Polícia

"Pensei que ia morrer mais gente", diz passageiro baleado durante tiroteio em ônibus

O técnico em informática Ivan da Silva, de 35 anos, foi atingido de raspão na cabeça. Nesta quarta-feira, ele conversou com exclusividade com a equipe da TV Vitória

Ivan disse que, assim como os demais passageiros do coletivo, viveu momentos de terror durante a tarde da última terça-feira

O tiroteio ocorrido no final da tarde de terça-feira (22), em um ônibus que seguia para Guarapari, resultou na morte de duas pessoas e deixou outras três feridas. Um dos baleados é o técnico em informática Ivan da Silva, de 35 anos, que foi atingido de raspão na cabeça. Ele seguia para Guarapari, onde participaria da festa de aniversário da mãe dele.

Nesta quarta-feira (22), Ivan conversou com exclusividade com a equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV e contou tudo o que presenciou dentro do coletivo da viação Alvorada, que seguia de Vitória para Ipiranga, em Guarapari.

"Eu estava sentado no meio do ônibus, quando eu vi uma movimentação estranha atrás. Deu para identificar que era um assalto, porque eles estavam xingando, falando alto. Então eles vieram da parte de trás para o meio e, quando estavam se aproximando da metade do ônibus, ele mandou o motorista não parar. O motorista parou - não sei o que tinha lá na frente, porque eu não tinha campo de visão - eu olhei para o lado e ele já estava armado e logo começou a efetuar os disparos. Eu procurei me abrigar. Abaixei, assim como a moça que estava ao meu lado. E aí então foram muitos tiros, incontáveis tiros, e um desespero total. Depois cessou um pouco os tiros, mas começou lá fora de novo. Foi aí que eu senti um impacto na minha cabeça. Abaixei e gritei na hora, vi se eu estava ferido. Depois que pararam os disparos, procurei ver o que aconteceu. Já tinha uma senhora ao meu lado caída e um senhor mais à frente. Procurei ajudar o máximo que pude ali. Tinha muita gente gritando, todo mundo nervoso e fiquei um bom tempo dentro do ônibus ainda, até chegarem os policiais", contou.

Segundo o técnico em informática, os bandidos haviam embarcado no coletivo como qualquer passageiro. Após anunciarem o assalto, os criminosos mandaram os passageiros entregarem os celulares. 

"Eles estavam como passageiros normais lá atrás. Então eles começaram a levantar e pediram o celular. Eu já sabia que se tratava de um assalto e estava até preparado para entregar meu celular, uma senhora do lado também. Foi aí que ele chegou no meio do ônibus, mandou o motorista parar e começou a efetuar os disparos. Só deu tempo de orar e pedir a Deus proteção", lembrou.

Ônibus da viação Alvorada foi alvo de criminosos enquanto seguia para Guarapari

A vítima contou ainda que tentou socorrer os outros baleados, mas não conseguiu evitar a morte de dois deles - a professora Denise Fabiane Keng Queiroz, de 49 anos, e o pedreiro Anísio Gomes da Silva, de 62 anos. 

"Eu cheguei a falar com o pedreiro. Ele não estava conseguindo ligar para a esposa e pediu para que eu pudesse ligar. O policial nesse momento chegou rápido, chegou primeiro que a ambulância. Peguei o telefone e falei com a esposa dele e passei para o policial", contou Ivan, que lamentou muito a morte das vítimas.

"Encontrei no cartório o irmão desse senhor que faleceu. Só ofereci a ele um abraço e desejei força num momento desse difícil. Sinto muito pela família dele, pelo que ela está passando. A senhora também, a professora, que eu tentei ajudar. Mas a gente não tem preparo de primeiros socorros e, mesmo assim, eu acho que não ia ter jeito. A gente fica numa situação de impotência", afirmou.

O técnico em informática disse também que nunca havia presenciado uma cena tão desesperadora como a vivida na tarde da última terça-feira.

"Até eu entender o que estava acontecendo, que realmente a gente estava em um tiroteio dentro do ônibus, em um espaço tão pequeno, confinado, eu pensei que ia morrer até mais gente. Pensei que cada disparo podia acertar em mim ou em outra pessoa do meu lado. Fiquei preocupado com todo mundo. Nunca tinha visto uma cena daquela na minha vida. Morei no Rio de Janeiro praticamente minha vida toda e nunca passei por uma situação dessa e vim passar aqui, em um lugar aparentemente tranquilo", lamentou.

Ivan afirmou ainda que não pensa em voltar tão cedo a andar de ônibus. "Não tenho nem coragem de andar num transporte desse, sem segurança. Tem que pensar num meio de inibir esses bandidos, algum cadastramento biométrico ou algo parecido. Temos governantes inteligentes para pensar nesse caso, para não acontecer mais isso".



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