Polícia

Racha, fuzis e patrocínio de guerras: entenda os conflitos na Grande Terra Vermelha

Uma megaoperação foi montada para enfrentar a guerra na Grande Terra Vermelha entre o Primeiro Comando de Vitória e o Terceiro Comando Puro

Operação Estado Presente na Grande Terra Vermelha
Operação Estado Presente na Grande Terra Vermelha. Foto: Sesp/Divulgação

Um confronto urbano, que em menos de uma semana registrou três mortos e nove baleados, revela o clima de tensão que toma conta da região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, intensificado com armamentos mais pesados, como fuzis, rachas e patrocínios de guerras entre facções.

Com a escalada da violência, uma megaoperação foi montada, segundo a Secretaria de Segurança Pública, para conter a onda de violência gerada pela guerra da região 5, disputada entre o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Terceiro Comando Puro (TCP).

A Grande Terra Vermelha compreende mais de 22 bairros, mas apenas dois deles estão sob o comando do TCP, sendo eles: Ulisses Guimarães e Vinte e Três de Maio, chefiados por Lucas de Almeida Bernardo e Luciano de Almeida Bernardo.

Já o tráfico de drogas dos outros bairros é controlado pelo PCV, por meio de Cleuton Gomes Pereira, o Frajola. 

Segundo a Polícia Civil, o PCV sempre deteve forte poder bélico na região. Entretanto, desde o mês de maio, o TCP passou a operar com armamento pesado.

Uma das suspeitas é que o equilíbrio de forças tenha vínculo com um nome conhecido das autoridades: Sérgio Raimundo Soares da Silva Filho, conhecido como “Serginho Cauê”.

Importante falar nesse individuo porque ele tem patrocinado guerras em toda a Grande Vitória. É um indivíduo com a área de domínio no bairro Industrial, em Novo Porto Canoa, em outros bairros da Serra.

Subsecretário de Inteligência da Sesp, delegado Romualdo Gianórdoli

O delegado revela que Serginho Cauê se autointitulou chefe do PCV. “Ele tem patrocinado guerras em Cobi e lugares que têm lideranças antigas do PCV que não quiseram prestar referência a ele”.

Veja o que diz o delegado Romualdo Gianórdoli:

Romualdo Gianórdoli explica que, historicamente, os bairros Ulisses Guimarães e Vinte e Três de Maio possuíam um poder bélico considerado “menor”, apesar de também realizarem ataques. A ação pode identificar que as regiões estão recebendo “algum aporte”.

Isso está sendo analisado, vamos ter a resposta em pouco tempo e pode estar sendo patrocinado até mesmo pelo racha do Primeiro Comando de Vitória. Onde o Frajola ficou para um lado e o Sergio Raimundo Soares ficou para outro lado. Ambos se intitulam PCV e o outro PCV-CV.

Subsecretário de Inteligência da Sesp, delegado Romualdo Gianórdoli

Moradores vivem acuados com rotina de medo em Vila Velha

Enquanto o crime avança, os moradores das regiões de Vila Velha vivem acuados. Essa rotina foi substituída pelo medo e o silêncio dá lugar a rajadas de fuzil durante noites e madrugadas.

Para tentar reagir à escalada de violência, o comandante da 13ª Companhia Independente da PM, major Cézar, disse que a polícia montou uma força-tarefa, com mais viaturas e equipes nas ruas.

“Nós modificamos os horários das viaturas para atender aos trabalhadores que saem cedo, que usam o transporte público, para atender esse período de férias das crianças”.

Major Cézar falou sobre as ações da polícia na região. Foto: Sesp/Divulgação

O comandante também informou que mais viaturas foram colocadas nas ruas e policiais de folga estão sendo convocados a trabalhar. “Estamos ampliando o policiamento especificamente nas regiões de conflito e contamos com uma grande força tarefa para restaurar a tranquilidade do local”.

