Caiado em visita ao ES para participar de um evento (foto: Cloves Louzada)
Caiado em visita ao ES para participar de um evento (foto: Cloves Louzada)

Numa breve passagem pelo Espírito Santo, para participar do Fórum Liberdade e Democracia promovido pelo Instituto Líderes do Amanhã, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), não poupou palavras para elogiar o próprio governo, criticar Lula e pavimentar o solo capixaba para a disputa à Presidência da República.

Um dos primeiros a lançar o nome na corrida ao Planalto, Caiado chegou ao Estado com o “modo candidato” ligado no turbo, já anunciou a data em que deixa o governo de Goiás – 22 de março – e apontou para estratégias que adotará para se manter no jogo até o fim.

Em entrevista coletiva após o painel que participou ao lado do governador Renato Casagrande, Caiado também colocou suas ponderações com relação à federação entre seu partido, União Brasil, e o PP, citou a relação antiga que tem com o vice-governador Ricardo Ferraço, defendeu a anistia aos presos e condenados dos atos de 8 de janeiro e fez mistério sobre qual será a pauta da visita marcada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar.

Abaixo, os temas tratados pelo governador goiano em visita ao Estado.

Oposição à federação

Caiado é uma das principais lideranças do União Brasil e tem se posicionado contra a federação com o PP. Segundo ele, há o risco do seu partido perder lideranças. Nos bastidores, também é grande a chance de, após federado, o União não consolidar o nome de Caiado na disputa presidencial.

“Nós teremos que administrar os problemas que estão existindo em alguns estados para que não tenhamos perda de deputados no momento da janela, que autoriza mudança de partidos. Essa é a parte da minha preocupação”, afirmou.

Questionado se acredita na manutenção ou dissolução do “casamento” entre as legendas, respondeu que tem conversado com os dirigentes partidários. “Ontem, a conversa com o Rueda (presidente nacional do partido) e com o ACM Neto foi muito produtiva. Nós estaremos, cada vez mais, discutindo o assunto, avaliando e vendo realmente como é que nós vamos superar os impasses em alguns estados”.

Sobre a relação com o presidente nacional do PP, respondeu: “Faz tempo que não o vejo”. Nos bastidores, os dois teriam se estranhado.

Posição do UB no ES e relação com Ferraço

Por ser uma voz influente dentro do União Brasil, Caiado também foi questionado sobre qual rumo defendia que o partido seguisse com relação à eleição capixaba: permanência no projeto Casagrande ou ruptura e aliança com a oposição, leia-se, prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos)?

Caiando respondeu que tinha dificuldades em opinar nas articulações de outros estados, mas citou a ligação que tem com Ricardo Ferraço, desde o Congresso. “As pessoas sabem da minha ligação que vem de longa data, ele foi deputado, senador comigo, que é o vice-governador Ferraço. Agora, esse assunto político será discutido na alçada política”.

Mistério em visita a Bolsonaro

Nessa semana, Bolsonaro solicitou ao ministro do STF Alexandre de Moraes autorização para receber a visita de Caiado. Questionado sobre qual seria o teor da visita, o governador fez mistério:

“Não posso contar. Eu ainda vou conversar com ele, como eu vou falar? Seria uma descortesia da minha parte”.

Apoio à megaoperação no Rio de Janeiro: “Referência”

Logo que a megaoperação Contenção, no Rio de Janeiro, contra líderes da facção Comando Vermelho, foi deflagrada, Caiado foi um dos primeiros a parabenizar o governador carioca, Cláudio Castro. A operação deixou 121 mortos – sendo quatro policiais.

“Eu, com a minha experiência, nunca vi uma operação com tamanha capacidade e inteligência quanto aquela. Não teve um civil acidentado, e teve um enfrentamento com as pessoas mais bem treinadas e com maior calibre de armamento, que nem a polícia tinha, como drone para lançar granada. Então, é uma operação que passou a ser referência para nós no Brasil em termos de eficiência da inteligência e da área operacional”, disse Caiado.

“Irmãos siameses do crime”

Ao falar sobre a possibilidade do tema da segurança pública dominar o debate eleitoral em 2026, Caiado disse que o PT tem dificuldades de discutir sobre o problema e passou a tecer críticas ao partido e ao governo Lula.

“Porque eles são irmãos siameses do crime, eles convivem com as facções, faz parte. Você vê que o Lula sobe no Morro do Alemão. Eu não subo, você não sobe. Então, essa convivência é algo intrínseco deles. Um apoia o outro para que todos possam continuar. E é isso que nós queremos romper no Brasil. Não dá mais”.

Casagrande e Caiado durante evento (foto: Arthur Louzada)

Governador quer ser chamado na CPI

Caiado não está na lista dos 11 governadores convidados pela CPI do Crime Organizado, recém-instalada no Senado. Mas, ele quer falar no colegiado. O senador goiano Jorge Kajuru (PSB), que é membro titular da comissão, apresentou um requerimento, que ainda será votado, convidando o governador.

Questionado sobre a análise que faz do colegiado, principalmente por ser presidido por um senador capixaba e petista, Caiado não polemizou, mas disse que quer debater.

