Advogado investigado se apresenta à PF e diz que vai "falar o que sabe"
Na sede da Polícia Federal, José Joelson Martins de Oliveira gravou um vídeo em que diz possuir informações privilegiadas sobre pessoas envolvidas na investigação
O advogado José Joelson Martins de Oliveira, foragido da justiça pela Operação Follow The Money, se apresentou na sede da Polícia Federal nesta quarta-feira (16). Ele é suspeito por organização criminosa, lavagem de capitais, corrupção ativa e passiva, fraude processual e falsidade documental.
Na sede da Polícia Federal, ele gravou um vídeo em que afirmou possuir informações privilegiadas sobre pessoas envolvidas na investigação da operação e que se prontifica a um eventual acordo de delação premiada.
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"E mais, por temer pela minha vida e pela vida da minha família, requero que seja colocado o meu nome e dos demais entes da minha família no programa de proteção a testemunhas", disse na gravação.
Assista ao vídeo:
O advogado Marcelo Brasileiro, que representa Joelson, disse que seu cliente passou pelo Instituto Médico Legal (IML) para depois ser conduzido ao Complexo Prisional de Viana.
"Joelson está envolvido no bojo da Operação Follow The Money, deflagrada pelo Gaeco, que envolve pessoas de magistrados e ex-magistrados de nível estadual e hoje viemos representar na sede da Polícia Federal, em Paul, Vila Velha, e nesse exato momento está sendo conduzido por uma equipe de agentes federais ao DML para exames de praxe e em seguida, conduzido ao Complexo Prisional de Viana", informou.
Operação Follow The Money
A Operação Follow the Money foi deflagrada no dia 1º de agosto, por meio da Procuradoria-Geral de Justiça e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos Central e Norte) do MPES, com o apoio da Polícia Militar.
Na ocasião, foram cumpridos mandados judiciais em face de agentes públicos e particulares envolvidos no esquema.
Ao todo, foram cumpridos 7 mandados de prisão preventiva, 30 mandados de busca e apreensão, 2 mandados de afastamento funcional de agentes públicos, 13 mandados de suspensão do exercício da atividade profissional, proibição de contato entre pessoas, proibição de acesso às dependências de órgãos públicos, além de monitoramento eletrônico.
Os mandados foram expedidos pelo TJES, atendendo a requerimentos do MPES contra 34 pessoas envolvidas. Ao todo, nove membros do Ministério Público coordenaram os trabalhos da Operação, auxiliados por 97 policiais.
As investigações colheram evidências robustas do envolvimento dos acusados nos crimes e sustentam a denúncia apresentada nesta quinta (22).
Como funcionava o esquema
O grupo localizava falecidos sem herdeiros e com valores consideráveis em contas bancárias, e ajuizava ações na Comarca de Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo.
Os investigados, segundo o documento ao qual a reportagem teve acesso, faziam contratos indicando supostos acordos jurídicos com cláusula de confidencialidade com foro em Barra de São Francisco. Somente os advogados assinavam os acordos.
"Feito bloqueio dos valores depositados na conta do falecido e havendo manifestação de interessados, o exequente não se manifestava a respeito e por via de consequência, ocorria a extinção do processo", diz o documento.
Após o bloqueio judicial dos valores depositados na conta do falecido, sem que houvesse manifestação de interessado, era apresentado um suposto acordo extrajudicial entre as partes.
Em seguida homologado, peticionavam nos autos informando o “descumprimento” do acordo entabulado pela parte executada e solicitavam a liberação dos valores bloqueados.
Denunciados e presos
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio do procurador-Geral de Justiça, Francisco Martinez Berdeal, denunciou 20 envolvidos nas investigações da Operação Follow the Money.
Entre os denunciados estão advogados, o magistrado Maurício Camatta Rangel, o ex-juiz Bruno Fritoli Almeida, entre outros profissionais. O esquema denunciado vinha bloqueando valores de heranças em benefício dos envolvidos e deixando de fora os reais herdeiros.
Conforme a denúncia, o esquema envolve dano material de mais R$ 17 milhões. O MPES apontou crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e uso de documento falso, por parte de agentes públicos e particulares.
O MPES requer que os denunciados sejam condenados pelos respectivos crimes praticados no esquema, além do pagamento de dano moral coletivo no valor de mais de R$ 34 milhões. O processo tramita em segredo de Justiça.