Polícia

Mapa da mina: sindicato lista os bairros mais perigosos de se trabalhar na Grande Vitória

Um levantamento feito pelo Sindicato Profissional dos Motoristas de Táxi do Espírito Santo (Sindtavi-ES). Profissionais relatam como o poder paralelo de criminosos inibem o trabalho

Motoboys estariam com dificuldades para trabalhar em bairros dominados por traficantes Foto: TV Vitória

Com medo da violência, taxistas e motoboys evitam trabalhar em pelo menos 14 bairros da Grande Vitória. Um levantamento feito pelo Sindicato Profissional dos Motoristas de Táxi do Espírito Santo (Sindtavi-ES), mostra os bairros mais perigosos para a categoria trabalhar.

No dia a dia do motoboy, um dilema: “Nós vamos subir o morro, os bandidos pedem a gente para tirar o capacete, aí a gente tira o capacete. Aí quando subindo a gente dá de frente com a viatura e eles perguntam porque a gente sem capacete. Aí os policiais falam, ‘você respeita os bandidos ou a polícia?’. Se você tirar, você paga de um lado, se você não tirar você paga com a vida. É complicado”, lamenta.

No cotidiano do taxista Washington Ribeiro, oração antes de trabalhar. “Eu tenho dois filhos, tenho uma esposa e eu saio da minha casa pedindo a Deus para voltar vivo porque a insegurança é demais. Às vezes você fica achando que você vai se deparar com uma viatura, mas você fica à mercê da proteção de Deus. Só Deus que pode garantir as nossas vidas nessa profissão, porque tá muito difícil trabalhar desse jeito”, relata.

Os bairros mais perigosos para se trabalhar na Serra, de acordo com o sindicato Foto: Reprodução/TV Vitória

Os relatos são consequência do poder paralelo imposto por traficantes de drogas, que moram nas comunidades.

Na Serra, as categorias estariam praticamente proibidas de trabalhar nos bairros Jardim Tropical e José de Anchieta. Em Cariacica, nos bairros Padre Gabriel, Areinha, Formate, Nova Rosa da Penha I e II e Morro da Boa Vista. Em Vila Velha, Santa Rita, Vila Garrido e Terra Vermelha. Em vitória, os bairros proibidos para o trabalho de motoboys e taxistas seriam Jabour, Bonfim e Bairro da Penha.

“Dependendo do lugar que você entra, você não sai mais. Você não está tendo liberdade de trabalhar em certas horas do dia. Quando o cara pede uma corrida para Cariacica a gente fica com medo. Na Serra também. E o passageiro ás vezes reclama que não queremos ir, mas não é isso, é porque vamos e não sabemos se vamos voltar vivo”, completa o taxista Ribeiro.

Cariacica tem maior número de bairros em que taxistas e motoboys têm dificuldade para trabalhar Foto: TV Vitória

A orientação do Sindtavi-ES é que, a qualquer sinal de risco, o motoboy deixe de fazer o serviço e volte. “Se ele vê que vai ser prejudicado, nós recomendamos que ele volte, passe para a empresa o ocorrido e, se necessário, recorra ao sindicato. O motoboy não deve arriscar a vida e também não deve ser penalizado perdendo a carteira de habilitação”, afirma o presidente do sindicato dos taxistas do Espírito Santo, Alexandro Martins Costa.

Santa Rita, Vila Garrido e Terra Vermelha são os bairros mais perigosos para se trabalhar em VV Foto: TV Vitória

De acordo com os taxistas, à noite é o período mais crítico para o trabalho. O medo é tanto que eles pedem socorro até pela internet. “A melhor arma que nós estamos tendo é a internet. Às vezes a gente não sabe o rosto da pessoa, mas colocamos as características e quando a gente vê que o passageiro tem alguma característica, a gente dá um jeito para se desfazer do passageiro porque a gente sabe que depois vai acontecer alguma coisa ruim”, diz Ribeiro.

Taxistas e motoboys querem ajuda do poder público para que possam continuar trabalhando. “Eu queria pedir que a Polícia Militar tivesse mais presença em blitz, parassem mais os táxis, porque a gente está numa insegurança total. Porque o ladrão não tem cara, ele entra no seu carro, bate papo, te trata bem, mas quando ele inventa de te colocar dentro do porta malas, você pode ter certeza que você vai morrer”, completa Ribeiro.

Três bairros de Vitória são considerados os mais perigosos, de acordo com levantamento Foto: TV Vitória

O motoboy, que preferiu não ser identificado, diz que pensa até em mudar de profissão. “Eu estou fazendo uns cursos para poder parar porque não está dando para trabalhar. Não tem como, são eles [criminosos] que mandam. Aí fica difícil”, completa o motoboy.

O secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, falou sobre a reclamação das categorias. “Os profissionais devem procurar o apoio necessário para poder desempenhar bem a sua profissão, a polícia está aí para executar esse serviço. Levar segurança para todo o cidadão, inclusive para essas categorias. Se for necessário o cidadão pode procurar a polícia para poder desempenhar bem o seu trabalho”, diz.

Garcia completa: “Todo o nosso planejamento nas regiões especialmente citadas recebe uma atenção especial da polícia, através do programa Estado Presente, como o policiamento preventivo reforçado. Estamos abertos a analisar, como fizemos com os rodoviários, para analisar junto com nosso setor de inteligência para que possamos oferecer as nossas ações e modificar, se for necessário, o nosso planejamento”, afirma.

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