Palácio Anchieta
Palácio Anchieta

O ano que antecede uma eleição tem sempre como característica o movimento silencioso das peças no tabuleiro. É o tempo da gestação, das reuniões a portas fechadas e das conversas ao pé de ouvido, sem muito alarde, para não queimar a largada e colocar tudo a perder.

Porém, não foi isso que se viu no cenário político capixaba ao longo 2025. Ainda no início do ano, o processo eleitoral foi startado – na opinião da coluna, de forma precoce.

O silêncio deu lugar a anúncios – alguns causaram muitos ruídos –, alianças foram antecipadas e muitas lideranças se viram pressionadas a entrar no jogo para não ficar para trás, atropelando, assim, o calendário eleitoral de 2026.

Pré-candidatos rodaram o Estado como se já estivessem em campanha, discursos foram calibrados mirando mais o eleitor do que o cidadão e embates foram travados com futuros adversários do próximo pleito.

O ano de 2025 foi tudo, menos morno na política capixaba. E essa antecipação, essa ansiedade eleitoral criou um cenário atípico: chega-se ao final de dezembro de 2025 com a sensação de que já estamos num segundo turno de uma eleição frenética e imprevisível.

Mas, apesar de toda agitação eleitoral de 2025, de toda movimentação no tabuleiro, muitas questões-chave ficaram para ser definidas em 2026. Questões essas que podem mudar totalmente o jogo e impactar no resultado das urnas em outubro.

1 – Efeito dominó: Casagrande renunciará para disputar o Senado?

Renato Casagrande no BUY ES
O governador Renato Casagrande no evento BUY ES. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Se dependesse do PSB e da base aliada, o governador Renato Casagrande (PSB) já teria seu destino certo: renunciaria ao governo do Estado em abril para disputar uma das duas vagas ao Senado que estarão em jogo.

Levantamentos internos mostrariam que Casagrande, hoje, tem grande chance de ser eleito, mas o cálculo do governador vai além de sua performance em pesquisas de intenção de votos.

Casagrande avalia também se conseguirá eleger seu sucessor, o vice Ricardo Ferraço (MDB), e se sua saída do governo para cuidar de uma candidatura própria poderia atrapalhar o projeto que hoje é considerado prioridade: a continuidade do grupo político no comando do Palácio Anchieta.

Questionado pela coluna De Olho no Poder sobre para que lado estaria mais inclinado, Casagrande disse que ser candidato ou não estariam no mesmo patamar.

Ele adiou para março a decisão que pode mexer no tabuleiro eleitoral por completo. Se renuncia, Ricardo vira governador e disputa 2026 na condição de que, se vencer, não poderá tentar a reeleição em 2030 – o que abre caminho e acaba atraindo mais aliados.

Se Casagrande continua no governo e não disputa o Senado, abre um campo imenso na base e na oposição para a disputa das duas cadeiras majoritárias. Seja qual for a decisão, o impacto será relevante e para todos os lados.

2 – Tudo ou nada: Arnaldinho vai concorrer mesmo sem apoio do Governo?

O prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo
Arnaldinho (Foto: Adessandro Reis /PMVV)

Quem caminha ao lado do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (PSDB), tem uma certeza: o jovem prefeito está determinado a disputar o governo do Estado. Com ou sem apoio do Palácio Anchieta, de quem é aliado.

Ele tem dito que tem compromisso em apoiar Casagrande ao Senado. E que deve brigar até o fim para ser apoiado pela base aliada na disputa ao governo.

Arnaldinho tem batido na tecla de que o capixaba quer uma mudança geracional à frente do Estado e vai tentar convencer o governo disso – embora Casagrande já tenha dito que o nome de Ricardo é “irreversível”.

Até o início de abril, o prefeito deve calcular os custos de seguir com o projeto. Ele tem o comando do PSDB, mas ninguém vai para uma eleição majoritária sozinho.

O prefeito precisa de um grupo forte, com outros partidos de médio porte, para montar uma coligação. A questão é que muitas legendas já estão comprometidas com outros projetos.