Ataques ocorrem do lado do TCP e PCV

O delegado da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vila Velha, Adriano Fernandes, explica que os ataques saem tanto do lado do Terceiro Comando Puro quanto do Primeiro Comando de Vitória.

Esses ataques estão ocorrendo dos dois lados, tanto do TCP quanto do PCV. A principal dificuldade é a questão da própria estrutura dessas facções criminosas, organizadas. Possuem armamento pesado, está vindo armamento de fora para ajudar nesses ataques.

Delegado da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vila Velha, Adriano Fernandes,

Serviços continuam mesmo com ataques

Mesmo com o clima tenso, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) garante que os serviços públicos funcionam normalmente: ônibus estão circulando e unidades de saúde continuam abertas na Grande Terra Vermelha.

A Operação Estado Presente segue por tempo indeterminado na Grande Terra Vermelha.

Coronel Marcio Celante, subsecretário de Integração Institucional. Foto: Sesp/Divulgação

O subsecretário de Integração Institucional, coronel Marcio Celante, afirmou que situações de conflito já existiram em outras regiões da Grande Vitória. Por meio do que foi aplicado e que deu resultado, o planejamento em Vila Velha é realizado.

Tivemos oportunidades no ano passado no município da Serra, Vitória e Cariacica. Conflitos parecidos, similares. E a atuação da força de segurança aconteceu e não será diferente na região da Terra Vermelha.

Coronel Marcio Celante

Quais foram os últimos ataques na Região V?

Segunda-feira (14)

Ivanilson Xavier, de 25 anos, foi morto na noite de segunda-feira (14), pouco após sair de casa com sua bicicleta no bairro Ulisses Guimarães, em Vila Velha.

Segundo testemunhas, o crime aconteceu enquanto várias crianças brincavam em um parquinho próximo ao local do tiroteio, o que aumentou ainda mais o clima de pânico entre os moradores.

Sexta-feira (11)

Um ataque a tiros deixou cinco pessoas feridas, entre elas uma criança de 9 anos, por volta das 18h, na Rua Marcelino Viguini, no bairro Ulisses Guimarães.

Segundo o que testemunhas relataram à Polícia Militar (PM), pessoas em um carro começaram a atirar contra os pedestres, sem um alvo específico, e deixaram o local após efetuarem os disparos.

Quinta-feira (10)

Após três mortes em menos de 1 hora na região da Grande Terra Vermelhaforças de segurança ocuparam bairros no município, na Operação Estado Presente.

O primeiro homicídio ocorreu às 7h23, em Barramares, na Rua Nossa Senhora da Penha. A vítima foi Gaetano de Jesus Barbosa, de 22 anos.

Gaetano e Renato foram assassinados na Grande Terra Vermelha. Foto: Sesp/Divulgação

Segundo testemunhas, a vítima caminhava pela rua em direção a uma boca de fumo para comprar drogas. Ele foi alvejado por homens que estavam em um carro modelo SUV.

De acordo com o delegado adjunto da DHPP de Vila Velha, Adriano Fernandes, o jovem era conhecido por participar da movimentação de tráfico de drogas na região.

O segundo crime ocorreu cerca de 10 minutos depois, na Rua Maresia, em São Conrado. O jovem Renato Conceição de Assis Júnior, de 21 anos, foi baleado perto da própria casa.

Já a terceira vítima foi um trabalhador terceirizado da EDP, concessionária de energia, Luciano Souza Andrade, de 41 anos, que morreu após ser atingido por uma bala perdida no bairro Zumbi dos Palmares, em Vila Velha.

Luciano era supervisor de uma empreiteira que presta serviço para a EDP e estava há três dias no bairro realizando a revisão elétrica. Ele estava fazendo serviço em um poste quando um carro com traficantes teria passado atirando.

Repórter do Folha Vitória, Maria Clara de Mello Leitão
Maria Clara Leitão

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário Faesa e, desde 2022, atua no jornal online Folha Vitória

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