Polícia

Dois anos após ser abusada e forçada a usar droga em Vila Velha, vítima fala sobre pesadelo

De acordo com a vítima, uma supervisora de vendas, de 37 anos, o sofrimento durou cerca de 4 horas. Durante os atos, ela chegou a desejar a morte

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: TV Vitória

Uma história revoltante e ainda sem desfecho. Em março de 2020, na cidade de Vila Velha, uma supervisora de vendas, de 37 anos, foi rendida por um criminoso, agredida, estuprada e forçada a usar drogas com ele. 

Tudo durou cerca de quatro horas e só agora, dois anos depois, ela conseguiu se abrir e relatar o pesadelo.

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe do nosso grupo de notícias no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

"Estava no meu horário de trabalho, como era o primeiro dia de lockdown, decidi fechar a loja um pouco mais cedo e fui até o meu carro que estava no estacionamento. Nisso, o indivíduo passou por mim e deu uns dois passos. Quando ele me viu, já com o carro ligado, ele voltou batendo no vidro, mostrando a arma e falando que eu deveria abrir a porta traseira. Ele também disse que não ia fazer nada e que só queria dinheiro", contou a vítima.
Foto: TV Vitória

Obrigada a dirigir para o criminosos, ela passou por pelo menos três bocas de fumo nas regiões de Santa Rita e Aribiri para que, com o dinheiro dela, ele acertasse contas com traficantes e comprasse mais entorpecentes.

"Ele me dava a direção das ruas e dos becos que eu deveria entrar. Eu não conhecia aquele local, não era meu caminho de costume. Ele usou cocaína dentro do carro e comprou crack. Falou que ia em outra boca para pegar o documento dele, que tinha ficado retido, por conta de dívida de droga."

Vítima foi obrigada a entrar em um motel

"Ele falou que iria fazer uma parada para contar o dinheiro. Eu imaginei que ele ia parar na beira da pista, em algum posto, algum lugar que eu poderia pedir ajuda. Mas não. Ele parou na frente de um motel e ele disse 'entra aqui'", contou a vítima.

Assustada com a decisão do criminoso, a supervisora lembra que chegou a brecar o carro. Ela ainda parou pouco depois do motel, mas ele exigiu que ela retornasse para o estabelecimento.

Foto: TV Vitória

Dentro do motel, com uma arma apontada para si, ela decidiu obedecer às ordens de um homem frio, agressivo e que avisava não ter nada a perder caso ela reagisse.

"Ele travou as portas, fechou todas as básculas e mandou eu virar para ele e ele ficou me olhando. Nesse momento, ele pegou o refrigerante, tomou o refrigerante no intuito de usar a latinha para usar o crack e acendeu a pedra."
Foto: TV Vitória

Obrigada a usar crack

Não satisfeito ao usar a droga sozinho, o criminoso obrigou a mulher a fumar crack também. Ela conta que, para se proteger, colocou a mão na boca da lata para que a droga não fizesse efeito, mas ele percebeu a tentativa de simulação da vítima. Com isso, começaram as agressões.

"Ele me bateu no rosto, na costela. Ele queria de todo jeito que eu usasse aquela droga da forma correta", lembrou.

Após usar a droga, a mulher entrou em pânico. Nessa hora, o ladrão revela também ser um estuprador.

"Eu falei para ele pensar na filha dele, porque ele também tem uma menina. Eu comecei a chorar muito, me desesperei bastante e ele começou a me acariciar pedindo para eu ficar calma, que ele não ia fazer nada. Depois que fui obrigada a tirar a minha roupa, ele tirou a roupa dele e aí eu vi realmente que eu ia ser abusada", narrou a vítima.

As tentativas de se desvencilhar da violência sexual foram muitas. A supervisora disse que tem dois filhos, o menor, na época, ainda era um bebê que ela estava amamentando.

Foto: TV Vitória
"A partir do momento que ele começou a fazer coisas horríveis, teve um momento que eu desisti. Pedia a Deus que só me tirasse daquela situação, seja com vida ou com morte. Se ele tivesse que me matar, ele ia me matar naquele momento porque eu queria acabar com aquele sofrimento."

Na hora de sair do motel, ele arrastou as coisas e mandou a vítima vestir as roupas. Após se vestir, ela lembra que o criminoso mandou ela virar de costas e "não tentar nada" porque os dois iriam sair dali.

