“É uma tortura”, é assim que Amanda Guedes define a morte da pequena Alice Rodrigues, de apenas 6 anos, atingida por um tiro na cabeça durante um ataque criminoso no bairro Balneário de Carapebus, na Serra, no último domingo (24).
Amanda seja talvez uma das poucas pessoas a compreender o que os pais da pequena passam neste momento. Há cinco anos, ela perdeu sua própria Alice, esta, de sobrenome da Silva Almeida, também assassinada a tiros, enquanto brincava no quintal de casa, no bairro Dom João Batista, em Vila Velha.
O crime, que causou grande comoção, completou cinco anos em fevereiro. Além da coincidência dos nomes das vítimas, assim como a mãe de Alice Rodrigues, Amanda também estava grávida quando perdeu a filha tragicamente.
As duas mães agora também dividem a busca por justiça. Amanda relata que a notícia da morte de Alice a abalou profundamente, assim como o assassinato da adolescente Sophia Vial, de 15 anos, na Grande Santa Rita, Vila Velha, no dia 9 de agosto.
Vi a notícia (a morte de Sophia) pelo Instagram. Absorvi muito o que aconteceu com a menina Sophia e fiquei mal, uma semana abalada. Depois me levantei emocionalmente. Agora veio uma notícia dessas (da morte da Alice), querendo ou não eu revivo tudo.
Amanda Guedes
“Peço a Deus para cuidar dessa mãe”, diz Amanda
A dor do luto não é remediada com a passagem dos anos, segundo Amanda. A perda de um filho é algo que ela define como “um pesadelo”.
“É só Deus por nós e mais ninguém, só peço a Deus para cuidar dessa mãe, porque é um pesadelo“, disse.
Neste momento, ela relata que ao ver a notícia sobre a morte de Alice, precisou se recompor até mesmo para ir ao trabalho.
Hoje (segunda-feira) não consegui almoçar para ir trabalhar, me deu enjoo, dor de cabeça, chorei. Me acalmei e respirei e vim trabalhar porque preciso, mas minha vontade era ficar na cama, como se o mundo parasse, porque relembro tudo. É uma tortura.
Amanda Guedes
Relembre o caso
O pai de Alice Rodrigues contou que a família voltava da praia de Carapebus no momento em que o carro foi interceptado por bandidos. Os criminosos obrigaram o pai a parar o veículo e atiraram várias vezes.
Alice foi atingida e morreu após dar entrada no hospital. O pai levou um tiro de raspão e a mãe, grávida, ficou ferida por estilhaços de vidro.
Segundo a perita-geral adjunta da Polícia Científica, Daniela de Paula, a criança foi atingida por um disparo que entrou pela região occipital direita (cabeça) e saiu pelo ouvido esquerdo. Ainda conforme a perícia, os disparos foram feitos de dentro para fora do carro usado pelos criminosos.
O secretário de Segurança, Leonardo Damasceno, informou que o ataque foi realizado por integrantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV), que confundiram o carro da família com o de uma facção rival, o Terceiro Comando Puro (TCP).
“Identificamos que tinha um olheiro procurando um carro que era usado por integrantes do TCP. O olheiro identificou errado o carro da família da Alice e acabou esse ataque vitimando a família”, disse o secretário.
Região em conflito
A área de Carapebus tem sido palco de confrontos entre facções criminosas. Nos dias anteriores ao ataque que vitimou Alice, dois jovens foram mortos em episódios relacionados à disputa pelo tráfico de drogas.
Até o momento, seis pessoas foram presas pelo crime, entre elas o motorista, o atirador, dois mandantes, um olheiro e uma advogada.
De acordo com a polícia, a advogada é casada com um dos suspeitos de comandar o ataque e foi encontrada em casa com munições de fuzil e pistola. Uma granada também foi localizada próximo ao veículo usado pelos criminosos.