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Performance contra estupro na Universidade Federal Fluminense cria polêmica

Durante o evento, mulheres ficaram nuas, uma participante foi cortada no peito com um estilete e Raíssa teve a vagina costurada enquanto fumava e conversava

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Rio – Era para ser uma performance contra o aumento de estupros e da violência sexual que atinge a mulher, como parte do seminário Corpo e Resistência, no campus de Rio das Ostras, na região dos lagos, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Terminou como uma grande polêmica sobre arte e os limites da liberdade de expressão quando fotos do evento foram publicadas nas redes sociais.

A universidade e a Polícia Federal investigam o caso. Além de discussões teóricas, o seminário, realizado no dia 28 de maio pelo curso de Produção Cultural, incluía uma apresentação da artista mineira Raíssa Vitral e uma festa intitulada “Xereca Satanik”. Durante o evento, mulheres ficaram nuas, uma participante foi cortada no peito com um estilete e Raísssa (que costuma usar o próprio corpo como parte das performances), teve a vagina costurada enquanto fumava e conversava. Tudo fazia parte de uma performance artística.

Diante da polêmica, o chefe do departamento de Artes e Estudos Culturais, Daniel Caetano, explicou em seu perfil no Facebook que as performances foram “feitas para chocar a sensibilidade das pessoas e fazê-las pensar sobre seus próprios limites”. “Damos apoio total aos promotores do evento, realizado dentro de uma perspectiva acadêmica, a partir de discussões ocorridas nas aulas de uma disciplina. É coisa séria e deve ser respeitada”, disse. Ele acrescentou que costurar partes do corpo “não é novidade” e já foi reproduzido por artistas contemporâneos como Marina Abramovic e Lydia Lunch. O professor esclareceu que Raíssa “estava em plena posse dos seus sentidos e o fez porque quis” e “nenhum aluno ou qualquer outra pessoa foi constrangido a fazer nada”. “Qualquer tentativa de intimidar o curso, os alunos, os professores ou os participantes do evento será por nós considerado um gesto de censura (…). Não haverá de nossa parte qualquer censura a atos do gênero”.

Na segunda-feira, dia 2, a UFF instaurou uma comissão de sindicância para, em 30 dias, apurar o que aconteceu no campus de Rio das Ostras. No mesmo dia, o vice-reitor em exercício, Sidney Mello afirmou em nota publicada no site da universidade que “é inegável o direito da manifestação política e cultural. Existem, no entanto, regras mínimas de respeito pelo outro e pelo espaço público, norteadas por princípios éticos e pela legislação vigente”. Nesta terça-feira, 3, o vice-reitor ressaltou que a Direção Central “não compactua com qualquer tipo atividade que, desvirtuando de sua essência institucional, extrapole os limites do razoável, atentando aos valores da liberdade e igualdade, ou ofendendo a dignidade da pessoa humana”. A Polícia Federal também investiga “as circunstâncias da utilização do patrimônio público federal” e vai ouvir representantes da UFF e os responsáveis pela organização da festa para esclarecer o caso.

Estupros

Um dos objetivos da performance era “denunciar” o aumento das ocorrências de estupros em Rio das Ostras: no primeiro trimestre de 2014 foram feitos 20 registros, contra 14 casos no mesmo período do ano anterior (crescimento de 42%), de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública. Questionada sobre o aumento da violência sexual contra a mulher na cidade, a prefeitura de Rio das Ostras informou que o crescimento populacional “está diretamente relacionado ao aumento dos índices de violência”. Em 2004, havia 45 mil habitantes contra 120 mil pessoas, em 2013. A prefeitura também informou que reforçou o patrulhamento no município em, pelo menos, 80 policiais e aumentou a quantidade de câmeras de vigilância na cidade (de 20 para 60).