Fora isso, pesa sobre seus ombros o compromisso que fez com o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, de montar chapas estadual e federal robustas para a eleição. Uma tarefa difícil até para os dirigentes mais experientes.

Sem contar que, para disputar, Arnaldinho precisará renunciar ao cargo de prefeito e aceitar correr o risco de ficar sem mandato por pelo menos dois anos, caso não seja eleito governador.

3 – O desafiante: Pazolini deixará o comando da Capital para disputar o Palácio Anchieta?

Pazolini

O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), ainda não anunciou publicamente sua pré-candidatura ao governo do Estado, mas, no mercado político, ele já é considerado o principal adversário do grupo de Casagrande na disputa pelo Palácio Anchieta.

Assim como Arnaldinho, se decidir disputar, Pazolini também terá que renunciar ao posto de prefeito da Capital do Estado até abril. Mas, diferente do canela-verde, Pazolini tem aglutinado em torno de si um grupo que lhe dá sustentação para a disputa.

A começar pelo “padrinho” político, o ex-governador Paulo Hartung (PSD), que é um dos maiores incentivadores de sua candidatura e tem atuado na atração de lideranças para o grupo.

Pazolini também integra um partido de médio porte, estável e com estrutura para bancar e tornar competitiva uma campanha majoritária. O presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, também tem atuado abrindo caminhos no interior do Estado, para dar visibilidade ao prefeito.

Fora isso, o grupo conversa bem com os partidos Novo, PSD e PL, o que pode, lá na frente, resultar numa coligação.

É claro que, também será pesado na balança, o custo de ter que abrir mão do comando da Prefeitura de Vitória – hoje, a única trincheira de oposição a Casagrande na Grande Vitória.

Não há indícios, até o momento, de que a vice-prefeita, Cris Samorini (PP), assumirá a mesma postura de Pazolini com relação ao governo do Estado estando à frente da Capital.

4 – Espólio bolsonarista: Qual será o rumo do PL?

Os senadores Flávio Bolsonaro e Magno Malta no aeroporto de Vitória. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
Os senadores Flávio Bolsonaro e Magno Malta no aeroporto de Vitória. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O Partido Liberal (PL), legenda que carrega o legado do ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda não tinha tratado sobre a possibilidade de ter um candidato próprio ao governo do Estado no ano que vem.

O debate da legenda estava em formar as chapas federal e estadual e investir na candidatura de Maguinha Malta – filha do senador Magno Malta, presidente estadual do PL – ao Senado.

Porém, a indicação do senador Flávio Bolsonaro para a disputa presidencial está levando o tema para a mesa de debates do partido capixaba e por uma única razão: se a candidatura de Flávio vingar, ele vai precisar de palanques nos estados para fazer campanha e defender o pai – uma de suas principais bandeiras.

Mesmo num estado com muita adesão ao bolsonarismo, como o Espírito Santo, dificilmente Flávio teria espaço em outro palanque que não o do PL.

Apenas para citar um exemplo, o Republicanos, que tem tentado atrair o PL para uma coligação, já tem um presidenciável – que é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

E, pelo histórico de eleições do PL no Estado, é mais provável que caminhe sozinho, numa chapa puro-sangue, do que entrar num grupo onde não possa ser cabeça.

A questão é: quem irá assumir o posto de candidato ao governo pelo PL? Nomes ainda não foram citados pelo partido. E a legenda irá bancar duas candidaturas majoritárias (Senado e Governo)?

Um dos motivos do afastamento do ex-deputado Carlos Manato do PL foi justamente o apoio financeiro – ou a falta dele – à sua candidatura ao governo do Estado em 2022.

5 – Ideologia x Pragmatismo: PT vai manter candidatura de Helder até o fim?

Helder Salomão discursa em Encontro Estadual do PT (foto: Rodrigo Gavini)

A militância pediu e a direção nacional aprovou: o PT vai ter uma candidatura própria ao governo do Espírito Santo no ano que vem. E o nome escolhido é o do deputado federal Helder Salomão.

A candidatura visa fortalecer as chapas federal e estadual e ter um palanque no Estado para defender a reeleição de Lula à Presidência da República.

