Política

Após oferecer recompensa por crime, deputado será investigado pela Corregedoria da Ales

Assumção disse que pagaria do próprio bolso uma recompensa de R$ 10 mil para quem matasse o responsável pelo assassinato de uma jovem, em Cariacica

Após oferecer recompensa por crime, deputado será investigado pela Corregedoria da Ales Após oferecer recompensa por crime, deputado será investigado pela Corregedoria da Ales Após oferecer recompensa por crime, deputado será investigado pela Corregedoria da Ales Após oferecer recompensa por crime, deputado será investigado pela Corregedoria da Ales
Foto: Tati Beling/Assembleia ES

A Procuradoria da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) solicitou, na tarde desta quinta-feira (12), que a Corregedoria-Geral da Casa apure uma eventual quebra do decoro parlamentar por parte do deputado Capitão Assumção (PSL).

Em discurso durante a sessão ordinária da última quarta-feira (11), Assumção disse que pagaria do próprio bolso uma recompensa de R$ 10 mil para quem matasse o responsável pelo assassinato da jovem Maiara de Oliveira, de 26 anos, morta na frente da filha de 4 anos, em Cariacica.

A Assembleia Legislativa ressaltou ainda, por meio de nota, que respeita a liberdade de expressão de seus parlamentares, todavia está atenta ao cumprimento das leis federais e estaduais e ao que determina o regimento da Casa.

O presidente da Casa, deputado Erick Musso (PRB), também emitiu uma nota sobre o episódio, na qual posicionou-se contra a declaração do Capitão Assumção. “Tenho o maior respeito pela liberdade de opinião. Embora considere que as políticas públicas de segurança são insuficientes, o que provoca revolta em grande parte da população, não podemos nos esquecer de que a pena de morte é vedada pela Constituição Federal. O devido processo legal é um direito de todas as pessoas, e responsáveis por crimes devem ser punidos com o rigor da lei”, destacou Musso, na nota.

Em contato por telefone com a reportagem do Folha Vitória, Capitão Assumção disse que respeita a atuação da Ales para apuração do caso, mas reafirmou o que disse durante seu discurso em plenário.

“Não estava sabendo disso [do pedido de abertura da investigação por quebra de decoro]. Mas é o papel institucional da Assembleia. Tenho uma atuação em cima da imunidade parlamentar e represento a voz de muitos capixabas insatisfeitos com a impunidade aos bandidos. Não foi a primeira vez e nem será a última que farei um discurso forte contra a bandidagem”, declarou o deputado.

Imunidade Parlamentar e quebra de decoro

De acordo com o artigo 53 da Constituição Federal, “os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Porém, conforme o artigo 294 do Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o discurso do parlamentar pode configurar quebra de decoro.

“O uso de expressões em discursos ou em preposições, ou a prática de ato que afete a dignidade alheia, desde que configurados crimes contra a honra ou contenham incitação à prática de crimes, consideram-se atentatórios contra o decoro parlamentar”, diz o artigo.

O discurso

O discurso de Capitão Assumção no plenário da assembleia foi transmitido pela TV Ales. Fardado e em tom ríspido, o deputado disse oferecer R$ 10 mil para quem matasse o responsável pelo assassinato de Maiara de Oliveira. O parlamentar frisou ainda que não bastaria mostrar a localização do suspeito morto, mas que a pessoa teria que levar o cadáver até ele para receber a recompensa.

VÍDEO

“Quero ver quem vai correr atrás para prender esse vagabundo. (Eu tenho) R$ 10 mil reais aqui do meu bolso pra quem mandar matar esse vagabundo. Isso não merece tá vivo não. […] Não vale dar onde ele está localizado não. Tem que entregar o cara morto, aí eu pago”, disse.

Na mesma fala, que ocorreu durante a discussão do projeto de criação do novo fundo penitenciário no Espírito Santo, o deputado Capitão Assumção reclamou do que chamou de benefícios para os presidiários. “Vagabundo, que tira a vida de inocente e vai lá (para o presídio) ser beneficiado? Nos temos que tomar vergonha na cara e parar com esse discurso de que preso é gente boa. Preso foi lá porque ele fez maldade contra o cidadão. Essas desgraças não podem estar vivo. É um custo alto para o cidadão”, completou.

OAB

A diretora de Direitos Humanos da OAB-ES, Flávia Brandão, por meio de nota, afirmou que considera um grave retrocesso a posição do deputado Capitão Assumção.

“A história da civilização mostra que não é com violência que se combate violência. De um representante do Poder Legislativo espera-se mais responsabilidade, e não o incentivo à barbárie. Esse deputado deve primeiramente respeitar as leis e a Justiça, além de trabalhar para aprimorar os mecanismos de segurança pública existentes.”

Sesp

Diante do fato do deputado ser capitão aposentado da PM e estar fardado durante o discurso, a Sesp foi procurada pela produção da TV Vitória/Record TV. Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que defende o trabalho policial sob o ponto de vista técnico e embasado pela legislação.

“A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informa que o caso [do assassinato de Maiara de Oliveira] já está sob investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM) da Polícia Civil. A Sesp defende o trabalho policial sob o ponto de vista técnico e embasado pela legislação. Os agentes policiais militares e civis do Espírito Santo são treinados para atingir os objetivos de redução de criminalidade e a Secretaria ressalta que espera apresentar, o quanto antes, a prisão dos autores desse crime bárbaro e covarde”.