Polícia

Golpe do falso exame faz novas vítimas e delegada faz alerta a capixabas

O golpe já é conhecido pela Polícia Civil e no Estado ele apareceu entre 2015 e 2016. Os estelionatários fizeram mais de 100 vítimas

Mais uma pessoa quase caiu em um golpe realizado por um falso médico no Espírito Santo. De acordo com a mãe de um jovem de 27 anos, que está internado há 80 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular da Serra, e que não quis se identificar, ela recebeu uma ligação de um suposto médico pedindo para que ela pagasse quase R$ 5 mil por um exame.

“Eu estava em casa. Havia passado a noite no hospital com o meu filho e me ligaram dizendo que ele teve uma hemorragia e por isso precisavam fazer um exame e por isso precisavam que eu contribuísse com uma quantia. Eu precisava fazer o pagamento para depois ter o reembolso do plano de saúde. Eu perguntei o valor e ele pediu R$ 4.950”

Ainda no telefone, ele passou os dados da conta para depósito. Era de uma agência de Mato Grosso do Sul. Antes de transferir os quase R$ 5 mil, ela desconfiou. “Eu liguei imediatamente para o médico do meu filho, que falou que estava tudo bem. Liguei para o hospital e a cuidadora dele disse que estava tudo certinho. Aí eu liguei para o meu marido para avisar do golpe”, contou a mulher.

Sem o retorno, o estelionatário mandou uma mensagem para o celular da mulher. Com um número 27, do Espírito Santo, ele se identifica como doutor Marcelo e pediu o comprovante do depósito. “Eu poderia ter caído, porque ele usava termos técnicos e parecia uma pessoa que entendia da área de saúde”, disse a mãe do paciente.

A quase vítima recebeu as ligações no dia 19 de junho. Ainda assustada, ela correu para o hospital e viu que não era a única. Ainda naquele dia os golpistas ligaram e tentaram aplicar o golpe em quase 10 pessoas que estavam com parentes internados na UTI do mesmo hospital. A conversa era sempre parecida, de que o paciente está com uma hemorragia e precisa fazer um exame com urgência.

“Que eu saiba, acho que ninguém chegou a depositar, mas eles sabiam quem era o responsável, o nome completo do paciente, o plano de saúde, porque teve gente com o plano de saúde diferente. É aterrorizante”, afirmou.

A mulher que quase caiu no golpe contou que os funcionários alertam para esse tipo de crime, mas não dão nenhuma garantia do sigilo da ficha médica. “A única coisa que me falaram foi que provavelmente tinha sido ataque de hackers e só”, disse.

Outro crime

O crime também acontece em outros hospitais. Na última sexta-feira (14) uma mulher relatou que acabou caindo no golpe, dessa vez em Vila Velha. A dona de casa é irmã de um militar que está internado também em um hospital particular com suspeita de câncer. Eles pediram R$ 3800 para o suposto exame, mas ela só havia conseguido desembolsar R$ 2 mil.

"Meu irmão está numa situação crítica, porém estável. Há 40 dias ele está internado, já mudou de dois hospitais, foi para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e retornou. Estamos em processo investigativo para saber realmente qual é a sua doença. Inicialmente temos o diagnóstico de suspeita de leucemia. Nós ficamos desesperados. Eu tinha cerca de R$ 1128 na minha conta e minha mãe tinha o valor de R$ 500 em dinheiro e R$ 500 em cheque", contou a dona de casa.

Orientações

O golpe do falso exame já é conhecido pela Policia Civil. No Espírito Santo ele apareceu entre 2015 e 2016, quando mais de 100 pessoas foram vítimas de estelionatários. Os alvos estão dentro de hospitais da Grande Vitória, principalmente os particulares.

“As vítimas são parentes de pessoas que estão internadas em UTI de hospital, por isso elas estão mais vulneráveis, e os criminosos ligam, de posse de todos os dados desse paciente solicitando um depósito para um exame”, explicou a delegada Rhaiana Bremenkamp.

Segundo a titular da Delegacia de Defraudações, os golpes diminuíram no último ano, mas os criminosos estão cada vez mais especializados e prontos para mudar de estratégia. “Os estelionatários têm esse perfil de buscar sempre trazer muita realidade ao golpe, por isso eles escolhem o nome de um médico que a pessoa estará sempre lembrando dele e agora nos surpreendeu ele ter ligado de um DDD 27, pois esse golpe era sempre aplicado pelo DDD 66 e o DDD 27 deve ser para trazer mais proximidade a vítima, para atender e não rejeitar a ligação”, destacou a delegada.

No início do ano passado, a Delegacia de Defraudações investigou os golpes do falso exame aqui no Estado. Na época, houve a suspeita de participação de funcionários dos hospitais, mas nenhuma evidência foi descoberta e ninguém foi preso. De acordo com a delegada, os hospitais descartaram ataques hackers, mas não deram informações sobre quem acessa os prontuários médicos, de onde podem ter saído os dados.

“Quando a gente solicita informação de quem teve acesso aos prontuários online do paciente, acaba que a gente não consegue resposta. Os hospitais têm dificuldade de identificar e fica difícil uma investigação desse tipo”, afirmou.

A delegada alertou que hospitais não solicitam exames por telefone e valores devem ser negociados pessoalmente. As vítimas devem ir até a delegacia, que fica na Avenida Marechal Campos, em Vitória, para prestar queixa. Mas antes que isso seja necessário, é importante ficar atento e esgotar todas as possibilidades, para não cair no golpe.

“Primeiro a pessoa deve ficar atenta ao DDD do telefone. Depois manter a calma, entrar em contato com o hospital, buscar informação se aquilo é real e saber sempre que qualquer negociação deve ser feita de forma física. Ela deve comparecer ao hospital e se realmente for verdade, pagar esse exame. Nunca fazer depósito em conta de pessoa física”, disse.

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