A Polícia Civil revelou, nesta terça-feira (20), os detalhes da Operação Baeste, que já bloqueou mais de R$ 40 milhões em imóveis, veículos e contas bancárias ligados ao tráfico de drogas.
A operação, considerada um marco na atuação financeira da corporação, começou a partir da prisão de Thiago Cândido Viana, o Baé, em 2021, durante a Operação Sicário.
Thiago, ex-agente penitenciário e apontado como fornecedor de drogas e armas do Primeiro Comando de Vitória (PCV), mesmo preso, continuava atuando como elo entre facções e fornecedores nas fronteiras do Brasil com o Paraguai.
Foi a partir dele que percebemos a existência de um tráfico de drogas com estrutura e poder econômico que não imaginávamos no Espírito Santo, afirmou o subsecretário de Inteligência da Sesp, Romualdo Gianordoli Neto.
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Segundo a Polícia, Baé movimentava recursos ilícitos por meio de diversas técnicas de lavagem de dinheiro, como o fracionamento de depósitos (smurfing), uso de empresas de fachada e aquisição de imóveis e carros com valores subfaturados.
“Eles compravam imóveis de R$ 1 milhão, mas registravam por R$ 300 mil. Pagavam R$ 700 mil por fora com dinheiro do tráfico, e quando vendiam pelo valor real, o ‘lucro’ era o dinheiro limpo”, explicou o delegado Alan de Andrade, coordenador do Ciat (Centro de Inteligência e Análise Telemática).
Operação Baeste cumpriu mandados em outros estados
As investigações começaram no final de 2022 e levaram ao cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão, sendo 19 no Espírito Santo e 6 em outros estados: Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. A Operação Baeste contou com o apoio de outras polícias civis e do projeto Impulsos, do Ministério da Justiça.
“É uma mudança de paradigma. Foi a primeira operação voltada exclusivamente para estrangular financeiramente uma organização criminosa. A descapitalização é o que realmente enfraquece o crime”, disse Alan.
De acordo com o delegado-geral da PCES, José Darcy Arruda, a operação inaugura uma nova fase de atuação da Polícia Civil capixaba.
“A Polícia Civil, a partir de agora, entra de forma muito forte no campo financeiro. E mais: esse dinheiro bloqueado poderá ser revertido para a própria polícia, com investimentos em tecnologia, mobilidade e infraestrutura”, afirmou Arruda.
Investigados tinham métodos de lavagem de dinheiro
A lista de investigados inclui cerca de 20 pessoas, entre elas empresários, advogados, servidores públicos e um coronel da reserva da Polícia Militar, além de suas esposas e pessoas apontadas como laranjas.
“Não são pessoas que vivem em comunidades ou regiões carentes. Estamos falando de moradores de áreas nobres da Grande Vitória, com imóveis de alto padrão, carros de luxo e vínculos com empresas”, destacou Alan de Andrade.
Entre os métodos de lavagem usados pelo grupo, destacam-se ainda o uso de títulos de capitalização, que permitiam reintegrar valores ao sistema bancário sem gerar alertas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Também foram identificadas transações com empresas de fachada, como uma transportadora registrada por Thiago Cândido, sem empregados, veículos ou sede real.
Apesar de o total bloqueado até agora chegar a R$ 40 milhões, o valor autorizado pela Justiça passa de R$ 100 milhões, considerando o patrimônio oculto dos investigados. A PCES acredita que novas apreensões devem ocorrer conforme o andamento da investigação.
“O dinheiro vai, a droga e a arma vêm. É uma via de mão dupla. Estamos focando quem movimenta o dinheiro, e não apenas no traficante da ponta. Só assim conseguimos atingir a raiz do crime”, concluiu o delegado Romualdo Gianordoli Neto.
Thiago Cândido Viana continua preso. Parte dos investigados pode responder por lavagem de dinheiro, associação criminosa e outros crimes relacionados à ocultação de patrimônio de origem ilícita.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos