
A cidade de Vitória está há 555 dias sem feminicídios – o último caso registrado na Capital do Espírito Santo aconteceu em 8 de junho de 2024. O número de dias sem ocorrência do crime é quase oito vezes maior que o de Cariacica, município da Grande Vitória, que está há 71 dias sem registros.
Na região, Serra e Vila Velha aparecem em seguida. Na primeira, o último feminicídio aconteceu há 36 dias, e na segunda, há 15. Ao todo, a Grande Vitória registrou, até novembro deste ano, 12 casos. Até o mesmo mês de 2024, foram 13.
Para o secretário de Segurança Pública do Estado, Leonardo Damasceno, que acredita que o feminicídio não é uma questão apenas de segurança, mas também de educação e cultura, a explicação para o fato de Vitória estar há mais de um ano sem registros do crime, é multifatorial.
“Vitória tem um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) muito alto, é um município que tem uma renda per capita muito alta, também tem uma educação de qualidade. Então, são fatores que levam à diminuição desse tipo de violência de gênero.”
A administração da Capital também destaca iniciativas educativas, como as ações da Gerência de Formação e Atenção Psicossocial (Gfap) em escolas da rede municipal, que buscam evitar a formação de novos agressores e orientar meninas a reconhecer e denunciar situações abusivas.
O secretário municipal de Segurança Urbana, Amarílio Boni, reforçou que os resultados são fruto de uma política pública contínua e bem estruturada. “Vitória vive um momento de avanço na segurança pública porque trabalha de forma integrada, com foco em tecnologia, prevenção e presença nas ruas.”
Além disso, segundo a prefeitura, o resultado se dá devido ao trabalho integrado da Guarda Civil Municipal com órgãos de segurança estaduais e a rede de proteção à mulher da cidade. A guarda, por exemplo, ressalta a gestão, conta com 421 guardas capacitados anualmente em disciplinas como Atendimento de Vulneráveis e Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que fazem parte do Estágio de Qualificação Profissional (EQP).
Conforme a corporação, os agentes são treinados para identificar sinais de violência, orientar as vítimas e agir de forma rápida e humanizada.
“Os indicadores reforçam que a cidade tem avançado no enfrentamento à violência de gênero, com investimentos contínuos em prevenção, tecnologia, capacitação de servidores e acompanhamento de mulheres em situação de vulnerabilidade”, destaca o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.
A cidade de Vitória também alcançou duas vezes no ano períodos expressivos sem assassinatos. Entre meados de março e maio, o município ficou 72 dias sem nenhum registro de mortes violentas e em outubro também alcançou mais de um mês sem homicídios dolosos, marca nunca registrada antes, desde o começo da série histórica em 1996.
Além de Vitória, que não tem registros de feminicídios neste ano, Serra e Vila Velha registraram um caso a menos, cada município, em relação ao ano passado: no primeiro, são 4; e no segundo, 2. Já Cariacica, que teve 4 feminicídios em 2024, neste ano registra 6.
Queda de feminicídios no Estado
Em sua totalidade, o Espírito Santo apresenta, neste ano, uma queda de 13,5% nos casos de feminicídios em relação a 2024. No último ano, de janeiro a novembro foram registrados 37; agora, no mesmo período, são 32. Até o fim de 2024, o Espírito Santo teve 39 feminicídios.
Segundo Damasceno, a redução se dá de forma desigual pelos municípios, “variando de região para região”, mas o dado é significativo porque o número é difícil de reduzir. O secretário explica:
“São crimes que muitas vezes acontecem dentro do ambiente residencial, domiciliar, e numa situação de confiança ou de abuso de confiança, e é difícil a segurança fazer uma atuação que impeça, efetivamente, um criminoso de matar uma mulher por conta da sua condição de mulher.”

Apesar de acreditar que a violência de gênero se combate mais efetivamente com educação, Damasceno ressalta a importância de ações da Secretaria de Segurança Pública (Sesp). “As políticas que têm sido implementadas têm ajudado a conscientizar, a mudar um pouco a cultura e também a oferecer para as mulheres um ambiente em que ela confie mais nos órgãos de proteção.”
Medidas de combate à violência de gênero
O secretário destaca algumas medidas que têm incentivado a queda dos feminicídios no Estado. Uma delas é o Programa Estadual Patrulha Maria da Penha, realizada por meio da Polícia Militar, que desenvolve ações para prevenir e monitorar as mulheres em situação de violência doméstica familiar que tenham requerido medidas protetivas.
“Essas visitas são importantes porque mostram que a mulher não está desassistida. Ou seja, tem alguém olhando por ela. Essas visitas cumprem um papel importante de mostrar para o companheiro ou para a comunidade ao redor daquela mulher que ela está protegida, que tem alguém visitando e fazendo, realmente, o acompanhamento dela.”
Em 2024, foram realizadas 3.305 visitas até o mês de novembro. Neste ano, já foram 16.857, um aumento de 410%.
Além disso, Damasceno pontua a expansão do número das Salas Marias – espaços nas delegacias capixabas destinados ao atendimento humanizado a mulheres em situação de violência. No início do ano, eram 5; até o fim de dezembro, serão 16.
O projeto de reflexão Homem que é Homem também pode ter impactado na queda. A iniciativa busca promover a reflexão e responsabilização de homens autores de violência doméstica.
“Como a gente está lidando com um assunto que não é só de segurança pública, é importante que o homem agressor também esteja em programas, para ele refletir sobre o assunto. Porque nós precisamos de homens que estejam engajados nessa política e, ao mesmo tempo, sejam difusores dessa nova visão do mundo.”
Por fim, Damasceno ressalta que o uso de tornozeleiras eletrônicas pelos agressores e a disponibilidade de botões de pânico para as vítimas são medidas do Estado voltadas ao combate da violência de gênero.