Política

Após abertura do processo de impeachment, mercado financeiro aposta em nervosismo

Embora a presidente enfrente hoje resistência do mercado, a falta de perspectivas concretas sobre o desfecho do processo no Congresso Nacional deve causar turbulências

Após abertura do processo de impeachment, mercado financeiro aposta em nervosismo Após abertura do processo de impeachment, mercado financeiro aposta em nervosismo Após abertura do processo de impeachment, mercado financeiro aposta em nervosismo Após abertura do processo de impeachment, mercado financeiro aposta em nervosismo
Os investidores esperam uma decisão do Congresso Nacional Foto: Divulgação

São Paulo – A expectativa no mercado financeiro diante da abertura processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff é de uma reação nervosa dos investidores no curto prazo. Embora a presidente enfrente hoje resistência do mercado, que avalia negativamente a condução da economia, a falta de perspectivas concretas sobre o desfecho do processo no Congresso Nacional é um componente que, na opinião de especialistas, deve causar turbulências.

A leitura é que os investidores estrangeiros se mantenham em “stand by” até que o cenário de consolide para um dos lados. “A crise é mais política do que econômica. É preciso restabelecer o longo prazo no Brasil, e isso é a política que estabelece”, avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

“As dúvidas sobre um eventual próximo governo podem levar a uma alta do dólar e queda da bolsa em um primeiro momento, mas a leitura do mercado deve ser positiva no médio prazo”, conclui Perfeito.

A opinião do ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e atual sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, é semelhante. “Vai ser um dia negativo para o mercado. O dólar deve abrir para cima”, afirmou o economista.

Perguntado se a saída da presidente Dilma restabeleceria a confiança do mercado, tomando como verdade que a crise brasileira é mais de caráter político que econômico, o ex-diretor do BC disse que a crise de confiança é em relação à presidente.

‘Sangrando’

Para Roberto Luis Troster, doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), independentemente da decisão final, para um lado ou para o outro, o fim da indefinição será um fator positiva.

“Estamos sangrando desde o começo do ano. Não é uma questão de tirar o presidente da República. É a questão de se definir qual é a política econômica. A decisão do impeachment pode acabar com este impasse, onde de se tem uma política que, de um lado se gasta com a compra de aviões supersônicos da Suécia, e do outro se quer criar mais impostos”, afirmou.

Perfeito ressalta, porém, que a consolidação de um cenário de queda da presidente também viria cercada de dúvidas. “O mercado não sabe ainda quem é o interlocutor econômico do PMDB e qual o projeto no caso de assumir o Temer”.

Na noite de ontem, ao deixar o Ministério da Fazenda, Joaquim Levy evitou comentar o pedido de abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Esse não é um tema econômico”, disse, ao ser questionado por jornalistas sobre o assunto.

A reação inicial dos ativos brasileiros negociados em Nova York após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deflagrar o pedido de impeachment de Dilma foi positiva. O maior fundo de índice relacionado ao país, ou ETF (na sigla em inglês), conhecido como EWZ e com patrimônio de US$ 1,7 bilhão, operava em alta de 0,11% no after market no final da noite.

Outro fundo de índice ligado ao Brasil, o Direxion Daily Brazil Bull 3X Shares, subia 0,68%. Entre os American Depositary Receipts (ADRs), que representam recibos de ações de companhias brasileiras e são listados nas bolsas em Nova York, o papel da Petrobras subia 1,61%. A ação do Banco do Brasil ganhava 1,67% e a da Eletrobras tinha alta de 7%. No setor privado, o papel da mineradora Vale subia 0,31%.

Economia real

Para o chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor de Política Monetária do BC, Carlos Thadeu de Freitas, a economia real será mais afetada com a decisão do presidente da Câmara.

Segundo ele, o mercado financeiro já havia colocado nos preços a possibilidade de, em algum momento, Cunha acatar pelo menos um dos vários pedidos de impeachment que chegaram às suas mãos. “O mercado já havia precificado esta possibilidade, a taxa de juros neste patamar tem permitido a entrada de dólares no País mesmo com a situação econômica e, agora, pesa a favor a aprovação da meta fiscal”, disse o ex-diretor do BC.

Segundo Freitas, no entanto, a incerteza tende a aumentar na economia real, porque o empresário não sabe como, numa eventual saída de Dilma, será o comportamento do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) com relação aos juros.

“Temer, caso venha a assumir a Presidência, não deve fazer grandes alterações na área fiscal, por exemplo. Mas com relação a juros, não se sabe como ele pensa. Então, o empresário que estava começando a pensar em investir poderá desistir. O consumidor, mesmo com a chegada do Natal, também pode desistir de comprar”, afirmou.

Para o presidente do Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto, o problema não é a saída ou não de Dilma, mas a falta de um direcionamento no País e um impasse político que tem travado os investimentos.

“O que tiver de acontecer, que seja rápido para reverter o momento de impasse”, afirmou. “O sentimento de indefinição política está prejudicando o País, travando os investimentos e a economia.” Colaboraram Valmar Hupsel Filho, Altamiro Silva Júnior e Lucas Hirata. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.