Governado Renato Casagrande
Governador Renato Casagrande (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) do Espírito Santo divulgou os dados de homicídios e feminicídios do acumulado do ano. Os números mostram que houve uma queda significativa da violência e que o Estado caminha para fechar o ano com o menor número de assassinatos em quase três décadas.

De janeiro a outubro, foram registrados 651 homicídios – uma redução de 9,7% com relação ao mesmo período do ano passado (721) e o menor número da série histórica desde 1996.

Diferente de registros anteriores – em que os homicídios caíam e os feminicídios aumentavam –, o crime contra mulheres por questão de gênero também apresentou queda: foram 27 feminicídios nesse ano contra 33 no mesmo período de 2024 (-18,2%).

A coluna De Olho no Poder apurou que a meta do governo do Estado é fechar o ano com menos homicídios do que no ano passado, quando foram registrados 854 crimes. Alguns interlocutores da Sesp falam até em não atingir 800 mortes – o que é uma meta ousada, mas não impossível.

Durante o ano, o mês com o menor número de homicídios foi abril, com 54 crimes. Já o mais violento foi janeiro, com 79 assassinatos. Outubro registrou 77. Se novembro e dezembro registrarem 74 homicídios ou menos, o Espírito Santo fecha abaixo dos 800 assassinatos, o que seria uma marca histórica para o Estado.

O recado de Casagrande

O Governo do Estado creditou ao Estado Presente os números positivos com a redução da criminalidade.

O programa é o norteador das políticas de segurança pública do Estado. Tem como base o conceito de segurança cidadã, atuando na prevenção e no combate à criminalidade com ações multissetoriais.

Ele conta com investimento nas polícias e ações de repressão policial, mas também inclui projetos de inclusão social, educação e esporte em áreas vulneráveis, concomitantemente.

No próximo sábado (08), por exemplo, o programa Estado Presente estará em Itanguá, Cariacica, oferecendo cerca de 80 serviços à população, como atendimento médico e jurídico, além de entretenimento para as crianças.

“No Espírito Santo a gente faz segurança pública com planejamento, investimentos e tecnologia. Veja como prendemos o criminoso mais procurado do Estado sem dar nenhum tiro. A redução no número de homicídios neste ano mostra como nossas forças de segurança estão trabalhando da forma correta, se antecipando às ações e tirando das ruas pessoas perigosas. Vamos seguir investindo firme em segurança, mas também no social, porque o mais importante é não deixar o jovem entrar para o crime”, disse o governador Renato Casagrande (PSB).

A fala do governador exalta o programa, que é marca do seu governo, mas não só isso.

Embora não tenha citado nomes e nem circunstâncias, a leitura é que Casagrande tenha feito alusão também à operação policial mais letal da história do País e mandado um recado ao “Consórcio da Paz”.

No último dia 28, cerca de 2.500 policiais do Rio de Janeiro deflagaram a Operação Contenção, para cumprir mandados de prisão contra líderes do Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão. A ofensiva deixou ao menos 121 mortos – entre eles, quatro policiais – mas o principal líder da facção, conhecido como Doca ou Urso, conseguiu fugir.

Após a megaoperação, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), recebeu o apoio público de lideranças de seis estados – Celina Leão (PP), vice-governadora do Distrito Federal; Eduardo Riedel (PP), governador do Mato Grosso do Sul; Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União), governador de Goiás e Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.

Eles defenderam o sucesso da operação, anunciaram um consórcio para troca de informações e de integração das forças policiais. Em comum, está o fato de que todos fazem oposição ao Governo Federal, são de direita e extrema-direita e têm resistência à PEC da Segurança Pública, proposta pelo Ministério da Justiça.

Um dia após a operação, Casagrande destacou, num programa de TV nacional, que a violência extrema não poderia ser usada como parâmetro para medir o sucesso de uma operação e defendeu a ocupação permanente do estado nas comunidades.

“O mais importante não é a operação em si, mas a capacidade do estado de se manter presente nas comunidades. Só assim é possível impedir o retorno das facções e evitar que tragédias como essa se repitam”, avaliou o governador, na ocasião. Ele também citou a trajetória do Estado até atingir o patamar de queda nos índices de homicídios.

Vai pautar 2026

A segurança pública é um tema sensível para políticos e governos de esquerda, que têm o desafio de equilibrar o combate à violência com o respeito aos Direitos Humanos – bandeira tradicional do campo progressista.

Nesse contexto, os números de redução da criminalidade no Espírito Santo – único estado comandado por um governo de centro-esquerda nas regiões Sul e Sudeste do País – chamam a atenção. O desempenho oferece um contraste político relevante.

A tendência é que o assunto paute o debate eleitoral de 2026, uma vez que segurança pública segue entre as principais preocupações do eleitor brasileiro, e resultados concretos podem ter impacto direto na disputa.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.