Hoje, o PT faz parte da base aliada e da gestão Casagrande. Mas não terá espaço no palanque do candidato do governo – Ricardo Ferraço – para defender seus quadros e projetos.

A questão é que o nome escolhido para a missão é justamente o deputado mais votado da bancada capixaba. Helder recebeu 120.337 votos em 2022 e a avaliação interna do PT é que ele não teria dificuldades em se reeleger.

Outro ponto é a geopolítica nacional. Em 2022, o PT também tentou ter um candidato ao governo – na ocasião, seria o senador Fabiano Contarato o candidato –, mas num acordo com o PSB, a candidatura foi retirada para não dividir os votos de Casagrande, que concorria à reeleição.

Nada impede que as costuras nacionais impactem no Estado novamente, uma vez que a prioridade do PT nacional é eleger o maior número de senadores – a reeleição de Contarato é ponto inegociável – e reeleger Lula. Eleger governadores está em segundo plano.

6 – Fiéis da balança: Em que palanque estarão PP e PSD?

Josias da Vitória na Câmara Federal

Muitos partidos já definiram de que lado caminharão. Quem não terá candidatura própria, já costurou com algum pré-candidato, deixando para o período das convenções apenas o registro oficial.

Porém, esse não é o caso do PP e do PSD, dois partidos de peso que ainda não definiram em que palanque estarão nas eleições de outubro.

O PP, que está de casamento marcado com o União Brasil para a formação da federação União Progressista, faz parte da base aliada de Casagrande. Tem indicação de secretário no primeiro escalão e vota com o governo na Assembleia.

Entretanto, o partido também faz parte da base do prefeito Pazolini, tendo a vice Cris Samorini, que também é secretária de Desenvolvimento de Vitória. Além de outros nomes indicados na gestão.

O presidente do partido, deputado federal Josias da Vitória – que também será o presidente da federação, quando esta estiver formada – tem interesse de disputar o Senado e preferência por caminhar junto ao governador. Mas, ao que tudo indica, a decisão final deve passar pela Nacional.

Renzo e Lívia Vasconcelos com Kassab

Já o PSD, desde a eleição de 2024, tem caminhado ao lado do Republicanos e abriga o ex-governador Paulo Hartung – adversário político de Casagrande.

O partido não integra a base do governo do Estado mas, nos últimos dias, tem se aproximado da gestão principalmente por conta das demandas de Colatina. Renzo Vasconcelos, que lidera o PSD capixaba, é prefeito do município e tem se reunido constantemente com a cúpula do Palácio Anchieta.

Em conversa com a coluna, Renzo disse ter autonomia sobre o comando do partido e que pode apoiar tanto um lado quanto o outro. Porém, dificilmente essa decisão escapará do crivo do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.

O apoio desses dois partidos pode fazer a diferença na campanha, inclusive mudando a posição de alguns players no jogo.

7 – Incógnita: Paulo Hartung voltará à cena política capixaba?

Paulo Hartung (foto: Ascom/PH)

Depois de quase sete anos sem filiação partidária, o ex-governador Paulo Hartung acertou sua entrada no PSD, o que gerou no mercado político a especulação de que ele voltaria a concorrer pelo Estado.

Hartung tem dado sinais de que tentar ser novamente governador ou senador não faz parte do seu projeto. Pelo contrário, ele tem incentivado novos nomes a concorrer, defendendo uma oxigenação na política.

Publicamente, porém, ele não descartou a possibilidade e os dirigentes do PSD mantêm a porta aberta, dependendo apenas da vontade do ex-governador.

Em entrevista à coluna, Renzo afirmou ter compromisso com Kassab de dar legenda a Hartung para que ele possa disputar o que quiser pelo Estado. Kassab faz coro e, sempre que pode, exalta as qualidades de Hartung, sugerindo um retorno do ex-governador à cena política capixaba.

Aliados de Hartung acreditam que uma circunstância poderia levá-lo de volta ao jogo: se Pazolini decidir não disputar. Essa decisão, porém, deve ficar para abril.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.