“Eu vou debater com eles. Espero que aprovem o meu requerimento, que o senador Kajuru apresentou, porque eu quero ir lá falar nessa CPI. Quero falar como eu recebi e o que Goiás é hoje. Sou um exemplo de estado que tinha as quatro cidades mais violentas do Brasil e hoje é o estado mais seguro do Brasil”, defendeu.

E voltou a criticar o PT:

“Eu quero aprofundar muito nessa tecla de que essa complacência do governo federal, do PT, com o crime, é que fez com que ele chegasse a essa expansão no Brasil. É o meio de cultura. Se você tem uma bactéria junto de um campo de sangue ela tem um poder de proliferar muito grande. Se você limpa a ferida, a bactéria não prolifera. O PT é um habitat normal para o crescimento da criminalidade. O Comando Vermelho e o PCC estão classificadas entre as quatro maiores do mundo. Se tivesse a austeridade que tem no meu estado, não iria existir mais”.

Por que quer chegar à Presidência da República?

Dos nomes já colocados para disputar o Planalto, Caiado foi um dos primeiros a se apresentar para o jogo. Questionado sobre o motivo de querer chegar à Presidência da República, respondeu com críticas ao governo federal:

“Tenho uma vida na política de 40 anos. Eu identifico o problema do Brasil como sendo um problema moral. É um país governado por cinco mandatos do PT e só se viu crescer no Brasil a pobreza, as facções, taxa de juros e inflação. Você não vê o Brasil melhorar em nenhum outro parâmetro, que não seja a agropecuária, que é iniciativa nossa”, afirmou.

Como já tinha feito na palestra momentos antes, Caiado apontou para o próprio governo, elogiando a gestão em Goiás e comparando com a do governo Lula.

“Vocês fazem pesquisa e a pesquisa mostra que a violência e a corrupção são os dois fatores que hoje mais preocupam o brasileiro. Você vai no meu estado, a lei é a mesma, a Constituição é a mesma, mas é um estado em que você vive com a maior tranquilidade do mundo. Então, o problema moral é um divisor de águas na eleição em 2026. Quem quiser seguir o rumo da Venezuela com o Lula, vote nele. Quem quiser ver o Brasil desenvolvido com segurança, com liberdade e com crescimento econômico, vote na gente”.

A estratégia

Assim como Caiado, outros nomes do mesmo campo político – centro-direita e direita e da oposição – também já se colocam no jogo para a disputa do Planalto em 2026. Entre eles, estão os governadores de São Paulo, Tarcísio (Republicanos); de Minas, Romeu Zema (Novo); do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD).

Perguntado se a pulverização de pré-candidaturas do mesmo campo não prejudicaria sua pré-campanha e futura candidatura, Caiado negou e revelou qual tem sido a estratégia da oposição:

“Não, quanto mais melhor. Para aguentar a máquina irresponsável do PT e do Lula, se você colocar um só para sofrer todos os ataques montados pelo governo, é difícil da pessoa sobreviver. O governo não tem escrúpulo, está cada vez mais jogando um jogo mais sujo, cortando verba nos estados, criando factoides, perseguindo de forma clara”, afirmou.

“Então, se você tem apenas um candidato, ele sofrerá muito durante esses 11 meses. Se você tem mais, um toma um tiro no braço, o outro um tiro na clavícula, outro um tiro na perna e a gente vai passando, e o que chegar ao segundo turno, só tem 21 dias, ganhou a eleição”, acrescentou Caiado, afirmando que no segundo turno, a tendência é que todos se unam contra Lula.

Busca pelo apoio de Bolsonaro

Caiado não quis revelar o teor da conversa que terá com Bolsonaro, mas não nega que quer o apoio do ex-presidente em sua empreitada de disputar o Palácio do Planalto.

“Lógico, qualquer um quer o apoio. Mas eu não vou, em hora nenhuma, constrangê-lo. Ele tem o direito, com o espólio que ele construiu, de decidir quem deve ser o candidato dele. Eu o apoiei em 2018, em 2022. Então, ele vai decidir quem deve apoiar ou se vai lançar alguém da família dele”.

O governador goiano disse, porém, que sua candidatura independe do apoio do ex-presidente.

“Minha candidatura eu coloquei há muito tempo. Até porque isso foi uma conversa em São Paulo. O ex-presidente disse: ‘Olha, eu sou candidato a presidente e vocês toquem também a candidatura de vocês’. Então, isso foi dito por ele, não tem o menor constrangimento. Eu serei candidato, é uma decisão já de vida. A experiência que eu tenho de cinco mandatos, de deputado federal, senador, mais dois mandatos de governador, nos resultados que eu obtive e no capital moral que eu tenho, posso dizer para o Brasil o que um jovem deseja no País, o que um pai deseja para um filho. Esse é o divisor”.

“Anistia a todos”

Caiado também foi perguntado sobre o posicionamento com relação aos presos e condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ele disse que, assim que “chegar ao governo”, vai anistiar a todos.

“O primeiro dia, assim que eu chegar ao governo, vou parar, vou anistiar todo mundo e falar: ‘Agora eu vou trabalhar’. Três anos que esse governo está falando de anistia e não trabalha, não faz nada e fica só criando esse factoide para desviar a atenção da população”.

Perguntado se o indulto seria também para Bolsonaro, Caiado afirmou, com veemência: “Para todos, todos”.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.