilidade social. A segunda parte consiste em entrevistar os atores-chave do bairro, que podem ser líderes comunitários ou de organizações, pessoas que desenvolvem trabalhos voluntários, médicos, professores, diretores de escolas ou qualquer outra pessoa que a comunidade reconheça como realizadora de um trabalho importante para a região, seja ela ligada a algum equipamento público ou não. Questionamos eles sobre todos os aspectos do bairro, não só relacionados à segurança. Com isso, conseguimos um retrato da região, que nos permitirá trabalhar em cima das questões levantadas. Já a terceira etapa, que ainda será desenvolvida, é ouvir todos os jovens do bairro que se encontram fora da escola, que são o principal foco do programa, já que estão mais vulneráveis à violência. Vamos cadastrar todos eles em um sistema informatizado, para que possamos fazer o acompanhamento individual de cada um. Vamos identificar suas principais áreas de interesse e, quando houver uma atividade na região que se encaixe nesse perfil, entraremos em contato e o convidaremos a participar dela. Com isso, poderemos verificar o índice de sucesso dessa abordagem. Se, por exemplo, identificarmos 200 jovens interessados em uma determinada área e, quando tiver uma atividade dessa área, só participarem 30, vamos buscar entender por que essa participação não foi maior e, se for o caso, desenvolver outras atividades até conseguirmos aumentar esse percentual. Com isso, criamos oportunidades para que, pelo menos, seja reduzido esse perfil de vulnerabilidade desses jovens.

FV - Quando será realizada essa terceira etapa?
EM -
Estamos fechando o questionário e a previsão é que o trabalho de campo comece na segunda quinzena de outubro. Mas essa entrevista com os jovens não será feita somente em São Torquato, mas em seis bairros simultaneamente. O trabalho territorial e o questionário com os atores sociais são mais complexos e, por isso, precisaram de um projeto-piloto.

FV - Quais serão esses seis bairros?
EM -
Essa definição ainda está sendo feita em conjunto com os municípios. Esse projeto é uma construção coletiva e, por isso, é essencial que haja o envolvimento da comunidade local e a participação dos atores sociais, dos jovens e de todos aqueles que estejam envolvidos no projeto. O trabalho com jovens é bastante complexo e, por isso, é preciso que a população entenda a necessidade de envolvimento com esse trabalho.

FV - E como é feita a escolha dos bairros contemplados pelo projeto?
EM -
A seleção dos bairros é feita com base em critérios de violência. Nossa intenção é atender todas as regiões identificadas como as mais necessitadas e que apresentam os maiores índices de violência. Mas precisamos discutir com os municípios para definirmos quais serão as prioridades, ou seja, quais bairros necessitam de mais atenção naquele momento.

FV - Por que esses jovens que estão fora da escola são o principal público-alvo do projeto?
EM -
Porque são os que apresentam maior perfil de vulnerabilidade e estão mais expostos à criminalidade. Normalmente as portas são fechadas para esses jovens, pois muitas vezes eles só podem participar de projetos se estiverem matriculados na escola. Sabemos que a intenção dessa medida é fazer com que o menino esteja na escola. Mas acaba que o fato de eles não estarem na escola gera a sua exclusão de qualquer atividade nessas comunidades. Nosso objetivo é trazer esses meninos para as atividades culturais e esportivas para que, em um segundo momento, eles possam retornar para a escola. 

FV - Nesse primeiro contato com a comunidade de São Torquato, quais foram as principais carências detectadas?
EM -
Notamos uma ausência de atividades culturais e esportivas na região. Mesmo que o bairro tenha uma escola de samba, são poucas as atividades realizadas fora do período de Carnaval. E o bairro tem uma ligação muito forte com a música, muitos compositores de samba são daquela região. Mas hoje há poucas oportunidades na área da música no local. Com relação às atividades esportivas, hoje a comunidade conta apenas com uma quadra. Existe uma área lá em que vários meninos se reúnem para soltar pipa. Nessa área poderia ser construído um centro esportivo. Também identificamos a necessidade da criação de mais cursos para a comunidade, que qualifiquem aquelas pessoas para o mercado de trabalho. A região está carente de ações nesse sentido, o que agrava a situação.

FV - Quando o trabalho em todos os bairros será concluído?
EM -
As entrevistas aos jovens em situação de risco nos seis bairros que iremos definir deverão ser concluídas até o final do ano. A ideia é que elas sejam feitas a cada duas ou três semanas. Já a conclusão do diagnóstico completo em todas as regiões deve ficar para junho do ano que vem. As duas primeiras etapas do diagnóstico em São Toquato durou cerca de três meses e meio. Com a equipe mais bem preparada e com o aprendizado adquirido nessa primeira experiência, a estimativa é que esse mesmo trabalho seja desenvolvido em dois meses nas próximas regiões.

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