Polícia

Diplomata espanhol chora e lembra da família durante depoimento, diz delegado

Crimes que envolvam cidadãos estrangeiros com imunidade, exige que investigação seja acompanhada pela embaixada e pela Interpol. O acusado se apresentou espontâneamente

Jesús Figón se entregou á polícia após assassinar a mulher à facadas Foto: Reprodução/Antônio Heredia/El Mundo

A Polícia Civil do Espírito Santo informou, na manhã desta quarta-feira (13), que a Interpol, a polícia internacional, e a embaixada da Espanha no Brasil, estão cientes de todos os procedimentos de investigação sobre o caso da morte da mulher Rosemary Justino Lopes, de 56 anos, assassinada pelo diplomata do governo da Espanha, Jesús Figón, na madrugada da última terça-feira (12), em Jardim Camburi, Vitória. A informação foi divulgada pelo delegado que acompanha o caso, Adroaldo Lopes.

Segundo o delegado, este o primeiro caso de feminicídio cometido por estrangeiro com imunidade diplomática registrado na história do Espírito Santo e também no Brasil. O procedimento policial, em casos de crimes que envolvam cidadãos estrangeiros com imunidade diplomática, exige que toda a investigação seja acompanhada por um representante da embaixada do país de origem e um agente da Interpol.

“Eu conversei com uma representante da embaixada da Espanha que deve acompanhar todo esse procedimento formal. Foi me designado um adido diplomático e todos os procedimentos foram relatados. O depoimento que ele prestou foi todo feito informalmente. Ele não precisaria tê-lo feito devido à imunidade diplomática”, contou o delegado Adroaldo Lopes a uma rádio.

O delegado disse que, assim que Jesús se apresentou à delegacia para confessar o crime, por volta das 8 horas da última terça-feira (12), o assassino confesso teria se sentido abalado, estava chorando e falava da família. O diplomata teria dito ao delegado que abriria mão da imunidade diplomática, mas foi orientado por um advogado a utilizá-lo como direito.

Jesús Figón saiu de cabeça baixa, dentro de um táxi, após prestar depoimento na DHPP, em Vitória Foto: TV Vitória

“Ele contou o que aconteceu, que a mulher estava passando por momentos de depressão por causa da perda de um filho. Bebia muito. Chegou a ser internada para tratamento anti-depressivo na Espanha mas não quis ficar. Chegou, na última semana a entrar no Alcoólicos Anônimos aqui em Vitória, mas também não quis ficar”, relatou o delegado.

Lopes disse ainda que é preciso esperar os resultados da perícia, e depois enviar os dados para a Embaixada da Espanha. “Não temos como prever quando o inquérito será concluído porque há muitas questões que dependem de tempo, como o resultado do laudo cadavérico e o laudo do local do crime. Os produtos químicos usados levam tempo para reagir para obtermos uma resposta”, diz o delegado.

Após a conclusão do inquérito, o julgamento deve ser feito segundo as leis da Espanha. Porém, caso o país abra mão da imunidade diplomática, como já explicitado pelo ministro de Assuntos Exteriores da Espanha, José Manuel García Margallo, que disse que “se for comprovado violência machista, o país pode abrir mão da imunidade”, o caso será julgado segundo as leis brasileiras. O corpo da vítima foi velado em Cariacica nesta quarta-feira (13).

Primeiro caso no Brasil

Não há precedentes de um homicídio cometido por um diplomata estrangeiro na história do Brasil. A afirmação é do delegado que acompanha o caso, Adroaldo Lopes. “Por meio de consultas que fiz na Polícia Federal, não há precedente de um crime desta natureza no Brasil. Nunca aconteceu de um diplomata envolvido em um crime de homicídio”, disse em entrevista.

O crime teve grande repercussão nos principais jornais da Espanha. O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Garcia Margallo, anunciou nesta quarta-feira (13), para imprensa espanhola, que se for provado que houve “violência machista” pelo comissário, a Espanha pode abrir mão da imunidade diplomática. O ministro ressaltou, ainda, que a imunidade "em nenhum caso pode servir como álibi em fatos tão desprezíveis como o crime investigado”.

Quem é Jesús Figón

Alto comissário da polícia espanhola, Jesús Figón, de 64 anos, era conselheiro de interior, trabalhava em Brasília e era responsável por mediar a investigação de crimes envolvendo cidadãos espanhóis em território brasileiro. Figón era casado há 30 anos com a mulher que confessou ter matado a facadas, Rosemary Justino Lopes, de 56 anos.

Figón morava na capital do Brasil há dois anos e oito meses, e tinha várias medalhas de condecoração pela polícia da Espanha. Antes de vir ao Brasil, Figón tinha o cargo máximo como chefe de polícia da cidade de Alcalá de Henares, que faz parte da província de Madrid.

Durante depoimento à polícia, Figón teria chorado, demonstrado arrependimento, lembrado da filha que mora na Espanha. Na delegacia, o assassino confesso disse que a mulher sofria de depressão e abusava do álcool.

“Ele se mostrou ser uma pessoa simples, calma, não queria usar a imunidade diplomática. Levando em consideração que ele havia acabado de cometer o crime. Ele chorou bastante, falava da família e do trabalho dele”, afirmou o delegado.

O próprio delegado que acompanha o caso, Adroaldo Lopes, disse que os vizinhos ficaram perplexos com o crime. Vizinhos e quem tinha contato com Figón, afirmavam que o diplomata era calmo e educado.

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Delegado aposentado teria avisado Adroaldo

Delegado Adroaldo Lopes acompanha o caso e deve concluir o inquérito de investigação Foto: Arquivo/TV Vitória

O delegado que acompanha o caso e ouviu o depoimento do assassino confesso Jesús Figón, afirmou que recebeu um telefonema de um delegado aposentado informando sobre o crime.

O delegado aposentado seria amigo do diplomata espanhol. “Às 7h32 eu recebi um telefone de um delegado aposentado que disse que havia recebido um telefonema de um amigo. Ele não disse que o amigo era diplomata nem nada. Após isso é que Jesús foi à delegacia”, contou Adroaldo em entrevista a uma rádio.

Durante depoimento, o diplomata teria aberto mão da imunidade diplomática, prestou depoimento e se dispôs a fazer um exame de sangue que pode determinar se o criminoso ingeriu bebida alcoólica ou consumiu drogas no momento do crime. Mas Figón foi orientado pelo advogado de defesa a fazer uso da imunidade.

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