Família desesperada em casa

Após chegar em casa, a primeira coisa que a supervisora fez foi seguir para o banheiro. Passado todo o pesadelo, ela mal conseguia explicar a situação aos familiares, que estavam desesperados com o sumiço dela.

"Do jeito que eu cheguei, eu deixei o carro na rua, porta aberta e só entrei em casa. Peguei meu filho no colo, abracei, mas logo em seguida dei para o meu primo porque eu não tinha condição de segurar por muito tempo, pois estava bem fraca das pernas", afirmou.

Aos prantos e preocupada, a mãe da vítima estava inconsolável quando viu a filha chegar. Mesmo assustada, a vítima foi direto para o banheiro, tomar um banho.

"Sentei no chão do banheiro, fiquei chorando por muito tempo. Todos ficaram muito preocupados, mas acredito que eles já desconfiavam."

A própria família da vítima investigou o caso e descobriu que Felipe Ferreira Rodrigues é o acusado de cometer esse crime. 

O homem, que está atualmente solto e ativo nas redes sociais, segundo a vítima, é o responsável por todos os crimes citados acima. Com uma longa ficha criminal e réu neste processo na justiça, Felipe é considerado foragido.

TV Vitória
TV Vitória
TV Vitória

Esposo da vítima ajudou na denúncia e na investigação

"Eu encontrei meu marido e a gente foi direto na delegacia, fizemos o registro do B.O. A´pós isso, encaminharam a gente para o corpo de delito e depois para o hospital", explicou a vítima, após chegar em casa e conseguir reorganizar a cabeça.

Ao realizar todo o procedimento no hospital, ingerir coquetéis contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST's) e apresentar todas as provas na polícia, a saga do pesadelo continuou. A vítima precisava descobrir quem era o criminoso responsável por todos aqueles crimes que a traumatizaram.

"A todo momento meu marido ficou muito transtornado com a situação, ele queria  descobrir de qualquer forma quem era o cara e até mesmo, na cabeça dele, talvez, fazer justiça com as próprias mãos", afirmou.

A vítima garante que boa parte da investigação foi feita pelo marido. "A investigação foi toda dele, ele que localizou pessoas próximas ao bandido, encontrou foto, Facebook, tudo foi através do meu esposo."

No mesmo dia do crime, durante a madrugada, o marido da vítima fez todo o caminho que a mulher havia feito com o criminoso. Ele, inclusive, chegou a parar nas bocas de fumo que ela havia parado e conseguiu descobrir o nome do criminoso que cometeu as atrocidades contra sua esposa: Felipe Ferreira Rodrigues.

A partir do nome, ele descobriu também a página na rede social do indivíduo e entregou todas as informações à Polícia Civil.

Foto: TV Vitória

Suspeito conta com ficha criminal extensa

Mais conhecido como "Felipinho Nóia", o rapaz conta com um histórico criminal extenso. Na lista estão: passagem por posse de arma de fogo em 2013, roubo um ano depois e mais entradas no sistema carcerário em 2014 e 2016.

Segundo a vítima, ele não parou de cometer crimes. Apesar de toda a ficha, Felipe não foi preso pelos crimes que cometeu contra a supervisora de vendas e ainda faz questão de divulgar a liberdade com fotos na internet.

A equipe de reportagem da TV Vitória/RecordTV entrou em contato com a Polícia Civil que, informou por nota, que o inquérito policial, presidido pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) já foi concluído e enviado à 1ª Vara Criminal. A Polícia Civil também afirmou que o suspeito encontra-se foragido e que não possui outros detalhes sobre o caso.

O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por sua vez, enviou uma nota dizendo que, no dia 28 de setembro de 2022, ofereceu "denúncia em desfavor de um homem, pelos crimes de estupro e roubo com manutenção da vítima em cárcere privado e emprego de arma branca e arma de fogo."

Ainda em nota, o MPES disse que "requer que seja fixado valor mínimo de reparação dos prejuízos patrimoniais e extrapatrimoniais (dano moral individual e coletivo), sofridos pela vítima, além de ter pedido a prisão preventiva do denunciado."

Também segundo o Ministério Público, o caso segue sob segredo de justiça na 1ª Vara Criminal de Vila Velha.

* Com informações da repórter Nathália Munhão, da TV Vitória/RecordTV.

Pontos moeda