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Polícia indicia seguranças de supermercado por chicotear jovem negro

A ordem de prisão temporária - por cinco dias prorrogáveis - partiu da juíza criminal Tatiana Saes Valverde Ormeleze e acolhe representação da Polícia Civil de São Paulo

Polícia indicia seguranças de supermercado por chicotear jovem negro Polícia indicia seguranças de supermercado por chicotear jovem negro Polícia indicia seguranças de supermercado por chicotear jovem negro Polícia indicia seguranças de supermercado por chicotear jovem negro
Foto: Reprodução / Record TV

A Polícia Civil de São Paulo indiciou Davi de Oliveira Fernandes, 37 anos, e Valdir Bispo dos Santos, 49 anos, ex-seguranças do supermercado Ricoy, por chicotear um jovem negro de 17 anos, após ele tentar furtar um chocolate. O adolescente foi levado na segunda-feira (9), para o 80º Distrito Policial, da Vila Joaniza, zona Sul de São Paulo, e reconheceu seus agressores. Eles estão presos temporariamente.

Valdir Bispo dos Santos se entregou à Polícia Civil no último sábado (7). O outro investigado, David Oliveira Fernandes, já havia sido preso na sexta-feira (6).

A ordem de prisão temporária – por cinco dias prorrogáveis – partiu da juíza criminal Tatiana Saes Valverde Ormeleze e acolhe representação da Polícia Civil de São Paulo. A magistrada também autorizou buscas e apreensões contra os investigados.

Acolhimento

Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), “desde sexta-feira, dia 6, o adolescente foi incluído no serviço de acolhimento”. “Ele está num abrigo da rede socioassistencial da Prefeitura de São Paulo. O encaminhamento foi feito pelo Conselho Tutelar da Cidade Ademar e pelo Centro de Referência da Assistência Social”, afirma.

“Nos próximos dias o jovem deve ser incluído no PPCAAM- Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados. A inclusão dele no Programa já foi solicitada pelo Conselho Tutelar e pelo Creas. A Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro também acompanha o caso. Familiares do jovem reclamaram de ameaças e de que foram procurados por pessoas desconhecidas. O menino estava morando com um irmão dele, que foi favorável ao acolhimento dele num abrigo”, diz Castro Alves.

Ariel ainda dá conta de que o “adolescente de 17 anos torturado no mercado Ricoy esteve na última quinta-feira, dia 5, acompanhado de seu irmão Wagner Bispo de Oliveira, 30 anos”. “No Conselho Tutelar da Cidade Ademar. Lá foram atendidos por 4 conselheiros tutelares. O conselho tutelar encaminhou o adolescente para acompanhamento Psicossocial junto ao Creas (Centro de Referência da Assistência Social) e o Centro de Apoio Psicosocial (Caps)”.

“Um relatório sobre a situação de risco do menino, que vivia nas ruas e usava drogas, foi encaminhado para a Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro, que acompanha caso”, afirma o conselheiro do Condepe.

“O pai do jovem faleceu no início desse ano e a mãe, conforme os familiares, sofre de alcoolismo e não foi localizada pelo Conselho Tutelar. Na última terça-feira, dia 3, pedi para os membros do Conselho Tutelar da Cidade Ademar para que acompanhassem o caso, com apoio e proteção através de encaminhamentos sociais e de atendimento psicológico ao adolescente”, relata Ariel.

Depoimento

O rapaz afirmou que, no mês passado, “em data que não recorda, “dentro do Supermercado Ricoy, instalado no local dos fatos, onde apanhou das gôndolas uma barra de chocolate e tentou sair sem efetuar o pagamento”. “Foi abordado na saída pela pessoa de Santos, segurança do local, o qual conhece já há algum tempo”.

“Ele foi auxiliado por Neto que juntos levaram a vítima até um quarto nos fundos da loja”, narrou.

O jovem acrescentou. “Ali a vítima foi despida, amordaçada, amarrada e passou a ser torturada com um chicote de fios elétricos trançados. Ali, permaneceu por cerca de quarenta minutos, sendo agredido o tempo todo”.

“Apontaram uma arma”

Esta não é a única investigação a respeito da conduta de agentes de segurança do Ricoy. Uma mulher negra denunciou à Polícia Civil, em abril, uma abordagem de seguranças do supermercado Ricoy que a fez “imaginar estar sendo assaltada”.

O caso teria ocorrido em abril. A mulher prestou depoimento ao 98º Distrito Policial, do Jardim Miriam, zona Sul de São Paulo.

A abordagem ocorreu, segundo a vítima, em uma unidade do Ricoy que fica na mesma avenida daquela em que o rapaz foi chicoteado. A rede tem duas unidades na mesma avenida, na Vila Joaniza, zona Sul de São Paulo.

“Um deles apontando arma de fogo, tirou as duas bolsas de suas mãos e passou a revistá-las; que decidiu retornar ao mercado para certificar-se que as duas pessoas que a abordaram eram funcionários do local”, consta no Boletim de Ocorrência.

COM A PALAVRA, RICOY

“O Ricoy Supermercados apura todo e qualquer caso de violência. Mais do que isso, sempre vai colaborar com as investigações e as autoridades para garantir que todos os fatos sejam esclarecidos. E enfatizamos que somos contrários e não compactuamos com qualquer tipo de discriminação ou violação de direitos humanos. Por isso, o Ricoy espera que sejam punidos no rigor da lei sempre que o crime for comprovado.”

“Em relação aos fatos lamentáveis registrados em vídeo divulgado amplamente, o Ricoy Supermercados esclarece o seguinte:

1 – Ficamos chocados com o conteúdo da tortura em cima do adolescente vítima da violência.

2 – O Ricoy desde sua fundação na década de 1970 exerce os princípios mais rígidos de valorização do ser humano, seja em nossas lojas ou em nossa comunidade. Ficamos muito abalados com a notícia que nos causou repulsa imediata.

3 – Os dois seguranças acusados de praticarem os atos são de empresa contratada terceirizada e não prestam mais serviço para nossos supermercados.

4 – Para manter a coerência em contribuir com as investigações, nesta terça-feira (3), um funcionário da loja Yervant Kissajikian, 3384, prestou depoimento no 80º Distrito Policial.

5 – O Ricoy já disponibilizou uma assistente social para conversar com a vítima e a família. E dará todo o suporte que for necessário.

O Ricoy Supermercados condena e repudia todos os casos de violência, discriminação ou violação dos direitos humanos envolvendo direta ou indiretamente suas lojas.

O Ricoy Supermercados acredita que para a construção de um país mais justo é preciso uma sociedade mais igualitária, mais tolerante com as diferenças e sem preconceitos.

Não por acaso é importante enfatizar que desde a sua fundação o Ricoy Supermercados reflete em seu corpo de colaboradores a grande diversidade dos brasileiros.

E diante das notícias dos últimos dias, enfatiza: espera que todos sejam punidos no rigor da lei sempre que o crime for comprovado.”