Um dilema político-partidário está diante do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB). Dono de um capital político importante que o proporcionou ser reeleito no 1º turno com 88,4% dos votos, Euclério precisa definir qual será o seu abrigo partidário para os próximos anos, mais precisamente, para as eleições de 2026.
No ano que vem, Euclério pode ou não ser candidato. Embora esteja no 1º ano do seu segundo mandato à frente de Cariacica – pouco mais de seis meses que enfrentou as urnas –, o prefeito tem o nome cotado como opção num “plano B” para a sucessão do governador Renato Casagrande (PSB), de quem é aliado.
O “plano A” é o vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB), a quem Euclério já declarou apoio. Mesmo que não seja o escolhido para defender o legado de Casagrande, Euclério vai participar ativamente do processo eleitoral – inclusive ele já tem demonstrado estar com um pé na pré-campanha pelos discursos que têm feito nos eventos oficiais.
Em mais de uma ocasião, Euclério defendeu a continuidade do governo Casagrande e pregou, em tom alarmante, ser arriscado uma mudança no comando do Palácio Anchieta no ano que vem.
“Eu tenho posição. Está dando certo, o Espírito Santo nunca foi tão bem como na gestão de Renato. Aí vai arriscar colocar algumas pessoas que têm restrição a outras?”, repetiu Euclério à coluna De Olho no Poder nesta segunda-feira (12).
À medida que o ano eleitoral se aproxima, o prefeito tende a aumentar sua atuação no processo, e até para ter liberdade para defender o que acredita, ele precisa estar num partido que lhe dê espaço para isso. E é aí que mora o problema.
Balde de água fria com a federação “União Progressista”
Hoje, Euclério está no MDB. Ele se filiou ao partido em 2023, pelas mãos de Ricardo Ferraço que, por sua vez, assumiu a legenda para pacificá-la e “ressuscitá-la” após um período de brigas internas pelo comando, desempenho ruim eleitoral e esvaziamento.
Tudo seguia bem até que em janeiro foi a vez de Euclério ser convocado para atuar como bombeiro em uma outra sigla. Ele estava internado, para um transplante de rim, quando foi convidado para migrar para o União Brasil e presidi-lo no Estado.
Também vindo numa trajetória ruim, o União estava sendo disputado pelo atual presidente, Felipe Rigoni – que é secretário estadual de Meio Ambiente –, e pelo presidente da Assembleia, Marcelo Santos.
Euclério aceitou a missão. E, do hospital mesmo, já começou a fazer planos e convites para aliados se juntarem a ele na nova legenda. O prefeito estava empolgado com a possibilidade de comandar um partido de médio porte como o União Brasil.
A empolgação, porém, deu uma esfriada com o anúncio da federação entre o União e o PP. Isso porque já está definido que, no Estado, pelo critério do número de deputados federais, quem ficará com o comando da federação será o PP, leia-se, o presidente do Progressista, deputado federal Josias da Vitória.
Euclério pode até virar o presidente do União, mas com o partido federado, as decisões sobre coligações, candidaturas, chapas prioritárias serão do presidente da federação.
O prefeito, então, colocou um pé no freio e a filiação, que estava marcada para depois do Carnaval, ainda não ocorreu.
“Estou esperando a resposta do Rueda (presidente nacional do União Brasil). Ele assumiu um compromisso comigo e quero que ele diga sim ou não. Mas eu não tenho pressa, está cedo ainda. Por enquanto eu continuo no MDB”, disse Euclério, sem dar detalhes sobre o tal compromisso.
A questão é que permanecer no MDB também pode vir a ser um problema para Euclério.
Saia-justa com a federação MDB-Republicanos
Na semana passada, o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, publicou em seu perfil do Instagram o segundo encontro que teve com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, sobre a possibilidade de uma federação entre os dois partidos.
“Voltei a me reunir com o colega Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, para dar continuidade às conversas sobre uma possível federação entre o Republicanos e o partido que ele lidera. Este é o nosso segundo encontro, não por acaso, mas porque compartilhamos propostas importantes para o Brasil e uma visão comum de compromisso com a boa política”, escreveu Pereira.
Após o anúncio da federação “União Progressista” (PP + União Brasil), que criará a maior bancada da Câmara Federal, muitos partidos de médio porte se viram pressionados a buscarem uma saída para continuarem tendo voz e influência no Congresso.
Entretanto, no Estado, Republicanos e MDB estão em lados opostos, conforme noticiou a coluna na semana passada. E não só isso.
Os dois partidos têm, em comum, o mesmo projeto: querem eleger o próximo governador. O MDB aposta em Ricardo Ferraço, e o Republicanos, em Pazolini.
Se for adotado o mesmo critério do “União Progressista” nos estados, o comando da federação MDB-Republicanos no Espírito Santo ficará com o Republicanos – isso porque a legenda tem dois deputados federais e o MDB não tem nenhum.
Euclério tem um bom relacionamento com Erick Musso, presidente estadual do Republicanos. Os dois foram deputados juntos. Mas, sob o comando do Republicanos, como Euclério conseguirá fazer sua campanha pró-governo, pró-Ricardo, pró-ele mesmo para a disputa do Palácio Anchieta?
Se a federação vingar e a presidência couber ao Republicanos, o mais provável é que não só Euclério, mas o próprio presidente da legenda, Ricardo Ferraço, deixem a sigla.
E aí se cria outro problema: para onde iria Euclério? De perfil mais conservador, Euclério dificilmente entraria numa legenda mais liberal ou de espectro mais à esquerda. Ele precisa de um partido de direita, com uma certa estrutura, que faça parte da base aliada do governador e que lhe dê espaço para ter voz ativa. Mas, qual?
Questionado pela coluna sobre o que faria nessas condições, Euclério preferiu a cautela. “Vamos esperar acontecer, não estou morrendo mais por antecipação”.
Euclério não fez menção, mas deve contar com a costura do governo para encontrar um novo abrigo ou ajustar aquilo que já estava no radar. A definição, porém, precisa ser logo porque embora a eleição seja apenas no ano que vem, as articulações do jogo já começaram e quem não se antecipar vai ficar para trás.
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