
Presente no debate político nacional desde que deixou o governo do Estado, em 2018, o ex-governador Paulo Hartung (PSD) afirmou que não há ambiente político para pautar o projeto de lei da anistia, que teve a urgência aprovada na Câmara dos Deputados e também foi alvo de protestos no domingo passado.
Prioridade número 1 de deputados bolsonaristas, uma anistia geral e ampla aos presos e condenados pela trama golpista e pelos atos de 8 de janeiro, tem ficado cada vez mais distante depois que o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) foi escolhido para ser o relator da proposta.
Pra começar, ele já mudou o nome do projeto de lei – de PL da Anistia para PL da Dosimetria – e tem se reunido com bancadas partidárias e lideranças do Congresso na difícil missão de chegar a um ponto que seja comum e aceitável à maioria dos parlamentares – por ora, ainda não teve sucesso.
Para Hartung, o País está dividido com o tema e seria um erro tratá-lo da mesma forma que a PEC da Blindagem – enterrada no Senado após forte pressão popular. Porém, ele diz que o ambiente negativo criado com a PEC contaminou qualquer discussão sobre a anistia no momento.
“No assunto da PEC da Blindagem, acho que quase a totalidade do País é contra. No outro assunto, da anistia, o País está dividido. Na política, tem a questão do tempo, acho que esse ambiente criado com a PEC não é um ambiente bom para discutir nenhuma outra questão, como anistia ou alterações de pena, tem que dar um tempo nisso. São coisas diferentes. Não adianta forçar a barra e dizer que as coisas estão juntas, que as pessoas estão indignadas com as duas coisas no mesmo patamar, que não é verdade”, afirmou.
Questionado sobre qual seria sua posição sobre o tema, Hartung não revelou. Mas disse que é preciso buscar a pacificação do País.
“Esse é um subtema, tem um tema acima desse que é a pacificação do País, que tem que ser tratada na hora certa. Não é agora. Não tem momento para nada disso, tem que decantar as coisas e voltar com o País para a sua normalidade”, disse Hartung.
O ex-governador concedeu entrevista à coluna De Olho no Poder um dia antes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitar, por unanimidade, a PEC da Blindagem – proposta que, entre outros pontos, obrigava o STF a pedir autorização prévia ao Congresso para prender em flagrante ou processar deputados e senadores. Hartung afirmou que um debate como o da PEC só atrapalha o País.
“A PEC conseguiu desagradar o País, gerou um sentimento de indignação em relação ao Parlamento brasileiro. O que precisa rapidamente é extinguir um debate como esse que só atrapalha o Brasil e os brasileiros. Uma coisa que causou um grande mal-estar no País. Nessas manifestações juntaram pessoas de posições e pensamentos políticos dos mais diversos. Há um erro na cobertura das manifestações de dizer que pertence a um grupo político, não é verdade”.
Para Hartung o que tomou conta da população foi o sentimento de indignação. “Como um representante da população cria um dispositivo para cometer crime e não ser punido? É mais ou menos isso. Acho que a população explodiu com isso”, avaliou.
“Retrocesso”
Hartung criticou o tarifaço e a conduta adotada pelo presidente americano Donald Trump contra o Brasil, mas defendeu o diálogo e a diplomacia.
“O mundo do pós-guerra não foi um mundo de tarifaço, foi de buscar maior relação comercial entre os países, foi de buscar fortalecer atitudes multilaterais, foi aí que criou a ONU, a OMS, a OMC. O mundo do protecionismo foi superado no pós-guerra por uma busca de maior relação entre os países, entre os povos. Então, voltar com o protecionismo comercial, na minha opinião, é um retrocesso”, afirmou. E acrescentou:
“O que eu tenho defendido desde o tarifaço é que o governo brasileiro busque o diálogo e a diplomacia. Defendi que os empresários brasileiros fizessem contato com seus clientes nos Estados Unidos, nós temos muitos clientes e fornecedores lá. Tenho dito que tentar transformar esse momento em luta política eleitoral, não é um bom caminho. O Trump falou que vai ter uma reunião com o presidente Lula, minha esperança é que se estabeleça uma mesa de negociação e que supere esse momento que não é bom para o Brasil, não é bom para os americanos, não é bom para o mundo”.
Questionado se esse episódio poderia impactar nas eleições presidenciais do ano que vem, Hartung descartou:
“Acho que não porque está muito longe. As pessoas estão confundindo o Brasil com o Canadá. No Canadá, quando Trump tomou as decisões, estava no meio do processo eleitoral. No Brasil tem um equívoco de lideranças políticas precipitando o calendário eleitoral, é uma coisa meio inútil. Gasta-se muita energia, muito tempo, às vezes pior do que isso tudo, gasta recurso público, máquina pública pra fazer campanha eleitoral num ano que não tem eleição”.
Hartung também tratou sobre a política local e de forma bastante direta defendeu o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), ao governo do Estado, conforme noticiado pela coluna mais cedo.
LEIA TAMBÉM:
Sem entrelinhas, Hartung defende Pazolini ao governo do ES: “Boa alternativa”